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Produção automóvel nacional a caminho de ano histórico mas tem futuro em risco

Parece um contrassenso: a produção automóvel nacional promete ter um ano recorde, mas há limitações que colocam o futuro em risco.

Linha de produção da Volkswagen T-Roc na Autoeuropa
© Volkswagen

Depois de um 2022 muito forte, a produção automóvel nacional caminha para um ano recorde. A manter-se a tendência, este pode ser o melhor ano de sempre, superando o registo de 2019, fixado nos 345 688 veículos.

Só na primeira metade deste ano, de acordo com os números mais recentes da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), foram produzidos em Portugal (até junho) 183 154 veículos, o que equivale, em termos homólogos, a um aumento de 16,6% face a 2022.

Para isso muito contribui o bom rendimento das cinco fábricas instaladas em solo nacional: Volkswagen Autoeuropa, Stellantis Mangualde, Mitsubishi Fuso Truck Europe, Toyota Caetano e CaetanoBus.

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Volkswagen Autoeuropa a todo o gás

À cabeça surge, naturalmente, a Volkswagen Autoeuropa, que entre janeiro e junho deste ano foi responsável pela produção de 91,5% dos veículos ligeiros de passageiros feitos no nosso país, com um total de 130 832 unidades.

produção automóvel nacional fábrica Volkswagen Autoeuropa
© Autoeuropa

Importa recordar que é das instalações da Autoeuropa, em Palmela, que sai o Volkswagen T-Roc, que foi o terceiro automóvel mais vendido na Europa nos primeiros seis meses do ano e é o mais vendido da marca no «velho continente».

A Stellantis Mangualde surge logo a seguir, ainda que a uma distância considerável. Produziu 12 090 veículos ligeiros de passageiros no primeiro semestre de 2023, o que equivale a 8,5% do total.

A esses ainda é necessário somar os 33 036 veículos ligeiros de mercadorias e que sobem o número total para 45 126 exemplares construídos em Mangualde.

Tudo somado, sem esquecer, naturalmente, os números da Mitsubishi Fuso Truck Europe, da Toyota Caetano e da CaetanoBus, percebemos que a produção automóvel nacional está lançada para um ano de excelência.

O que serve, uma vez mais, para atestar a competência nacional neste setor, que tem sido muitas vezes reconhecida lá fora.

Produção automóvel nacional fábrica Mangualde, Stellantis
© Razão Automóvel Instalações da Stellantis em Mangualde

Limitações logísticas são revés grande

Mesmo assim, a realidade da produção automóvel nacional podia ser ainda melhor não fossem as limitações logísticas que têm vindo a afastar cada vez mais o nosso país dos maiores competidores europeus.

Este foi um dos temas abordados no mais recente episódio do Auto Rádio, um podcast da Razão Automóvel, que contou com a presença de dois convidados com créditos firmados no setor: José Couto, Presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) e Paulo Filipe, diretor de logística da SIVA PHS.

As nossas fábricas são das mais produtivas da Europa e estão nos tops das fábricas do Grupo Volkswagen (Autoeuropa tem estado de forma quase crónica, no top 5 das fábricas do grupo) e da Stellantis (Mangualde ficou no top 3 em 2022 entre mais de 100 fábricas do grupo).

Só que, de acordo com José Couto, podiam estar ainda melhor, não fossem as limitações logísticas que existem em Portugal.

O que é ainda mais problemático quando percebemos que cerca de 97% dos veículos produzidos em Portugal têm como destino o mercado externo.

Um problema de bitola

“Temos um problema de logística e um problema de bitola”, afirmou José Couto, antes de deixar um aviso:

“Para continuarmos a ser competitivos temos que ganhar muita coisa em chão de fábrica para depois perdemos em termos de logística”.

José Couto, Presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA)

De acordo com o presidente da AFIA, todos os esforços feitos nas linhas de produção pelos trabalhadores (que colocam as fábricas nacionais entre as melhores) são depois perdidos pelas limitações que Portugal têm em termos de logística, sobretudo no que diz respeito à ferrovia.

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A nossa incapacidade de nos conectarmos ao resto da Europa por via ferroviária (Portugal e Espanha usam a bitola ibérica, diferente da do restante continente), é uma discussão de décadas e que continua por resolver, colocando em causa a competitividade da indústria automóvel nacional.

Por outras palavras, e como explicam José Couto e Paulo Filipe no Auto Rádio n.º 33, as limitações da ferrovia tornam o transporte dos modelos produzidos em Portugal mais caro, o que não é minimamente atrativo para os construtores que cá produzem.

E numa indústria onde a eficiência de custos e de processos é cada vez mais relevante, isto é um problema, como afirma o diretor de logística da SIVA PHS, Paulo Filipe: “Toda a logística neste momento é um desafio constante”.

Comboio entre SEAT Martorell e VW Autoeuropa aponta o caminho

Paulo Filipe fez parte da equipa de trabalho que criou, em 2021, um serviço ferroviário que liga a fábrica da SEAT S.A. em Martorell, nos arredores de Barcelona, à unidade de produção da Volkswagen Autoeuropa, em Palmela.

Produção automóvel nacional Autoeuropa comboio SEAT
Frederic Camallonga Novo serviço ferroviário permite transportar cerca de 20 000 automóveis por ano

Com esta ligação de comboio, os veículos da SEAT e da CUPRA chegam diretamente à fábrica de Palmela a partir da Catalunha, sendo depois transportados de camião para o depósito de distribuição da SIVA PHS, na Azambuja.

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No sentido inverso, esta solução permite enviar por comboio os Volkswagen T-Roc produzidos em Palmela para o porto de Barcelona, a partir de onde são distribuídos por estrada (para regiões de Espanha e sul de França) e de navio (para alguns destinos no Mediterrâneo).

De acordo com Paulo Filipe, esta mudança não só permitiu reduzir custos e otimizar processos como ainda vai permitir “tirar cerca de 15 mil camiões por ano das estradas”.