Notícias Carlos Tavares não quer jogar à defesa: “Queremos surfar a onda da ofensiva chinesa”

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Carlos Tavares não quer jogar à defesa: “Queremos surfar a onda da ofensiva chinesa”

Carlos Tavares comentou as tarifas da Europa aos elétricos chineses e confirmou que os modelos da Leapmotor serão montados fora da China.

Carlos Tavares durante a sua apresentação no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros
© Stellantis

A Stellantis prefere focar-se em cortar custos para responder à concorrência dos construtores chineses, ao invés de adotar uma estratégia defensiva assente nas tarifas que a União Europeia vai aplicar aos automóveis elétricos importados da China.

Durante o Stellantis Investor Day, que decorreu em Detroit, nos Estados Unidos da América, Carlos Tavares, diretor executivo do grupo, prometeu que a Stellantis vai continuar a estar “entre os líderes deste mercado em termos de lucro”, apesar da pressão cada vez mais crescente das empresas chinesas, nomeadamente a BYD.

Consideramos que com as margens de dois dígitos que vos prometemos, seremos os líderes deste mercado em termos de rentabilidade. (…) O nosso compromisso de entregar uma margem de dois dígitos está intacto.

Carlos Tavares, CEO Stellantis

Tavares reafirmou o compromisso da Stellantis de manter o lucro operacional nos dois dígitos ao longo da década, apesar do clima de incerteza que se vive na indústria.

Carlos_Tavares_Stellantis
© Stellantis

Este é um objetivo que faz parte do plano estratégico «Dare Forward 2030» da Stellantis, apresentado no início de 2022, e que prevê (até ao final da década) duplicar a receita líquida do grupo para 300 mil milhões de euros, bem como mais de 20 mil milhões de euros em fluxos de caixa industriais livres em 2030.

É um plano muito ambicioso, mas que, segundo Carlos Tavares, continua intacto e a ser a melhor forma de abordar o que resta desta década.

“Não estamos à procura do nosso caminho, sabemos para onde vamos”, afirmou o «patrão» da Stellantis, perante os seus investidores.

Contra as tarifas à China

O Stellantis Investor Day decorreu um dia depois da Comissão Europeia ter anunciado que vai impor taxas de até 38,1% aos automóveis elétricos importados da China, já a partir do dia 4 de julho.

Recorde-se que Carlos Tavares já tinha criticado anteriormente esta postura da União Europeia e afirmado que são “uma grande armadilha”.

Como já se esperava, este foi um dos temas quentes do dia, com a imprensa mundial a questionar Tavares acerca desta temática durante várias ocasiões, que sublinhou que não quer adotar uma estratégia defensiva.

O que está claro é que não queremos ficar na defensiva.

“A nossa estratégia, que continua a ser uma estratégia de ativos leves, consiste em garantir que nós próprios somos ofensivos e surfamos a onda da ofensiva chinesa”, revelou o português. O próprio afirmou recentemente que, em breve, 10% dos carros vendidos na Europa serão chineses.

Como fica a Leapmotor?

Por isso mesmo, no início do mês passado, a Stellantis anunciou o lançamento da Leapmotor International, que resulta da joint venture liderada pela Stellantis com a chinesa Leapmotor (51%-49%), que vai comercializar os seus modelos elétricos no mercado europeu.

Leapmotor T03 frente
© Leapmotor Leapmotor T03 será um dos primeiros modelos da nova marca Leapmotor Internacional a chegar à Europa.

Para isso, e de forma a responder às tarifas impostas pela Europa, a Stellantis está preparada para produzir alguns dos modelos da Leapmotor nas suas próprias fábricas. E, segundo Carlos Tavares, isso é algo que já está previsto há muito tempo.

Quando discutimos quais os carros que íamos vender na Europa, (…) já decidimos previamente quais desses carros seriam montados nas nossas fábricas fora da China.

“Não estamos à espera que as coisas aconteçam e rebentem na nossa cara. Estamos a tentar antecipar o que está a acontecer no mundo. Essa é certamente uma das maiores diferenças que temos para alguns dos nossos concorrentes”, afirmou Tavares.

Foco total nos custos

Durante a intervenção de Carlos Tavares no Stellantis Investor Day, o gestor português não se cansou de destacar a importância de otimizar custos e criar valor.

Carlos_Tavares_Stellantis
© Stellantis

Pelo meio, confessou que a fusão entre o Groupe PSA e a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que esteve na origem da Stellantis, permitiu sinergias e reduções de custos no valor de 8,4 mil milhões de euros desde a criação da empresa, em janeiro de 2021. Este valor é mais do dobro do objetivo inicial anunciado ainda em 2019.

Segundo a CNBC, a Stellantis reduziu a sua força de trabalho em 15,5% desde a sua criação, o que se traduz em cerca de 47 500 trabalhadores.

Além disso e para continuar a reduzir custos, a empresa tem vindo a reformular toda a sua cadeia de fornecimento, bem como a otimizar todas as suas operações.