Opinião A Mercedes está a mudar e há várias razões para isso

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A Mercedes está a mudar e há várias razões para isso

A Mercedes-Benz está a apostar tudo no novo. CLA: é o início de uma revolução no construtor. Compreenda o que está em causa.

tampa dianteira do novo Mercedes-Benz CLA
© Mercedes-Benz

Quando chego ao local do evento onde vai ser relevado o novo Mercedes-Benz CLA, em Roma (Itália), encontro um ambiente que não podia ser mais contrastante com a ideia que o mundo tem da Alemanha e dos alemães. 

Uma passadeira vermelha gigante, músicos como Will I Am a conviver com os convidados (o ex-Black Eyed Peas produziu uma música sobre o novo CLA) e até um concerto da TYLA, logo após a apresentação feita pelo diretor-executivo da marca. 

Tudo isto num auditório construído para o efeito no topo de uma montanha, com Roma como pano de fundo. 

A convite da Mercedes-Benz, estivemos entre os 600 convidados de todo o mundo, incluindo executivos do construtor, acionistas e equipas de vários departamentos. 

Mas há umas semanas, tinha estado algumas horas com o carro na fábrica, na Alemanha, onde gravei um vídeo que saiu à hora do levantamento do embargo. Ora veja ou reveja:

Foi um dos lançamentos do ano que mais audiência gerou no nosso website e no canal de YouTube, em tão poucas horas, por isso acredito que valeu a pena o esforço coordenado da nossa equipa, a quem dou os parabéns pelo empenho. 

Salto gigante

Sem dúvida que é um salto gigante para o Mercedes-Benz CLA, a todos os níveis. A versão elétrica tem enormes argumentos, desde a autonomia anunciada (792 km!), à tecnologia.

Quanto à qualidade, o tempo dirá como se vão comportar materiais, equipamento e motores, mas daquilo que vi e ouvi diretamente de engenheiros da marca, não existiu margem para facilitismos. Num elétrico com menos de 1,5 metros de altura, o espaço para a cabeça dos ocupantes é melhor do que esperava (isto foi possível com um truque, tal como expliquei no vídeo). 

Já o fundo do carro, devido às baterias, é ligeiramente mais alto do que o desejável. A versão mild-hybrid, é visualmente mais interessante e equilibrada. O carro tem uma bateria muito pequena e não teve de ser levantado como o elétrico, que precisa de mais altura ao solo devido à bateria de grandes dimensões. 

Mercedes-Benz CLA perfil
© Mercedes-Benz

Uma versão mild-hybrid que não estava prevista, mas que permite à marca alemã oferecer uma proposta para os que não querem um elétrico. 

O motor é totalmente novo e será desenvolvido pela Horse Powertrain, a joint venture firmada entre a Renault e a Geely. Esta passou a operar as anteriores unidades de desenvolvimento e produção de motorizações a combustão e híbridas do Grupo Renault e Geely — a fábrica de Cacia, em Portugal, já não pertence à Renault, mas sim à Horse Powertrain.

Tal como já disse no conteúdo que saiu, não é no espaço que o novo Mercedes-Benz CLA vai convencer, ainda que tenha melhorado face ao atual modelo. Acredito que esta nova plataforma (MMA) vai mostrar todo o seu potencial na próxima geração do GLA, um modelo que estou muito curioso para ver como evolui. A versão shooting brake, que inicialmente não estava nos planos, também vai ser lançada e vai trazer mais versatilidade ao CLA. 

Um chip numa mão, os chineses na outra

Numa altura em que os construtores lutam para apresentar melhor software, a Mercedes-Benz coloca a barra bem alto e assume querer liderar neste capítulo. Foi com um chip na mão que o CEO da marca começou a conferência. 

É um passo inevitável para a indústria automóvel europeia, que está a tentar ganhar ritmo face aos EUA e à China.

Isto está a ser seguido por outros construtores, seja através de parcerias estratégicas — Volkswagen com a Rivian, por exemplo — ou de desenvolvimento próprio, como é o caso da Mercedes-Benz. O resultado é animador.

Do ponto de vista tecnológico é o melhor carro do segmento e a integração dos sistemas e como eles são apresentados, deixa muitos dos seus concorrentes a uns bons anos de distância. 

Mercedes-Benz CLA interior

A Mercedes, tal como todos os construtores, precisa de reforçar argumentos também na China, onde está a perder terreno, tal como a maioria das marcas ocidentais. 

As novas gerações de chineses não olham da mesma forma como os pais e os avós para as marcas do ocidente. Procuram cada vez mais, na China, marcas e produtos nacionais, em todas as áreas. 

Isto não está a afectar apenas os construtores de automóveis. Starbucks, Apple, Nike, entre muitos outros, estão no mesmo barco e a maré não está a favor. 

Fecho de lojas, vendas a cair e a rentabilidade por unidade vendida a diminuir, pressionadas pelo preço da concorrência chinesa, estão a baralhar as contas. 

Ao contrário de alguns comentários, possivelmente menos informados, que vou lendo e recebendo, não me parece que não estar na China, um dos maiores mercados mundiais de consumo, seja uma opção. Tal como para os chineses não é uma opção não estar na Europa. 

O que devemos exigir é a mesma reciprocidade de tratamento, fiscalização e acima de tudo, transparência. 

Ao colocar como entrada de gama o CLA (o Classe A vai sair de produção no final do ano e não deve voltar — representa cerca de 20% das vendas em Portugal) a Mercedes-Benz está a apontar a uma maior diferenciação e rentabilidade, o que poderá não significar mais unidades vendidas. 

Mas ter contas saudáveis e capital para investir em melhores produtos, parecem ser bons motivos para os acionistas terem aceite esta estratégia.