Opinião Os portugueses estão a conduzir cada vez pior

Condução

Os portugueses estão a conduzir cada vez pior

Bastam alguns minutos no trânsito para perceber que a condução está a perder pontos em termos de qualidade, «implicando» com a segurança.

Trânsito
© André Mendes / Razão Automóvel

Comemora-se hoje, dia 9 de maio, o Dia Europeu da Segurança Rodoviária, apenas quatro dias depois de uma outra data que está, de certa forma, relacionada, o Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante.

São temas que me deixam sempre a pensar e a assistir com mais atenção ao que se passa à minha volta durante as deslocações diárias. A conclusão, no entanto, é quase sempre a mesma: todos os condutores, de uma forma geral, estão a conduzir cada vez pior.

É um sentimento triste, por diversos motivos: primeiro porque o cumprimento das regras de trânsito é cada vez menor, mais subjetivo e aleatório, dando a ideia de que muitos dos condutores não passaram sequer pelas aulas de código, ou que as apagaram por completo da memória.

Conduzir
Gabe Pierce on Unsplash

Depois, porque a maioria dos comportamentos a que vou assistindo, só demonstram que está a desaparecer qualquer réstia de respeito pelas outras pessoas que têm de utilizar as mesmas estradas.

Nesta rotina diária, é claro que todos desejaríamos estar na melhor estrada do mundo. No entanto, acabamos por estar restringidos a algumas das vias mais congestionadas do país e na maioria das vezes, ao mesmo tempo que a grande maioria dos condutores. Nuns dias estou ao volante de um carro, noutros no guiador de uma moto, o que me faz ter uma perspetiva diferente em ambos os casos.

Em quatro rodas

De carro observo inúmeras distrações, mudanças de faixa sem sequer verificar se lá está outro carro ou não, e nem sequer vou falar dos «piscas», pois essa é mesmo uma espécie em vias de extinção, de tão raros que são.

Aquelas linhas brancas no chão parecem ser invisíveis para muitos, tal como o circular pela direita, usar o sentido certo nas ruas que têm apenas um e respeitar as cores daquelas coisas que piscam — há quem lhes chame semáforos.

Nas filas de trânsito, o conceito do «um-sim-um-não» caiu totalmente em desuso e, atualmente, existe apenas um valor de cordialidade ao volante que é medido numa nova unidade de «chico-espertice».

As discussões no meio do trânsito são cada vez mais intensas e ainda que, felizmente, não tenha assistido a nenhuma das que vou descobrindo pelas redes sociais, já vi perseguições a alta velocidade numa espécie de batalha sobre quem é que tem mais razão e até colisões, por ninguém ceder um único milímetro até que já seja tarde demais.

Já chegámos a um ponto em que, quando alguém tem a iniciativa de ser simpático e cordial com outro condutor no meio do trânsito, há quem não acredite e reaja de uma forma estranha, por ser tão raro. Mas claro que, em muitos casos, o agradecimento também fica esquecido.

Em duas rodas

De moto, a perspetiva diferente. É atrás do guiador, e num patamar mais elevado face às janelas dos automóveis, que me apercebo facilmente da quantidade de pessoas que ainda usa o telefone enquanto conduz. E não estou a falar de chamadas.

No meio do trânsito, há pessoas a ver filmes ou séries, ou mesmo a jogar, totalmente alienados do que se passa à sua volta. Isto, além de outras coisas da categoria do “se não tivesse visto, não acreditava” e que nem posso escrever aqui. Mas são mais frequentes do que eu poderia imaginar. Tudo, no meio do trânsito.

Engarrafamento na praça das portagens da Ponte 25 de abril
© Razão Automóvel

Por circular de moto, não quer dizer que «vista a camisola». Há coisas com as quais também não concordo e acho uma falta de respeito. Por exemplo, as motos que vêm pelo meio dos carros a buzinar como se fosse obrigação de todos sair da frente para estes passarem. E ainda discutem e insultam quem não o faz.

E depois, há situações tão simples como o (des)respeito por uma fila. Eu até entendo as motos que vão passando pela berma ou entre os carros, sempre que estes estão totalmente parados. Eu sei que é proibido, mas acabo por pensar que cada uma destas motos é menos um carro na fila.

De carro, facilito a passagem, de moto, agradeço quando facilitam (pois ninguém TEM de o fazer). Agora, numa fila de portagem, por exemplo, já não entendo o desrespeito por uma fila. Neste caso, a moto é um veículo como todos os outros, seja um automóvel, um autocarro ou um camião.

Sem resolução?

Os níveis de stress e impaciência estão fora da escala — se é que existe uma escala — e é claro que tudo isto acaba por ser bastante perigoso em termos de segurança e sem qualquer previsão de melhoria para os próximos tempos. Acham que não?

Então, o que dizer de uma condutora na casa dos 30 anos, a gritar desesperadamente para o carro da frente, em modo de insulto e sem largar a buzina? Tudo, porque este estava a mudar de faixa, no pára-arranca, e ainda não tinha conseguido deixar a de origem totalmente desimpedida, impedindo a passagem de outros carros.

Nesse dia, eu estava de moto, a assistir a isto tudo e ainda consegui parar ao lado da janela (aberta) desta condutora, dizendo apenas: “calma, não é caso para tanto”. No entanto, devido à reação, acabei por fugir dali rapidamente.

Independentemente de ser ou não o Dia Internacional da Segurança Rodoviária, tente ser mais cordial e paciente enquanto está a conduzir. Pode não parecer, mas se todos tentarmos, acredito que tudo fique mais tranquilo.

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