Opinião Salão de Genebra 2021. Rescaldo de um evento que não aconteceu

Editorial

Salão de Genebra 2021. Rescaldo de um evento que não aconteceu

Há quem defenda que os salões de automóveis têm os dias contados. Não é totalmente verdade. O Salão de Genebra fez falta a todos.

Março é, tradicionalmente, o mês das grandes novidades da indústria automóvel. O momento em que o setor se «veste a rigor» para apresentar os novos modelos e também as estratégias para os anos vindouros. Um momento que, antes da pandemia, ganhava corpo no Salão de Genebra — de longe o mais importante salão automóvel mundial.

O Salão de Genebra não aconteceu nem este ano, nem no ano passado, e há quem duvide que volte a acontecer. Há quem defenda que na «era digital» os salões de automóveis deixaram de fazer sentido.

Mesmo sem Salão de Genebra, a verdade é que as novidades das marcas foram apresentadas na mesma. A título de exemplo, este mês ficámos a conhecer o novo Nissan Qashqai, o Porsche 911 GT3, o Hyundai Bayon, os novos M3 e M4 da BMW, o novo Mercedes-Benz Classe C, o novo Volvo C40 e a lista podia continuar… — ainda este mês será apresentada também a nova geração do Peugeot 308.

O ÚLTIMO, EM 2019, FOI ASSIM: Todas as novidades do Salão de Genebra 2019 estão aqui
salão de genebra 2020
Salão de Genebra 2020. A imagem de um salão que não aconteceu. © Radical Mag

Tudo isto parece validar a opinião daqueles que defendem que os salões de automóveis têm os dias contados. A minha opinião é diferente: o Salão de Genebra não tem os dias contados. Nestes dois anos, o Salão de Genebra fez falta a todos — ainda que nem todos tenham dado conta.

Fez falta às marcas, fez falta aos meios e fez falta ao público em geral.

Perder o Salão de Genebra é perder o principal palco da indústria automóvel; é perder o momento em que a indústria pode marcar a agenda; é perder o antes, o durante e o depois do salão. É perder a atenção mundial, não só dos meios da especialidade, mas de toda a imprensa. É, sobretudo, perder a atenção das pessoas.

Parece um contrassenso, mas na era digital os eventos físicos fazem ainda mais sentido. Só assim é possível explorar todas as potencialidades dos diretos, dos vídeos, da fotografia, do momento. Não é apenas uma opinião, é um facto que nós constatámos nos últimos dois anos.

Nas semanas que antecedem o Salão de Genebra, as plataformas da Razão Automóvel conhecem um pico de visualizações superior ao normal. Um efeito que nos últimos dois anos também aconteceu, mas não com a mesma força. É esta a força do Salão de Genebra. E para dissipar qualquer dúvida, verificámos os dados de alguns meios da especialidade internacionais e a conclusão foi a mesma.

É que mesmo com o esforço das marcas — que se desdobraram em eventos digitais — sem o Salão de Genebra não é a mesma coisa. Não causa o mesmo impacto, nem tem o mesmo glamour. A indústria automóvel não se pode divorciar da sua magia.

No rescaldo deste evento que não aconteceu, não temos pejo em afirmar: o Salão de Genebra faz falta a todos.

Será o mesmo princípio aplicável a todos os salões? Talvez não. Porque o Salão de Genebra sempre foi um salão diferente de todos os outros. De resto, é inegável que estes eventos precisam de ser reinventados, porém, acabar com os salões de automóveis poderá ser um enorme erro. A indústria automóvel tem de voltar a ter orgulho em si mesma. E nós mal podemos esperar pelo próximo salão.