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Primeiro Alemanha agora França. Saiba como vão ser cortados os incentivos aos elétricos

Os cortes anunciados pelo governo francês aos incentivos aumentam os receios de queda agravada na venda de carros elétricos na Europa.

Renault 5 E-Tech carregamento elétrico
© Event Photos

O governo francês não vai esperar pelo final do ano para cortar o valor dos incentivos à compra de carros elétricos. A entrada em vigor dos cortes está por dias, sendo uma das medidas do executivo francês para reduzir a despesa e controlar as contas do Estado.

Por enquanto, ao contrário do que vimos no final do ano passado na Alemanha, o governo francês não vai eliminar os incentivos, mas vai reduzir substancialmente o seu valor.

Estacionamento em Paris
© Alex Azabache / Unsplash

Os incentivos atualmente em vigor para os particulares oscilam entre os 4000 euros e os 7000 euros. Agora vão passar a estar balizados entre os 2000 euros e os 4000 euros, dependendo do rendimento anual do indivíduo:

  • 4000 € — rendimento até 16 300 €;
  • 3000 € — rendimento entre 16 301 € e 26 200 €;
  • 2000 € — rendimento acima de 26 201 €.

Apesar da redução no valor dos incentivos, mantém-se o preço limite de 47 mil euros para um veículo elétrico ser elegível a estes.

Dificuldades acrescidas

A França é o terceiro maior mercado automóvel europeu — atrás da Alemanha e do Reino Unido —, e tem sido um dos poucos, em 2024, a registar uma evolução positiva na venda de carros elétricos.

Este recuo do governo francês não podia chegar em pior altura. Os construtores automóveis continuam a debater-se com vendas de carros elétricos muito abaixo do esperado, colocando em causa o cumprimento das metas da União Europeia de redução das emissões de CO2 para o final de 2025.

Para mais, a situação francesa deverá agravar-se em 2025, pois a verba disponibilizada no Orçamento do Estado para eletrificar o parque automóvel vai ser também reduzida de forma significativa: de 1,5 mil milhões de euros em 2024 para 690 milhões de euros em 2025.

A verba anunciada deverá permitir financiar a compra de cerca de 200 mil automóveis elétricos — como referência, de janeiro a outubro deste ano, o mercado francês registou 237 340 elétricos novos (fonte: ACEA). A verba não deverá ser, por isso, suficiente para cobrir o ano todo.

Caso a verba disponibilizada esgote durante o próximo ano, o governo francês poderá optar por libertar mais fundos para os incentivos (revendo novamente os valores) ou então terminar com estes de vez.

Incentivo ao abate termina

Colocando sal na ferida, o governo francês vai terminar também este ano o programa de incentivo ao abate que decorre, continuamente, desde 2008. Este obriga a trocar um carro a combustão velho (10 anos ou mais) por um elétrico (compra ou leasing), à semelhança do programa que vimos ser introduzido este ano em Portugal. O valor máximo do incentivo é de 5000 euros.

No entanto, ao contrário do que se está a verificar em Portugal, o programa francês tem tido muito mais sucesso: entre 2015 e 2022 foram abatidos mais de um milhão de automóveis.

Com o fim deste programa e a redução das verbas para os incentivos à compra (que também viram o seu valor nominal ser reduzido), aumentam os receios de uma queda expressiva na venda de carros elétricos em França em 2025.

Tendo em conta que este é o terceiro maior mercado europeu em volume para carros elétricos, poderá arrastar com ele todo o continente europeu, tal como vimos acontecer este ano com o mercado alemão.

Leasing social continua

Apesar do recuo generalizado nos incentivos à compra de carros elétricos, o governo francês prometeu o regresso do leasing social, uma medida que mostrou ser bastante popular.

O leasing social permitiu a pessoas com rendimentos mais baixos pudessem ter um carro elétrico por um valor de 100 euros ou 150 euros por mês — bem mais baixo que um leasing equivalente. A primeira vaga deste programa abrangeu 50 mil pessoas. O governo já prometeu o regresso desta medida no segundo semestre de 2025.

Fonte: L’Argus