A história do Ford Model T é muitas vezes confundida com a própria história do automóvel. Mas não foi só no transporte rodoviário que a Ford deixou a sua marca nos livros de história.
Neste artigo do Espaço Ford x Razão Automóvel, vamos revelar-vos a importância da Ford no surgimento da aviação moderna, tal como hoje a conhecemos.
Do avião Ford Trimotor, às comunicações, sem esquecer as infra-estruturas aeroportuárias. A Ford contribuiu decisivamente em todos estes aspetos.
Henry Ford e o problema da aviação
Recuando ao início do século passado, ninguém olhava para o avião como um meio de transporte seguro, fiável e robusto —era precisamente o oposto. Henry Ford queria mudar isso e acreditava que o podia fazer.
Henry Ford acreditava que o avião podia ser um meio de transporte seguro… e rentável.
Desta vontade nasceu o Ford Trimotor: o avião de passageiros que democratizou as viagens aéreas. Um avião acessível, robusto e seguro. O “Model T voador” como acabou por ficar conhecido.
Desenhado por William Bushnell Stout, o Ford Trimotor tinha nos planos originais apenas… um motor. Porém, foi a adopção de três motores — como veremos adiante — que ditou numa parte substancial o seu sucesso comercial.
Era uma solução que aumentava a segurança, a capacidade e também a fiabilidade deste avião, eliminando — ou pelo menos reduzindo — o receio que muitas pessoas ainda tinham de avarias mecânicas. O Ford Trimotor conseguia voar de forma estável mesmo perdendo dois dos seus três motores, sendo mesmo capaz de aterrar em segurança com apenas um.
O facto de equipar três motores também lhe permitia voar mais alto e mais rápido do que outros aviões do mesmo período, alcançando uma velocidade de 240 km/h.
Como tudo começou
Temos de recuar até 1925, ano em que Henry Ford comprou a Stout Metal Airplane Company — por um valor que se estima que tenha rondado o milhão de dólares — para encontrar o início desta história.
A compra foi anunciada a 6 de agosto. Um anúncio que foi acompanhado de uma carta de intenções de Henry Ford, e um «aviso à navegação» para toda a indústria: “A primeira coisa que tem que ser feita com a navegação aérea é torná-la infalível… O que a Ford Motor Company quer fazer é provar se a aviação comercial pode ser segura e rentável”.
Tal como aconteceu com o automóvel, Henry Ford — que só andaria de avião pela primeira vez em 1927 — queria resolver os problemas associados à aviação. E foi precisamente isso que fez.
O Ford Trimotor foi concebido de raíz para transportar passageiros e foi um dos primeiros aviões a ser construído totalmente em metal. Produziram-se um total de 199 exemplares entre 1926 e 1933 — 79 unidades da variante 4-AT e 117 versões 5-AT, aos quais se somam ainda alguns modelos experimentais.
O sucesso do Trimotor pode ser comprovado pelas mais de 100 companhias aéreas em todo o mundo que voaram com o avião da oval azul. Podia transportar entre 11 e 17 passageiros, dependendo da versão, aos quais se somavam três tripulantes: piloto, co-piloto e hospedeira.
Influência da Ford foi além dos aviões
O impacto deste avião na indústria da aviação comercial foi imediato e profundo, mas a influência da marca da oval azul foi muito além das aeronaves.
A Ford ajudou, por exemplo, a revolucionar toda a infraestrutura adjacente a uma pista de descolagem/aterragem da época e introduziu elementos como terminais para os passageiros, hangares para guardar os aviões, pistas asfaltadas e até navegação por rádio.
O Trimotor foi também pioneiro no que às tecnologias de comunicação entre avião e terra diz respeito, com a Ford a demonstrar pela primeira vez que era possível manter contacto com os pilotos a partir do solo a distâncias de até 322 km (200 milhas).
Por causa destes testes pioneiros da Ford, algumas companhias aéreas começaram a usar sistemas de comunicação bidirecionais (pilotos/terra e terra/pilotos) tão cedo como 1929, naquilo que foi o início da criação do sistema espacial norte-americano, com o Trimotor a ser o protagonista, ajudando a criar uma rede de rotas domésticas nos EUA.
Foi também o primeiro avião a ser usado numa campanha de eleições, em 1932, por Franklin Roosevelt, que substituiu as até então comuns viagens de comboio, aproveitando todas as capacidades do Trimotor.
Ford Trimotor ainda «vive»
O «reinado» do Trimotor — que ficou eternizado no filme “Indiana Jones e o Templo da Perdição” de Steven Spielberg — acabou em 1933, ano em que deixou de ser produzido, significando também o fim deste capítulo da Ford no mundo da aviação.
Uma saída justificada pela quebra de vendas que coincidiu com a Grande Depressão e pelo foco da marca, sobretudo, nos automóveis. Mas o Trimotor não desapareceu.
Grande parte dos 199 exemplares construídos continuaram a voar até à década de 60 do século passado, com muitos deles a serem convertidos em aviões de transporte de carga. Antes disso, na Segunda Guerra Mundial, várias unidades do Trimotor foram convertidas e usadas na aviação militar.
Aviação também chegou aos automóveis
A Ford pode já não fabricar aviões, mas não esquece o passado. A inspiração no mundo da aviação continua a estar presente em alguns dos seus modelos.
O Ford GT tem uma carroçaria inspirada na fuselagem de um avião e usa aerodinâmica ativa, cujo principal exemplo é a engenhosa asa traseira que ajusta a posição de acordo com a velocidade e com o modo de condução.
Já a pick-up Ford F-150 foi a primeira do seu segmento a apresentar uma carroçaria em liga de alumínio de alta resistência, um material que foi desenvolvido originalmente para a aviação, pela maior leveza em relação ao aço.
A somar a isso, a ligação da Ford com o setor da aviação é mantida através do apoio à Experimental Aircraft Association Gathering of Eagles, uma organização norte-americana que tem como objetivo incentivar os jovens a seguir uma carreira na aviação.
ÚLTIMA EDIÇÃO: Ford Pro. Como a conectividade está a mudar a gestão de frotas
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