Notícias Noruega. Sucesso dos elétricos reduz receita fiscal em 1,91 mil milhões de euros

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Noruega. Sucesso dos elétricos reduz receita fiscal em 1,91 mil milhões de euros

A Noruega é onde os veículos elétricos têm a maior quota de mercado do mundo, superando os 63% no acumulado do corrente ano.

Mercedes-Benz EQC

A dimensão do mercado automóvel norueguês não é grande (têm pouco mais de metade da população de Portugal), mas a Noruega encontra-se num «mundo à parte» em relação à venda de veículos elétricos.

Nos primeiros 10 meses de 2021, a quota de veículos 100% elétricos supera os 63%, enquanto a de híbridos plug-in atinge praticamente os 22%. A quota para veículos de ligar à tomada é de uns dominadores 85,1%. Não há outro país do mundo que se aproxime de perto destes números e nenhum deverá aproximar-se nos próximos anos.

A história de sucesso dos automóveis elétricos neste país produtor e exportador de petróleo (equivale a mais de 1/3 do total das suas exportações) justifica-se, sobretudo, por terem sido reduzidos e eliminados a maioria dos impostos e taxas que por norma são tributados aos automóveis, num processo iniciado no final da década de 90.

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Elétricos estacionados Noruega em Oslo

Essa ausência de tributação (até o IVA deixou de ser cobrado) fez com que os automóveis elétricos ficassem com preços competitivos em relação aos automóveis a combustão, nalguns casos ficando até mais acessíveis.

As vantagens não se ficaram pela tributação. Os automóveis elétricos na Noruega não pagavam portagens ou estacionamento e até chegaram a poder usar livremente a faixa BUS. O sucesso destas medidas foi e é inegável. Basta olhar para as tabelas de vendas, onde, sobretudo, nos últimos três meses, nove em cada 10 veículos novos vendidos na Noruega são de ligar à tomada.

Receita fiscal em queda

Mas agora veio a público uma estimativa de quanto este sucesso está a significar em perdas de receitas fiscais anuais para o governo norueguês: cerca de 1,91 mil milhões de euros. Uma estimativa avançada pelo anterior governo de coligação centro-direita que viu o seu lugar ser tomado por uma nova coligação de centro-esquerda nas últimas eleições de outubro.

Tesla Model 3 2021
O Tesla Model 3 é o automóvel mais vendido na Noruega em 2021 (até outubro).

E com a manutenção destas medidas a jusante, é de esperar que este valor tenha tendência a aumentar, com a substituição progressiva dos automóveis a combustão que circulam por automóveis de ligar à tomada — apesar do sucesso dos elétricos, ainda só correspondem a 15% do parque circulante.

O novo governo norueguês procura agora recuperar alguma da receita perdida, propondo recuar em várias medidas que continuam a dar um estatuto especial aos automóveis elétricos, e começa a levantar receios de que poderá colocar em risco a meta traçada de não vender automóveis com motores de combustão interna até 2025.

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Algumas medidas já tinham sido retiradas, como por exemplo, a isenção de pagar portagens, terminada em 2017, mas ações mais drásticas são necessárias.

Não se sabe ainda que medidas vão ser tomadas, mas as mais prováveis, segundo grupos ambientalistas e associações automóveis, serão a reintrodução de impostos para os híbridos plug-in, um imposto para os 100% elétricos vendidos em segunda mão, uma taxa para “elétricos de luxo” (valor superior a cerca de 60 mil euros) e a reintrodução de um imposto anual de propriedade.

Em baixo: O Toyota RAV4 PHEV é o híbrido plug-in mais vendido e, até outubro de 2021, o segundo modelo mais vendido na Noruega.

Os grupos ambientalistas já disseram que não são contra a taxação de elétricos, desde que os impostos aplicados aos automóveis com motores de combustão mantenham-se elevados. Porém os receios são grandes de que a reintrodução dos impostos errados possa causar um efeito travão no crescimento e maturação do mercado automóvel elétrico, afastando aquelas pessoas que ainda estão na dúvida em avançar ou não para este tipo de veículos.

Alerta à navegação

O que se está agora a passar na Noruega está a ser visto de fora como um exemplo do que poderá acontecer no futuro em muitos outros mercados, onde os incentivos e benefícios fiscais em relação aos 100% elétricos e híbridos plug-in são igualmente bastante generosos. Poderá o automóvel elétrico «sobreviver» sem estas ajudas?

Fonte: Wired