Depois de quase 20 anos afastada, a Ford confirmou este ano que vai regressar à Fórmula 1 através de uma parceria estratégia técnica com a Red Bull Powertrains.
Esta relação tem início já em 2023, mas os primeiros frutos só serão materializados em 2026, com a entrada em vigor dos novos regulamentos técnicos da Fórmula 1. Será nessa altura que a Red Bull Ford Powertrains começará a fornecer as unidades de potência à Red Bull Racing e à AlphaTauri.
É o regresso da marca da oval azul ao pináculo do desporto automóvel, interrompendo uma ausência de praticamente duas décadas e abrindo mais um capítulo numa história que já é longa; a primeira ligação da Ford à Fórmula 1 foi na década de 60, com o motor DFV (Double Four Valve).
A Ford é a terceira construtora de motores mais bem sucedida da história da Fórmula 1, apenas atrás da Mercedes-Benz e da Ferrari. E tudo começou com o motor DFV.
A NÃO PERDER: 24 Horas de Le Mans. Quando a Ford venceu (e quase comprou) a FerrariDFV, o motor que arrancou tudo
Construído em 1967, em parceria com a Cosworth Racing, o lendário motor DFV deu a primeira vitória à Ford apenas dois meses depois de ter sido revelado, pela mão de Jim Clark, a correr com um Lotus.
A esta vitória seguiram-se outras 154, a última delas no Grande Prémio do Mónaco de 1983, com Keke Rosberg, antes do início da era dos Turbos.
Apesar da despedida, o DFV saiu de cena com um título que nenhum outro motor alcançou: é o motor mais bem sucedido de sempre da história da Fórmula 1.
O domínio deste motor foi tão grande que em 1968, 11 das 12 corridas da época foram ganhas por monolugares animados por este bloco da Ford, sendo que no final da temporada o pódio do mundial de construtores era ocupado por três equipas com motores Ford: Lotus, McLaren e Matra.
A NÃO PERDER: Os sete modelos mais importantes da história da FordNo ano seguinte, em 1969, a Ford — e o seu motor DFV — fez ainda melhor, assinando vitórias em todas as corridas da temporada e “alimentando” os três melhores pilotos do ano — Jackie Stewart (1.º), Jacky Ickx (2.º) e Bruce McLaren (3.º) — e os quatro melhores construtores — Matra, Brabham, Lotus e McLaren.
Foram anos dourados os que se seguiram, até à reforma do motor DFV em 1983. Mas depois disso, já na era dos motores Turbo e naturalmente aspirados na Fórmula 1, Ford continuou a ser sinónimo de vitórias.
A primeira vitória de Schumacher
Do primeiro título com Graham Hill e a Lotus em 1968 até ao último, com Michael Schumacher e a Benetton em 1994, a Ford teve um papel fundamental em 13 vitórias de pilotos em mundiais e em 10 títulos de construtores, inscrevendo o famoso logótipo da oval azul na história desta categoria.
E é precisamente esse último triunfo, o primeiro de Schumacher na Fórmula 1, que ainda hoje é recordado com mais nostalgia, já que foi o início de uma carreira com sete títulos mundiais.
Com as cores da Benetton e com um motor Ford Zetec R V8, “Schumi” conquistou oito das 16 corridas da temporada e venceu o mundial de pilotos com um ponto de vantagem sobre Damon Hill, da Williams-Renault, que acabou por vencer o campeonato de construtores.
O início do declínio
Dificilmente os primeiros 28 anos da Ford na Fórmula 1 podiam ter corrido melhor. Mas a partir de 1995, as vitórias desapareceram e o divórcio da marca norte-americana com a categoria rainha do desporto automóvel começou, aos poucos, a desenhar-se.
Em 1995 o melhor que a Ford conseguiu na Fórmula 1 foi um terceiro lugar com Heinz-Harald Frentzen, da Sauber, no Grande Prémio de Itália. No ano seguinte, a alimentar os monolugares da Red Bull Sauber, da Minardi e da Forti, não fez melhor.
Seguiram-se dois anos (1997 e 1998) sem qualquer vitória, algo que só acabaria por chegar em 1999, com o triunfo de Johnny Herbert, da Stewart-Ford, no Grande Prémio da Europa.
A base da Red Bull Racing atual
Em 2000, a Ford comprou a equipa Stewart Grand Prix e transformou-a na Jaguar Racing, com a dupla de pilotos Eddie Irvine e Jonny Herbert.
E a verdade é que os monolugares da Jaguar — pintados com o famoso British Racing Green — deram poucos motivos de festa à Ford. Acabou por vender a equipa à Red Bull em 2005, que correu com os carros da Jaguar esse ano e que estabeleceu as bases para o que viria a ser a Red Bull Racing, uma das construtoras mais vitoriosas da Fórmula 1 nos últimos 15 anos e a equipa com que a Ford vai protagonizar o regresso a esta categoria.
LEIAM TAMBÉM: Oval azul da Ford. A história de um dos logótipos mais reconhecidos do mundoPelo meio, em 2003, a marca da oval azul ainda celebrou a última vitória de um monolugar com motor Ford na Fórmula 1: Giancarlo Fisichella venceu o Grande Prémio do Brasil desse ano ao volante de um Jordan Ford.
Um regresso muito antecipado
Só outras duas construtoras assinaram mais vitórias na Fórmula 1 do que a Ford, pelo que o regresso da marca norte-americana ao pelotão da F1 sempre foi tema de debate.
Este ano a Ford resolveu acabar com as dúvidas e confirmou a notícia que muitos queriam ouvir há vários anos. Vamos voltar ver carros com o logótipo da Ford a correr na Fórmula 1.
Este é o início de um novo capítulo emocionante na história do automobilismo para a Ford, que começou quando o meu bisavô (Henry Ford) venceu uma corrida que ajudou a lançar a nossa empresa.
Bill Ford, presidente executivo da Ford Motor Company
A partir de 2026 e até pelo menos 2030, a Ford, em parceria com a Red Bull Powertrains, vai fornecer as unidades de potência à Red Bull Racing e à AlphaTauri na Fórmula 1, que vão começar a ser desenvolvidas já este ano.
Para isso será necessário não só desenvolver um novo motor elétrico com 350 kW de potência, cerca de 476 cv, como desenvolver de raíz um motor de combustão que vai consumir combustíveis sustentáveis, para obedecer às novas regras que a Fórmula 1 vai introduzir precisamente em 2026.
Não faltam por isso motivos de interesse em torno deste regresso da Ford à Fórmula 1. E mesmo que ainda estejamos a três anos de distância, já só apetece dizer uma coisa: senhoras e senhores, liguem os motores!
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