Opinião Os carros estão cada vez melhores menos na Europa

Indústria

Os carros estão cada vez melhores menos na Europa

Os carros estão cada vez melhores, mas na Europa está cada mais difícil encararmos o futuro com otimismo. Vale a pena meditar sobre isso.

No geral, nós amantes de automóveis, somos pessimistas — um grupo no qual me incluo, perdoem-me os otimistas. Normalmente olhamos para o passado com nostalgia e quando abrimos a boca saem coisas como “aquilo é que eram tempos…”.

Antigamente é que era! Do futuro não podemos esperar mais do que uma sucessão de perdas. O Grupo B é que era bom, os Porsche com motores refrigerados a ar é que eram bons, os pilotos antigamente é que sabiam conduzir, etc.

Porsche 911 (993) Carrera S, na estrada (traseira)
© Porsche A geração 993 do Porsche 911 foi a última com motores refrigerados a ar. Há quem ainda diga que nunca deveriam ter acabado.

Felizmente, a realidade continua a fazer-nos frente. O desporto automóvel nunca foi tão interessante e nunca chegou a tanta gente. E os automóveis também estão cada vez mais seguros, mais eficientes e (salvo honrosas excepções) mais divertidos de conduzir.

É assim em todo o mundo, com excepção da Europa. Por aqui o ar — apesar das promessas dos nossos decisores —, é cada vez mais pesado.

Os autódromos estão a ser asfixiados por regulamentos de ruído tão exigentes (para respeitarem construções que previamente não existiam) que colocam em causa a sua atividade. O desporto motorizado está sujeito a pressões que não têm correspondência ao seu impacto ambiental. E a indústria automóvel está sujeita a regras que, para já, apenas está a ter um efeito: o parque automóvel está cada vez mais velho e os carros cada vez mais caros.

Estamos a saltar etapas e pelo meio a castrar alternativas válidas, que nos afastam de um objetivo comum: um mundo cada vez mais sustentável.

No resto do mundo, as coisas não caminham da mesma forma. Há carros e tecnologias que continuam a ser utilizadas, sem virar as costas a ninguém. De forma mais eficiente e mais eficaz que nunca. Recentemente conduzi um desses exemplos:

Mas, infelizmente, o nosso quotidiano não é feito de pequenos brinquedos como o Lexus LBX Morizo RR. É por isso que existem as versões híbridas deste mesmo modelo. Mas vamos mais fundo… vamos falar de veículos de trabalho.

Atualmente há modelos que podem ser comercializados em todo o mundo excepto na Europa. Um exemplo paradigmático é a Mitsubishi L200, que abandonou o nosso mercado devido às normas de emissões. Ou, por exemplo, o Land Cruiser Série 70, que é produzido em Portugal, mas não pode circular nas nossas estradas.

Nestes casos em particular, os 100% elétricos ainda não são resposta. E nos restantes segmentos também ainda não são uma resposta para todos. Para mim é, felizmente, e estou muito satisfeito. Mas eu não sou toda a gente e a Europa não é o mundo todo.

O horizonte da Europa tem de ser maior do que a burocracia e a ideologia que afasta cada vez mais as instituições europeias da sua razão de existência: os europeus. Os automóveis estão cada vez melhores, mas nós temos cada vez menos acesso a eles.

O mundo também está melhor — não podemos colocar todas as nossas fichas nas notícias do quotidiano. Produzimos cada vez mais com cada vez menos e nunca vivemos uma época de tanta abundância. Há nuvens no horizonte? Sem dúvida. Mas a humanidade é teimosa e encontra sempre alternativas, dando as respostas necessárias às inquietações dos pessimistas como eu.