Ensaio Sem rádio e com botões ao contrário. Dongfeng Box não vai ter vida fácil

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Sem rádio e com botões ao contrário. Dongfeng Box não vai ter vida fácil

O Box marca a estreia da Dongfeng na Europa, mas num ano em que vão chegar tantos elétricos compactos ao mercado, o que o distingue do grupo?

Dongfeng Box

6.5/10

O Dongfeng Box quer ser um elétrico acessível e capaz de fazer mossa no mercado. Mas será que tem o que é preciso?

Prós

  • Espaço
  • Equipamento de série
  • Consumos

Contras

  • Direção muito vaga
  • Performances
  • Velocidade de carregamento
  • Ausência de rádio FM/AM
  • Instrumentação com pouca leitura

A Dongfeng, uma das maiores construtoras chinesas, acaba de aterrar em Portugal com o Box, um pequeno utilitário elétrico para o segmento B que tem preços a começar nos 26 750 euros.

Apesar de espaçoso e estar recheado de equipamento, o Dongfeng Box falha em alguns aspetos básicos: não tem rádio FM/AM, as velocidades de carregamento são baixas e o painel de instrumentos é praticamente impossível de ler (os grafismos são mesmo muito pequenos).

Será suficiente para ditar o destino deste modelo no nosso país? Ou há margem para o Dongfeng Box conquistar o seu espaço num segmento que em 2025 será inundado de propostas como o Renault 5 E-Tech, Citroën ë-C3 e Hyundai Inster? A resposta no vídeo:

Ares de Smart #1

Não posso ser o único a ver isto: de frente, o Dongfeng Box tem ares de Smart #1, basta olhar para a assinatura luminosa, que atravessa toda a largura do modelo.

Contudo, não posso falar da imagem do Box sem lhe apontar uma crítica que se estende a muitos modelos que estão a chegar da China: tem um visual genérico, sem nada que nos diga que se trata de uma nova marca no mercado nacional.

É certo que os puxadores de portas embutidos e os vidros sem moldura superior são características invulgares e quase inéditas neste tipo de utilitários, mas de maneira geral, o Box é demasiado convencional.

Equipamento de sobra

No interior, o Box acaba por impressionar mais, sobretudo se tivermos em conta que se trata de uma proposta de segmento B.

As muitas superfícies revestidas em pele sintética com pespontos não passam despercebidas, assim como os plásticos duros e de baixa qualidade que encontramos no topo das portas e do tabliê.

O que também se destaca pela negativa são os botões dos vidros elétricos nas portas, que funcionam ao contrário do que estamos habituados. E sobre isto, só me apetece perguntar: o que estavam a pensar os engenheiros da Dongfeng?

botões vidros elétricos
© Razão Automóvel Não se compreende porque é que os botões dos vidros elétricos funcionam ao contrário do esperado.

Ainda sobre os pontos negativos, tenho de apontar o facto de apenas termos uma porta USB do tipo A — em 2025, não faz sentido —, e de no sistema de infoentretenimento não termos qualquer leitor de rádio FM/AM.

Sim, isso mesmo, se quiser ouvir rádio só mesmo através do smartphone, que felizmente se pode ligar ao Box, por fios, através de Android Auto e Apple CarPlay.

Por fim, é impossível não falar do painel de instrumentos, que não tem qualquer leitura quando estamos a conduzir. Isto precisa de ser revisto.

Nem tudo é mau. Há coisas boas. Além do rol de sistemas de ajuda à condução, o Box destaca-se por exibir um ecrã de 12,5’’ ao centro do tabliê e por oferecer um banco do condutor com aquecimento, arrefecimento, ajustes elétricos e memórias.

Espaço satisfatório

O Box não é o mais amplo do segmento, mas dá boa conta de si. Nos bancos traseiros, por exemplo, há bastante espaço para as pernas e para a cabeça, mas a posição do corpo é estranha. O piso do habitáculo é alto e os bancos afundam bastante, o que rouba muito suporte à zona das coxas.

A versatilidade também sai prejudicada por ter um banco traseiro corrido. Se precisar de rebater o banco traseiro para aumentar a capacidade da bagageira, perde todos os lugares traseiros. Os concorrentes permitem rebater em duas partes (40/60).

Mas talvez não seja preciso rebater o banco muitas vezes: a bagageira do Box está entre as maiores do segmento com 326 l. São mais 16 litros do que a do Citroën ë-C3 e mais 50 litros do que a do Renault 5 E-Tech.

Só uma versão

O Dongfeng Box chega a Portugal só com uma motorização, que assenta num pequeno motor elétrico com 70 kW (95 cv) de potência e 160 Nm de binário.

Dongfeng Box, traseira 3$
© Razão Automóvel

Por isso mesmo, não espere performances emocionantes: a aceleração dos 0 aos 100 km/h faz-se em 12,5s. Para a cidade é mais que suficiente, mas uma das primeiras coisas que reparei é que depois dos 60/70 km/h, o Box ressente-se ligeiramente dessa tarefa.

Fora da malha urbana, estes números são curtos e fiquei algumas vezes a desejar ter mais potência e disponibilidade, nomeadamente nas incursões por autoestrada.

Direção precisa de trabalho

A suspensão é muito macia e claramente orientada para o conforto. Por isso mesmo, a carroçaria acaba por mexer-se bastante, ainda que a estabilidade nunca seja uma questão.

Já a direção é vaga, leve e muito artificial. Além disso, praticamente não se altera quando navegamos entre os vários modos de condução disponíveis.

Não esperem, por isso, qualquer aptidão mais desportiva por parte do Box, que claramente se sente à vontade nos ritmos mais tranquilos e relaxados da cidade.

E os consumos?

O Box redime-se na eficiência do sistema elétrico e nos consumos contidos com que nos brinda. Fiz mais de 500 quilómetros e acabei com uma média de 14,6 kWh/100 km.

Dongfeng Box, perfil
© Razão Automóvel

É um número interessante, sobretudo tendo em conta que o meu percurso diário é verdadeiramente misto: cerca de 50% em autoestrada e os restantes 50% divididos por vias rápidas, estradas secundárias e zonas urbanas.

Já quando andei exclusivamente em cidade, é possível fazer ainda melhor: é uma tarefa relativamente fácil ficar em torno dos 12,5 kWh/100 km.

Se usarmos como referência os 14,6 kWh/100 km de média e tivermos em conta os 42,3 kWh da bateria LFP, é possível arrancar cerca de 290 quilómetros por carregamento. Não fica muito longe dos 310 km oficiais em ciclo combinado WLTP. Mas em cidade, usando os 12,5 kWh/100 km que obtive, este número cresce para perto dos 340 km.

Mas tal como referi acima, um dos maiores contras aparece na hora de carregar. Isto porque o Box está limitado a 6,6 kW de potência de carga em corrente alternada (AC) e 87,8 kW em corrente contínua (DC).

Faz sentido comprar?

Com preços que arrancam nos 26 750 euros, o Dongfeng Box não está entre os elétricos mais acessíveis do mercado: existe o Dacia Spring (menos de 20 mil euros) e o Citroën ë-C3 (23 300 euros, mas vai ter versão por menos de 20 mil euros). O Renault 5 E-Tech também está prestes a receber uma versão que vai ficar por cerca de 25 mil euros.

Além disso, este ano vamos assistir a uma enxurrada de modelos 100% elétricos, todos na casa dos 25 mil euros: Hyundai Inster, CUPRA Raval, Skoda Epiq, Volkswagen ID.2 e Kia EV2. Por isso mesmo, o Dongfeng Box não deverá ter vida fácil no nosso mercado.

Quando começamos a percorrer a lista de equipamento de série do Box, percebemos que estes 26 750 euros (ou 28 600 euros no caso da versão testada) não estão desajustados.

Contudo, é preciso que o potencial comprador valorize esse mesmo equipamento em detrimento, por exemplo, de uma condução mais dinâmica ou de um visual menos anónimo.

Além disso, na proposta que testei, que já ultrapassa a barreira dos 28 mil euros, tenho dificuldade em justificar detalhes como a ausência de rádio ou a direção invertida dos botões dos vidros elétricos.

Veredito

Dongfeng Box

6.5/10

O Dongfeng Box tem na utilização em cidade o seu principal argumento. É capaz de consumos baixos, não compromete no espaço e está recheado de equipamento. Mas falha em questões chave: a direção precisa de ser melhorada, os carregamentos são lentos, o painel de instrumentos não tem leitura e os preços não são tão baixos quanto deviam.

Prós

  • Espaço
  • Equipamento de série
  • Consumos

Contras

  • Direção muito vaga
  • Performances
  • Velocidade de carregamento
  • Ausência de rádio FM/AM
  • Instrumentação com pouca leitura

Especificações Técnicas

Versão base:26.755€

IUC: -3€

Classificação Euro NCAP: 0/5

28.605€

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:1 motor elétrico
  • Posição:Dianteira transversal
  • Carregamento: Bateria: 43,9 kWh (42,3 kWh úteis)
  • Potência: 70 kW (95 cv)
  • Binário: 160 Nm

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Automática de uma velocidade

  • Comprimento: 4030 mm
  • Largura: 1810 mm
  • Altura: 1570 mm
  • Distância entre os eixos: 2660 mm
  • Bagageira: 326 litros
  • Jantes / Pneus: 215/55 R17
  • Peso: 1430 kg

  • Média de consumo: 15,6 kWh/100 km; Autonomia: 310 km
  • Velocidade máxima: 140 km/h
  • Aceleração máxima: >12,5s

    Tem:

    • Controlo de Assistência ao Arranque em Subida
    • Sistema de Monitorização da Pressão dos Pneus
    • Volante multifunções em pele sintética
    • Jantes em alumínio de 17”
    • Travagem Autónoma de Emergência
    • Alerta de Colisão Dianteira
    • Sistema de manutenção à faixa de rodagem
    • Reconhecimento de sinais de trânsito
    • Monitorização da Fadiga de condutor
    • Sensores de Estacionamento Dianteiros
    • Auxílio ao Estacionamento Traseiro
    • Câmara de Auxílio ao Estacionamento Traseiro
    • Câmara assistência ao Estacionamento 360 graus
    • Cruise Control Adaptativo
    • Entrada Keyless
    • Painel de Instrumentos Digital de 5”
    • Ecrã Central Tátil de 12,8”
    • Carregador por Indução para smartphone
    • Sistema de som com 6 altifalantes
    • Conexão por Bluetooth (áudio)
    • Bancos em pele sintética
    • Banco do condutor com aquecimento, ventilação, função de memória e ajuste elétrico
    • Grupo Óticos em LED
    • Controlo Automático dos Máximos
    • Retrovisores exteriores com aquecimento e recolha elétrica
    • Ar Condicionado Automático