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VW ID.3 «chinês» é 22 mil euros mais barato que o «europeu». Porquê?

O Volkswagen ID.3 feito na China custa menos de metade do ID.3 feito na Alemanha. Como é possível esta diferença de preços?

Volkswagen ID.3 chinês
© Volkswagen

A «guerra de preços» na China motivou a Volkswagen a «cortar» o preço do ID.3 em 16%, com o seu elétrico compacto a ficar com um preço aproximado de 15 800 euros (125 900 yuan).

Sim, na China, é possível comprar um Volkswagen ID.3 novo, com 125 kW (170 cv) e uma bateria de 57,3 kWh pelo preço de um Dacia Sandero por cá.

Volkswagen ID.3 “made in China”

Pode ser preço de campanha (e limitada a 7000 unidades), mas mesmo sem esta, o preço base do ID.3 fica em aproximadamente 18 mil euros na China.

Um valor que é menos de metade do que pagamos pelo ID.3 no nosso país ou no resto da Europa.

Em Portugal, o preço do recentemente renovado ID.3 arranca nos 42 188 euros — 150 kW (204 cv) e bateria de 58 kWh —, enquanto na Alemanha começa nos 39 995 euros.

No passado chegou a haver uma versão do ID.3 com uma bateria mais pequena (45 kWh) e um motor menos potente (110 kW ou 150 cv), mas, ainda assim, o preço ficava sempre acima dos 30 mil euros. A diferença no preço é simplesmente abismal.

Como consegue ser tão barato?

O exemplo do Volkswagen ID.3 não é único e verificamos diferenças significativas noutros modelos elétricos vendidos na China e na Europa. Por exemplo, o Tesla Model 3 «chinês» é quase 11 mil euros mais barato que o Tesla Model 3 «europeu».

Como se justificam estas diferenças de preços? A primeira, mais óbvia, é a «guerra de preços» que decorre no mercado chinês. Desde o início do ano que os preços não param de cair. Sejam cortes efetivos ou promoções esporádicas, como no caso do ID.3, os preços já caíram vários milhares de euros.

A queda nos preços tem sido tão significativa que se tentou, sem sucesso, acordar um «pacto de não agressão», de modo a manter as margens de rentabilidade em níveis saudáveis, sem colocar em causa a própria sustentabilidade financeira de alguns construtores.

Mesmo tirando o fator «guerra de preços», os automóveis na China, sobretudo os elétricos, já eram, no geral, significativamente mais baratos do que na Europa. Isto sem colocar nas contas os incentivos estatais à aquisição. Como nota, quando foi lançado na China em 2021, o Volkswagen ID.3 tinha um preço base à volta dos 22 500 euros.

https://youtu.be/Sox4jzNF0pY

Há outros fatores que entram nestas contas. A produção local é um deles. O ID.3 «chinês» é produzido na China pela SAIC, uma das parceiras locais da Volkswagen. Previsivelmente, os custos de produção são mais baixos na China do que na Alemanha, onde é também produzido.

Também os componentes do ID.3 «chinês» são produzidos localmente, incluindo a bateria (o maior custo num veículo elétrico) da CATL que o equipa (ID.3 «europeu» tem bateria da LG Chem). A produção local de componentes também reduz substancialmente os custos logísticos (transporte).

Há ainda diferenças em matéria de especificações, equipamentos e materiais que podem contribuir para um preço final inferior.

Por fim, claro, os impostos e a tributação. Na China o IVA, por exemplo, é de apenas 13% (valor padrão). Em Portugal é de 23% e na Alemanha, por exemplo, é de 19%.

Além disso, o programa NEV (New Energy Vehicles) ou Veículos Novas Energias na China tem-se traduzido, desde o início deste século, em incentivos e benefícios fiscais, também para as empresas. O que ajuda a mitigar os custos de desenvolvimento e produção deste tipo de veículos.

Porque não importamos o Volkswagen ID.3 «chinês»?

Se fica tão barato fazer o Volkswagen ID.3 na China, porque não o importamos de lá? Mesmo trazendo-o do outro lado do mundo, provavelmente até ficaria mais barato que o ID.3 «europeu».

Aliás, já há construtores que adotaram esta prática e outros também o vão fazer: Tesla Model 3, DS 9, Smart #1, futuro MINI elétrico, Volvo EX30, são alguns exemplos.

Contudo, as diferenças entre o ID.3 «chinês» e «europeu» são grandes o suficiente para não conseguir a homologação por cá, afirma a Volkswagen. O que nos leva novamente ao ponto das diferenças de especificações e equipamentos (sobretudo segurança).

No final, o que fica, é o abismo que existe entre o preço de dois carros que são — em princípio — praticamente idênticos. Será que todos os fatores que enunciámos justificam mesmo a totalidade da diferença?