Opinião Proibido reparar carros com mais de 15 anos. Que força alimentou este rumor?

Atualidade

Proibido reparar carros com mais de 15 anos. Que força alimentou este rumor?

Vivemos uma época onde as notícias sobre a limitação da utilização do automóvel sucedem-se. É um terreno fértil para várias extrapolações.

A semana passada, a atualidade foi dominada por um assunto: a proibição de reparação de carros com mais de 15 anos. Uma notícia que quando começou a circular em Portugal já tinha sido desmentida pela Comissão Europeia e que, mesmo assim, lançou o pânico sobre milhões de portugueses.

É fácil perceber porquê. Portugal tem mais de 1,2 milhões de veículos com mais de 20 anos a circular diariamente. Tocar aqui, é tocar num ponto sensível da sociedade. De um momento para o outro, uma proposta de regulamento da Comissão Europeia — cuja redação não foi a mais feliz — parecia um facto consumado.

Felizmente, está longe de ser um facto consumado. E, segundo a Comissão Europeia, essa possibilidade de proibição não está, nem nunca esteve, em cima da mesa. Superada essa questão, então como é que uma «mentira» ganhou tanta tração?

A vontade de chegar primeiro

O alarme começou nas redes sociais, como explicou a AFP no seu «polígrafo». Alguns órgãos de comunicação social foram atrás dessas publicações nas redes sociais e o boato começou a ganhar credibilidade.

Não acredito que este erro de análise — que aconteceu um pouco por todo o lado, com honrosas excepções — tenha sido deliberado para aumentar as audiências. Pensar sequer o contrário seria grave.

Sabemos, por experiência própria, que a pressão da atualidade por vezes esmaga o mensageiro. Pelo meio perde-se o essencial: a verdade (os factos) e o propósito (informar).

Felizmente, a Razão Automóvel seguiu um caminho diferente. Olhávamos à nossa volta e até parecia que a verdade tinha perdido força. Por isso coloca-se a seguinte questão: que força é esta que alimenta de forma tão voraz um rumor?

O sentimento da sociedade

Costuma-se dizer que “uma mentira para ser credível deve ter um fundo de verdade”. E a verdade é que quando se fala de automóveis há um sentimento generalizado, motivado pelas notícias dos últimos anos, de que há uma «força» a tentar limitar a sua utilização.

Carros usados venda

As notícias (bem reais) da proibição dos veículos com motor de combustão em 2035, a escalada dos preços dos carros novos, as limitações de tráfego nas cidades e o aumento do IUC (que entretanto não aconteceu) são apenas alguns exemplos de notícias que colocam a sociedade e o automóvel a trilharem caminhos opostos.

Nunca se falou tanto de direito à mobilidade individual como agora, por isso, qualquer notícia que toque neste assunto ganha imensa força. Há uma familiaridade no assunto que aumenta ao sua aceitação.

Portanto sim, há uma força que alimenta este tipo de notícias: chama-se medo. Medo que nos retirem o automóvel. Para muitos — principalmente para aqueles que vivem afastados dos grandes centros urbanos — é o único meio de mobilidade. E daí ser tão importante e valioso.

Do nosso lado há um compromisso, mesmo que também possamos falhar: procurar sempre a verdade, mesmo quando é menos «viral». Porque a mentira é pensada de raiz para ser partilhada, ganhar momento e espalhar-se. Já a verdade é o que é… e para nós é tudo.