Foi uma das pioneiras na eletrificação do automóvel há décadas com a tecnologia híbrida, mas só em 2020 é que a Lexus lançou no mercado o seu primeiro modelo elétrico, o UX 300e que se apresenta aqui em teste.
O nosso primeiro contacto dinâmico aconteceu o ano passado e não poderia ter sido mais curioso, com o Guilherme a conduzi-lo na Base Aérea do Montijo, um local deveras… invulgar para um primeiro contacto.
Mas agora, meio ano depois, nada de bases aéreas, apenas as estradas e estradinhas urbanas e suburbanas do dia a dia que deu para colocar à prova de forma bem mais abrangente o primeiro elétrico da Lexus.
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Como vimos em alguns rivais, como o recente Mercedes-Benz EQA, também a Lexus decidiu adaptar uma plataforma já existente e concebida originalmente para veículos com motores de combustão, neste caso a conhecida GA-C.
Uma opção que traz alguns compromissos, sobretudo em matéria de habitabilidade e espaço para bagagens. Mas não é o que acontece com o UX elétrico. É que o UX 300e tem uma bagageira 47 l maior do que a do híbrido UX 250h. Tal… “anomalia” deve-se ao facto de o depósito de combustível do híbrido, localizado por baixo da bagageira, ter sido (obviamente) removido.
Mesmo assim, os 367 l anunciados estão longe de convencer totalmente (assim como o acesso algo elevado) tendo em conta o segmento e até as dimensões deste crossover. Mesmo assim, supera um pouco os 340 l do EQA (para todos os efeitos a variante elétrica do GLA, que tem 435 l).
Gostaria de dizer que os ocupantes traseiros foram igualmente beneficiados, mas… não. A segunda fila do UX já não era famosa pela sua acessibilidade e cotas, mas nesta variante elétrica, com a bateria de 54,3 kW colocada no chão da plataforma entre os eixos, nota-se uma redução da altura útil, pois o piso do habitáculo teve de subir.
Os joelhos ficam mais altos, mas é o espaço para os pés que mais se ressente. Caso o condutor ou passageiro dianteiro leve o banco numa posição baixa, os passageiros atrás deixam de ter espaço para “arrumar” os pés por baixo dos bancos — nesta versão Luxury + (topo de gama) que estamos a testar, os bancos são itens substanciais, sendo aquecidos e ventilados. À frente, estas limitações espaciais não existem, não se detetando diferenças em relação aos UX híbridos.
No lugar principal
Instalados no lugar do condutor, somos brindados com um tabliê de desenho distinto, que mistura o analógico com o digital, nem sempre da maneira mais congruente, mas é o sistema de infoentretenimento que mais dificuldades coloca, não conseguindo convencer na usabilidade, seja pelo design do interface, seja pelo sensível touchpad para o controlar.
Porém, sendo um Lexus, o interior impressiona pela montagem robusta — uma das referências do segmento —, pelos materiais agradáveis ao toque e, quando em marcha, pela sua sua capacidade de nos isolar do exterior. O único reparo é em autoestrada, onde a passagem do vento se torna mais evidente do que seria o esperado, mas nada de alarmante.
Suave, suave, suave
Esse refinamento que exibe é complementado por uma característica suavidade na sua forma de fazer as coisas. Tal como no UX híbrido e noutros Lexus estas duas características acabam por dar origem a uma experiência de condução agradável e relaxante, mas que não impedem de o UX desiludir no capítulo dinâmico — bem pelo contrário…
Todos os Toyota/Lexus com base GA-C em que temos colocado as mãos mostram ter aptidões dinâmicas muito saudáveis e de elevada eficácia, com uma direção precisa (no caso do UX, muito leve, mas em Sport fica melhor e até a ação fica mais linear) e uma frente incisiva, e movimentos controlados da carroçaria. O que não deixa de surpreender precisamente pela suavidade que caracteriza este elétrico e o conforto de rolamento que oferece.
Só se lamenta a ação do controlo de tração que, mesmo quando o desligamos, efetivamente não desliga, fazendo-se sentir de forma intrusiva, obrigando a ter um pé direito mais sensível sobre o acelerador.
Os 204 cv do único motor elétrico posicionado sobre o eixo dianteiro também garantem prestações céleres (7,5s nos 0-100 km/h), melhores que, por exemplo, as do seu rival de ocasião EQA. Uma consequência também da massa mais contida do UX. É certo que os quase 1800 kg que acusa estão (muito) longe de o tornar um peso-pluma (mais 170 kg que o híbrido), mas são à volta de 250 kg a menos que, por exemplo, o EQA, que fica a norte das duas toneladas.
Uma das razões para esta diferença substancial reside no facto de a bateria não ter refrigeração líquida, mas sim uma mais simples refrigeração a ar (recorre ao mesmo circuito de refrigeração de ar do habitáculo). A Lexus justifica a decisão por esta opção pela mencionada redução de massa e também redução da complexidade.
De acordo com a marca, não faltam sistemas de monitorização da bateria para que esteja sempre numa temperatura ótima, mas a verdade é que cheguei a notar alguma perda de potência após alguns minutos prolongados de abuso, em condução agressiva, com muitas acelerações e desacelerações fortes.
Porém, como referi, o Lexus UX 300e é mais sobre suavidade que agressividade e adotando uma condução mais suave, permite na mesma manter ritmos apressados sem colocar questões à bateria. Mesmo assim, o modo Sport foi o meu preferido, mesmo em condução regular — a direção fica com peso e resposta mais assertiva e o acelerador fica mais acutilante —, ao contrário do que acontece com outros modelos.
É o carro certo para mim?
O Lexus UX 300e apresenta-se com um agradável conjunto de características, mas a sua cadeia cinemática elétrica não convence como noutras propostas rivais. A marca anuncia entre 305-315 km de autonomia, um valor razoável, mas abaixo dos seus oponentes, com o crossover elétrico a estar mais indicado para um uso urbano e suburbano. Durante a sua estadia comigo, nunca fiquei longe da autonomia anunciada, ficando-se pelos 280-290 km.
Porém, os 17 kWh registados em cidade e os 18 kWh com vias rápidas à mistura estão longe de brilhar (mesmo não fugindo dos valores oficiais), quando existem rivais, como o mais pesado e menos potente EQA a conseguir registos similares ou o ID.4 da Volkswagen a baixar para os 15-16 kWh/100 km. Em autoestrada, vemos 25 kWh/100 km ou até ligeiramente mais.
Acaba por impressionar mais o nível de equipamento a bordo destes Luxury + (ver lista abaixo), extremamente completo — não havia extras na nossa unidade.
O que ajuda a justificar o preço de quase 65 mil euros que, apesar de elevado, fica em paridade com os dos rivais mais diretos, que somos obrigados a carregar de opcionais para ficarem equiparados a este nível. Existem outras versões do UX 300e, com menos equipamento, com a mais acessível, Executive +, a começar nos 52 500 euros.
Lexus UX 300e Luxury +
Agradável de conduzir, muito refinado e suave no trato, e excelentemente bem montado, mas torna-se difícil construir um caso sólido em recomendar o primeiro elétrico da Lexus. Não só o irmão híbrido 250h continua a ser a melhor escolha para um particular (e capaz de consumos modestos), mas sobretudo pelas outras propostas elétricas que começam a chegar ao mercado — e estão a chegar muitas mais —, que têm atributos mais convincentes. Não só conseguem ir mais longe, como têm uma maior versatilidade de uso.
O UX, no entanto, continua a ser uma proposta de estilo e soluções muito próprias — e ainda bem que assim o é, mesmo não sendo do agrado de todos —, continuando a residir aí grande parte do seu apelo.
Prós
- Montagem referencial
- Equipamento de série
- Refinamento
- Conforto
Contras
- Potência máxima de carregamento baixa (50 kW)
- Sistema de infoentretenimento
- Espaço atrás
- Ação do controlo de tração
Versão base:€52.500
Classificação Euro NCAP:
€64.850
Preço unidade ensaiada
- Arquitectura:Motor elétrico
- Posição:Dianteira Transnversal
- Carregamento: Bateria de iões de lítio: 54,3 kWh
- Potência: 204 cv
- Binário: 300 Nm
- Tracção: Dianteira
- Caixa de velocidades: Caixa redutora (uma relação)
- Comprimento: 4495 mm
- Largura: 1840 mm
- Altura: 1545 mm
- Distância entre os eixos: 2640 mm
- Bagageira: 367 l
- Jantes / Pneus: 225/50 R18
- Peso: 1785-1840 kg (EU)
- Média de consumo: 16,8-17,1 kWh/100 km; Autonomia: 305-315 km
- Velocidade máxima: 160 km/h (limitada)
- Aceleração máxima: >7,5s
- Cabo de carregamento doméstico (7,5m)
- Lexus Safety System +
- Sistema de Pré-Colisão (PCS)
- Sistema de fixação para cadeiras bebé + i-Size ISOFIX
- Apple CarPlay®, Android Auto®
- Lexus Link serviços conetados
- Vidros escurecidos
- Carregador wireless
- Bancos dianteiros de ajuste elétrico (com apoio lombar) em pele aquecidos e ventilados
- Bancos traseiros em pele aquecidos
- Teto de abrir elétrico
- Faróis tri-LED
- Blind Spot Monitor (BSM)
- Rear Cross Traffic Alert and Braking (RCTAB)
- Head-Up Display (HUD)
- Sistema de navegação Lexus Premium
- Ecrã do sistema multimédia 10.3''
- Sistema áudio com 13 colunas Mark Levinson® Premium Surround Sound
- Porta da bagageira com abertura e fecho elétrico
- Jantes em liga leve 18''
Sem comentários
Testámos o UX 300e, o primeiro elétrico da Lexus. Ficámos convencidos?
O Lexus UX 300e é o primeiro elétrico da marca (mais estão a caminho). Promete mais de 300 km de autonomia, mas enfrenta rivais que já oferecem muito mais.
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