Mercedes-Benz GLC híbrido plug-in. Faz mais de 100 km sem gastar gasolina?

Se tiver sítio para carregar, vai-se (quase) esquecer que o Mercedes-Benz GLC híbrido plug-in tem um motor a gasolina.

---

Com pouco tempo de diferença entre os ensaios da Classe E All-Terrain e deste GLC, não consegui deixar de pensar no quanto estes dois modelos se cruzam. Mesmo sem pertencer ao mesmo segmento. A All-Terrain é uma carrinha familiar que deseja ser um SUV, enquanto o GLC é um SUV que se apresenta como um versátil familiar.

Além do formato, em ambos os casos, tenho disponível um dos sistemas híbridos plug-in mais avançados do mercado, capaz de percorrer mais de 100 quilómetros — graças a uma bateria com 24,8 kWh (útil) — sem sequer ter de acordar o motor de combustão. A grande diferença está nas «companhias».

Na All-Terrain, este sistema híbrido é acompanhado de um motor Diesel com dois litros de capacidade. No caso deste GLC, é um motor a gasolina que tem precisamente com a mesma capacidade.

Em termos de preço (no caso das unidades ensaiadas), a diferença não chega aos quatro mil euros. Curiosamente, se em vez do motor a gasolina o GLC também tivesse o Diesel, esta mesma diferença ficava resumida a mil euros. Dá que pensar…

Visual sem surpresas

O Mercedes-Benz GLC é um dos maiores casos de sucesso da marca alemã, pelo que o seu visual não se afasta muito da ideia original. Na última atualização, aproximou-se mais da que vemos no Classe C, com óticas dianteiras e traseiras de desenho mais esguio e um ligeiro refinamento das linhas.

A bordo, aconteceu precisamente o mesmo. O ecrã central de comando tátil posicionado mais na vertical conquista a maior dose de protagonismo, tal como no Classe C. As saídas da ventilação são idênticas, tal como o painel de instrumentos totalmente digital e até a posição de condução se mantém quase perfeita e com amplas regulações.

Em termos de espaço não há surpresas a registar, seja nos lugares da frente, nos traseiros ou mesmo na bagageira, que tem disponíveis uns muito simpáticos 470 litros de capacidade e com um plano de carga na mesma altura do piso.

Isto não acontece na All-Terrain, por exemplo, que tem uma altura total inferior e precisou do mesmo espaço para arrumar a bateria do sistema híbrido.

Quase um 100% elétrico

O grande destaque deste Mercedes-Benz GLC é mesmo o seu sistema híbrido plug-in. Por esse motivo, e aproveitando o facto de a bateria estar nos 100% no início do ensaio, comecei por um exercício simples: quantos quilómetros consigo percorrer sem usar o motor de combustão?

Para isso, recorri ao modo de condução “EL” — privilegia a utilização da vertente elétrica do sistema, enquanto houver carga na bateria —, num cenário de condução perfeitamente «normal», em horas de maior tráfego e sem exageros de ritmo, tanto para mais como para menos.

Os números oficiais indicam 125 km de autonomia elétrica (considerando as jantes de 20″ opcionais que equipavam a nossa unidade), mas o motor de combustão lá despertou do seu sono mais prolongado, ao fim de 92 quilómetros percorridos. Faltou só um bocadinho para chegar aos 100 km…

Estes 92 km resultaram da soma de dois percursos, de distâncias praticamente idênticas (45 km e 47 km), sem variação na velocidade média (28 km/h). Os consumos foram o aspeto que mais variou por percurso: 22,6 kWh/100 km e 26,1 kWh/100 km.

Curiosamente, os 92 km são precisamente o valor indicado pela marca na simulação de autonomia elétrica realista no seu website: temperatura de 10 ºC, utilização de 10%, 55% e 35% (respetivamente, zona urbana, estrada interurbana e autoestrada) e climatização ligada.

Caso tenha acesso a um ponto de carga em casa ou no local de trabalho, o Mercedes-Benz GLC 300 e pode ser perfeitamente utilizado no dia a dia como se fosse um 100% elétrico e em que o motor de combustão apenas anda a passear de um lado para o outro, sem ser utilizado.

Com gasolina na equação

Ainda assim, a melhor surpresa é mesmo se deixar o sistema atuar em modo automático, alternando entre uma condução 100% elétrica e a que usa o motor de combustão sempre que necessário.

Neste modo “H”, o híbrido, registei um consumo de eletricidade de 16,9 kWh/100 km e 3,5 l/100 km de gasolina. A percentagem de utilização do modo 100% elétrico é de cerca 65%, sempre em percursos mistos, com alguma autoestrada pelo meio.

Caso o GLC não tivesse saído do ambiente urbano, a percentagem de utilização da máquina elétrica seria ainda maior, graças às maiores oportunidades de regeneração de energia.

Face à All-Terrain que testei recentemente — opção também disponível no GLC —, a grande vantagem está na autonomia total. Com o motor Diesel, a autonomia combinada total pode superar os 1000 km, no caso do GLC com este motor a gasolina, anda à volta dos 500 km.

Eficiência à parte

Além de toda esta conversa de consumos e eficiência do sistema híbrido, também é necessário considerar que este SUV — com mais de 2,3 toneladas —, também tem disponíveis 313 cv de potência máxima combinada e um binário de 550 Nm, em conjunto com um sistema de tração integral e uma caixa de velocidades automática de nove relações.

Ou seja, quem for ao volante, também vai descobrir que este SUV também é muito competente do ponto de vista dinâmico.

A maior altura ao solo do Mercedes-Benz GLC permite circular por caminhos menos próprios sem grandes dificuldades e quase sem beliscar a nota do conforto sentido a bordo. A presença da suspensão pneumática garante-o.

A direção é precisa, os movimentos da carroçaria são muito bem controlados e a disponibilidade de binário vai sendo gerida da melhor forma entre ambos os eixos, com uma percentagem de utilização — quase cúmplice com o condutor — que dá algum protagonismo às rodas traseiras.

Seja em asfalto ou fora dele, o GLC mostrou-se até divertido de conduzir num ritmo mais elevado, com a ajuda acrescida do sistema de quatro rodas direcionais e da suspensão pneumática — fazem parte do Pack Engineering, que é fornecido de série.

A presença do modo de condução offroad, que inclui grafismos e informações específicas no ecrã central e na instrumentação, também ajudou nesta apreciação.

E agora, as más notícias

Este é aquele tema que, numa grande maioria de casos, acaba por estragar todo o entusiasmo com que estava até este momento.

Para adquirir um Mercedes-Benz GLC 300 e 4Matic, são necessários 73 650 euros. A lista de equipamento de série até é bastante extensa, mas não inclui alguns dos «mimos» da unidade testada, que só estão disponíveis como opção.

Entre eles temos o pack AMG Premium, que por si só adiciona quase 10 mil euros à fatura. Contas feitas, o Mercedes-Benz GLC 300 e 4Matic testado ultrapassa a fasquia dos 86 mil euros.