Notícias BYD estende a mão à Tesla. Temos um “inimigo em comum” afirma CEO

Indústria

BYD estende a mão à Tesla. Temos um “inimigo em comum” afirma CEO

Tesla e BYD são rivais nos 100% elétricos, mas Stella Li, vice-presidente da BYD, sugere que unam esforços. Compreenda o que está em causa.

Stella Li, vice-presidente BYD
© BYD Portugal

A Tesla está sob enorme pressão na China, o seu maior mercado e o maior mercado global de veículos elétricos. Há cinco meses consecutivos que as vendas estão a cair e só em fevereiro, as entregas da Tesla na China caíram 49% em termos homólogos, o nível mais baixo desde julho de 2022.

Esta queda tem um nome: BYD. A marca chinesa, liderada por Stella Li, tem capitalizado as perdas da Tesla com uma política de preços cada vez mais agressiva e uma oferta tecnológica reforçada. Neste e noutros mercados, a BYD está assim a revelar-se a principal ameaça à Tesla.

Porém, Stella Li, em declarações ao Financial Times, surpreendeu ao propor um “tratado de paz” a Elon Musk, apontado um outro inimigo em comum: os motores de combustão.

“O nosso verdadeiro adversário é o motor de combustão interna, precisamos de trabalhar juntos para mudar a indústria”.

Stella Li, vice-presidente executiva BYD
BYD Atto 2 traseira
© BYD BYD Atto 2

Stella Li diz que está disposta a partilhar tecnologias chave no que respeita a elétricos e condução autónoma não só com a Tesla, mas com outras empresas não chinesas. Ela apelou até que mais empresas estrangeiras fossem para a China — a “pátria para a inovação”, nas suas palavras.

“O governo vai apoiar e trabalhar com a empresa para permitir o desenvolvimento de qualquer tecnologia”.

Stella Li, vice-presidente executiva BYD

Tesla e BYD em trajetórias distintas

A Tesla está a enfrentar uma queda generalizada de vendas, especialmente na China. A concorrência de fabricantes locais, como a BYD, está a pressionar a empresa de Elon Musk. Em paralelo, enquanto a Tesla se tenta reposicionar na China, a BYD concentra-se agora na sua expansão global.

Na Europa, por exemplo, a marca chinesa tem planos para reforçar a sua presença no continente com produção local, na Hungria e na Turquia. Desta forma, conseguirá contornar as tarifas impostas pela UE a veículos elétricos importados da China. Além disso, já começou a expandir a sua oferta para lá dos elétricos, passando a oferecer híbridos plug-in, que não são afetados pelas tarifas.

Nos Estados Unidos ainda é a Tesla que domina o mercado de automóveis elétricos, mas enfrenta desafios políticos e comerciais.

A BYD nos EUA é uma não questão. A sua entrada no mercado foi inviabilizada pelas tarifas de 100% impostas pelo anterior governo de Joe Biden aos elétricos chineses. As novas tarifas de 20% impostas por Trump a todas as importações chinesas agravaram este contexto. E colocou em causa os planos da BYD em abrir uma fábrica no México.

Voltando à China, a Tesla tem respondido à quebra de vendas com reduções de preços e campanhas, ao mesmo tempo que incrementa a tecnologia disponível para os seus clientes. No entanto, esta estratégia teve um impacto limitado, dado que a BYD também reforçou o conteúdo tecnológico dos seus modelos, mantendo os preços mais acessíveis.

É exemplo disso a disponibilidade de um novo pacote de assistência à condução por parte da Tesla, específico para o mercado chinês — ainda que muito semelhante ao sistema FSD (Full Self-Driving) já conhecido.

A BYD respondeu com a sua tecnologia de condução autónoma (God’s Eye ou olho de deus), que passou a estar disponível em praticamente todos os seus modelos, mesmo os mais baratos, sem custo adicional para o cliente. Na Tesla o custo adicional pode chegar aos 8000 euros. Ou seja, um valor que se aproxima de um BYD “inteiro” neste mercado, nomeadamente, o Seagull.

Tesla Model Y - 3/4 de frente
© Tesla

Com tudo isto, os analistas preveem que a Tesla continuará a perder relevância na China, e que a sua participação na faturação global da empresa poderá cair para valores entre os 6% e os 7% até 2030.