Notícias CEO da Dongfeng Europa esteve em Portugal. “Não somos uma ameaça”

Entrevista

CEO da Dongfeng Europa esteve em Portugal. “Não somos uma ameaça”

O objetivo está traçado: vender 1000 unidades em Portugal. Xie Qian, CEO da Dongfeng falou dos planos da marca chinesa em entrevista à Razão Automóvel.

No último trimestre de 2024 assistimos à chegada da Dongfeng a Portugal. Uma marca chinesa que inicia este novo ano com um objetivo: vender mais de 1000 unidades no nosso país em 2025.

Foi no âmbito desta chegada ao mercado nacional que tivemos oportunidade de entrevistar Xie Qian, CEO da Donfeng Europa. Uma marca representada em Portugal por intermédio da Salvador Caetano, o histórico importador da Toyota e, mais recentemente, também de outro gigante asiático: a BYD.

Para onde vai a Dongfeng, qual é a estratégia para a Europa e como é que esta marca chinesa vai tentar vencer no nosso mercado. Toda a estratégia explicada na primeira pessoa por Xie Qian, CEO da Dongfeng Europa.

Xie Qian, CEO da Donfeng Europa.

A estratégia para Portugal e Europa

Em Portugal, o Donfeng Box será o modelo mais pequeno da marca mas também aquele onde a Dongfeng e a Salvador Caetano colocam mais ambições. Um modelo cujo preço fica abaixo dos 27 mil euros.

DONGFENG BOX E VOYAH
Dongfeng Box, Voyah Courage e Voyah Free, são estes os primeiros modelos da marca em Portugal. Os preços situam-se entre os 27 mil e os mais de 80 mil euros do Voyah Free.

Um valor que poderia ser menos elevado, não fossem as tarifas europeias aplicadas aos carros elétricos «made in China». Foi precisamente pelas cautelas que a UE tem relativamente às marcas chinesas que iniciámos a nossa entrevista.

RA: A indústria automóvel europeia está a ser ameaçada pelas marcas chinesas? Há um objetivo de conquista nesta ofensiva, defende a UE.

XQ: Nunca pensamos em “conquistar” alguém ou qualquer mercado. Queremos cooperar. O nosso objetivo é fornecer produtos e serviços aos clientes. Não somos uma ameaça. Nunca seremos uma ameaça para ninguém.

Temos uma vasta experiência em colaborar com outros fabricantes, como a nossa parceria com a Nissan, Honda e Stellantis. Por isso, não considero que sejamos uma ameaça para ninguém.

RA: Sobre as fábricas da Dongfeng na Europa, como está a evoluir esse plano? Ouvimos falar de Itália, mas agora surgem informações sobre outros países, como a República Checa. Em que ponto está esse processo?

XQ: Para ser honesto, até agora não existe nenhum plano fixo ou definido. Estamos focados em construir a nossa rede de venda e pós-venda.

Primeiro, queremos introduzir os nossos produtos na Europa para criar notoriedade da marca e uma base de clientes. Só depois, quando atingirmos um certo volume de vendas, é que vamos analisar a viabilidade de abrir uma fábrica na Europa.

RA: Existem metas temporais definidas?

XQ: O prazo para esse programa seria de cerca de dois anos para implementação, antes de considerar a produção local. No entanto, tudo dependerá do progresso do nosso desenvolvimento na Europa, especialmente em termos de volume.

Xie Qian ao lado do seu «ponta de lança» para a Europa, o Dongfeng Box.

RA: Falando da distribuição. A BYD decidiu abandonar o modelo de parceria com importadores locais em alguns mercados para ser mais competitiva. Porque não optaram pelo mesmo caminho?

XQ: Na Dongfeng, estamos na indústria há muito tempo e temos trabalhado com parceiros locais na China nos últimos 50 ou 60 anos. Essa experiência tem sido positiva e faz parte do nosso ADN. No caso da Europa, acreditamos fortemente que, sendo um mercado novo para nós, é crucial trabalhar com parceiros locais.

Como referi, os clientes muitas vezes confiam mais no vendedor ou no concessionário da sua comunidade do que na marca em si. O modelo de cooperação com importadores e concessionários é mutuamente benéfico e é a nossa estratégia, em vez de optar pelo modelo de vendas diretas.

GC: Referiu na sua apresentação que um dos principais valores da Dongfeng é a harmonia com o ambiente. A preocupação com as emissões termina no escape dos vossos carros ou também consideram o impacto ambiental durante a produção?

XQ: Essa é uma ótima questão. Acho que o primeiro passo começa sempre no produto. Durante a sua utilização, queremos reduzir as emissões para zero – esse também é o objetivo da Europa e da China. Estamos a trabalhar no mesmo sentido, para reduzir as emissões de CO2 a nível global.

O segundo passo é a produção e toda a cadeia de valor. É essencial cuidar das fábricas, fornecedores, e de todos os processos relacionados. A nossa abordagem considera tanto o produto quanto a produção. Precisamos de controlar e reduzir as emissões em ambos. Já estamos a adotar medidas como a utilização de painéis solares em várias fábricas para reduzir o consumo de energia elétrica não sustentável.

GC: No que diz respeito ao design. Vimos que marcas sul-coreanas, como a Kia e a Hyundai, para se consolidarem no mercado europeu, investiram em centros de R&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e design na Europa. Estão a considerar seguir o mesmo caminho?

XQ: Isso está sempre presente no nosso pensamento: produzir um produto localizado. Queremos ter sistemas de infoentretenimento relevantes e um design europeu adequado.

Na verdade, a Dongfeng tem um centro de R&D na Suécia, em Trondheim. Por exemplo, foi lá que desenhamos o primeiro carro com recurso a realidade virtual (VR). Nós queremos oferecer aos consumidores europeus um design europeu, vindo da China.

GC: Referiu-se muito aos modelos 100% elétricos durante a sua apresentação, mas a Dongfeng também tem híbridos no portefólio. Pretende explorar esta tecnologia no mercado europeu?

XQ: Estamos dispostos a trazer modelos híbridos também para a Europa. Mas, de qualquer forma, estamos a procurar todas as abordagens possíveis para dar o nosso melhor a fornecer os clientes europeus. Essa é a nossa principal preocupação.

As três marcas da Dongfeng em Portugal

Detida a 100% pelo Estado chinês, a Dongfeng conta com mais de 60 anos de existência. Não é apenas uma marca de automóveis: a Dongfeng produz veículos militares, equipamento industrial, componentes e motociclos.

Nos automóveis, a sua presença divide-se por três marcas. A Dongfeng, que tem um posicionamento mais generalista, e outras duas marcas: a Voyah com ambições premium, e a M-Hero, cujos modelos são sobretudo todo-o-terreno.

Segundo Xie Qian, a Dongfeng Motor Corporation quer lançar “mais quatro modelos na Europa” até 2027. Já no próximo ano deverão chegar os modelos C-SUV e 007 da Dongfeng, e o Courage e Passion Voyah.

Em termos de logística e peças, a Dongfeng Motor Corporation tem já um armazém em Madrid e, em 2025, abrirá outro na Holanda.

Estes veículos estão disponíveis em seis espaços da rede de concessionárias da Salvador Caetano (Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu, Leiria e S. Miguel), tendo havido uma preocupação por parte do importador português para não sobrepor as representações da BYD em contenda direta com Dongfeng — pelo menos numa primeira fase.

Ao longo de 2025 a rede concessionários será alargada a outras nove cidades garantindo uma cobertura total do território nacional.