Renault 5 é um dos lançamentos do ano mas tem um grande problema

A Renault fez uma aposta ousada e ao mesmo tempo nostálgica ao trazer de volta o icónico Renault 5, agora como um 100% elétrico. A inspiração no passado não deixa ninguém indiferente e quem gosta, gosta mesmo. E, felizmente para a marca francesa, há muita gente a gostar.

Basta ver que na primeira semana após ter sido apresentado acumulou mais de 50 mil pedidos de interesse e em novembro foi o elétrico mais vendido em França, à frente do Tesla Model Y e do Citroën ë-C3.

É certo que isto ainda pouco ou nada diz acerca do futuro e só o tempo nos dirá se o novo Renault 5 elétrico vai ser um sucesso ou um flop. Mas quanto mais penso nisto, mais certezas tenho de uma coisa: se tivesse versões a combustão, isto nem seria assunto.

Não desistam já de ler. Eu sei que um dos trunfos do novo Renault 5 é precisamente o facto de ser 100% elétrico. Isso assenta-lhe que nem uma luva, como já tive oportunidade de perceber, em primeira mão, quando o conduzi no sul de França (ver vídeo abaixo). Mas também sinto que isso poderá limitar o potencial de vendas deste modelo.

É a ideia com que também fico cada vez que perco algum tempo nas caixas de comentários de todos os conteúdos que fizemos com este elétrico. Não faltam interessados, mas muitos deles estão rendidos apenas à estética e não à tecnologia.

Os elétricos não são para todos. Ainda existem limitações nas autonomias e ao nível da infraestrutura de carregamento, assim como do preço. Já para não falar da resistência natural de uma parte dos consumidores à transição para a mobilidade elétrica.

Apresentação

Novo Renault 5 Turbo vai mesmo acontecer e supera os 500 cv

O Renault 5 Turbo regressa como um «monstro» elétrico com mais de 500 cv e tração traseira: fique a conhecer o R5 Turbo 3E. Só chega em 2026, mas já o fomos conhecer a Paris.

Joaquim Oliveira

Imaginem que a Renault conseguia colocar no mercado o R5 com o motor de três cilindros a gasolina de um litro e turbo do Clio, com 90 cv e 160 Nm. E que teria um valor semelhante, a rondar os 20 mil euros. Não sou mágico nem tenho uma bola de cristal, mas esta combinação só podia funcionar.

Não estou a dizer que um R5 a combustão iria tomar o lugar do Clio. São modelos muito diferentes. Mas o que o Renault 5 perde em espaço e versatilidade, compensa com personalidade e estilo. E nesta faixa de preço, são dois atributos muito valorizados.

Escusam de sonhar

Apesar de tudo o que disse acima, não há volta a dar: o novo Renault 5 só pode ser 100% elétrico. É impossível instalar outro tipo de motorização sobre esta plataforma (AmpR Small), desenvolvida só para veículos elétricos.

A confirmação foi feita por Vittorio d’Arienzo, responsável global por esta plataforma, dedicada aos elétricos compactos do Grupo Renault, em declarações à Automotive News Europe:

Não seria um Renault 5 se tivesse um motor híbrido. A plataforma não foi concebida para ter esse tipo de motorizações.

Vittorio d’Arienzo, responsável global pela AmpR Small do Grupo Renault

“A distribuição de peso seria completamente diferente, os testes de impacto de colisão do Euro NCAP seriam diferentes, a resistência ao rolamento e a aerodinâmica seriam completamente diferentes. O vão dianteiro (maior) mudaria a face do carro”, explicou Vittorio d’Arienzo.

Espero estar enganado

Dito isto, espero que não aconteça ao Renault 5 elétrico o mesmo que aconteceu ao Fiat 500e: estreou-se com dois anos de vendas pujantes na Europa e depois disso desapareceu quase por completo das tabelas de vendas.

Aliás, a produção do elétrico italiano foi suspensa durante todo o mês de dezembro, algo que já tinha acontecido algumas semanas em setembro e outubro.

Para contornar isto, a Fiat já confirmou que vai adaptar a atual geração do 500e para que ela possa receber uma motorização a combustão, com um sistema mild-hybrid. A produção arranca já no início de 2026.

O Renault 5 E-Tech Elétrico acerta em praticamente tudo, da imagem ao preço (sobretudo as versões de entrada), passando pela oferta tecnológica, pela posição de condução e pela eficiência. Mas lá está… é elétrico. E isso, para muitas pessoas, ainda é um contra gigante.

Volto ao ponto onde comecei: espero que o facto de ser elétrico não impeça o Renault 5 de colorir as cidades europeias. Seria muito injusto se assim fosse.

Miguel Dias

Futebol e automóveis, duas paixões que o perseguem. Começou por trabalhar na primeira mas acabou a perceber que aquilo que o fazia mesmo feliz era a segunda.

Renault, R5, Berlina

Elétricos, Renault, Renault 5