Novo Kia EV3 é o rei da autonomia mas tem um problema

O Kia EV3 preenche as «caixas» quase todas, mas o seu sucesso pode esbarrar no preço.

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A gama EV da Kia tem conhecido um sucesso importante com o EV6 e o mais recente EV9 ajudou a transformar a imagem da marca sul-coreana na Europa. Agora, a Kia volta a apostar na mesma fórmula, mas ajustada a um segmento mais acessível.

Pensado para ser a «cara» da marca no segmento dos SUV elétricos compactos (leia-se B-SUV), o EV3 tem muitos e bons argumentos para ser um verdadeiro caso de sucesso.

Tem a maior autonomia do segmento, tem espaço para «dar e vender», está bem equipado e é muito agradável de conduzir. Mas não são tudo rosas, como explico neste vídeo:

Parece maior do que é

Com 4,30 m de comprimento, o EV3 é cerca de 21 cm mais curto do que o Kia Sportage, ainda que a distância entre-eixos seja praticamente a mesma. E isso já diz muito acerca do aproveitamento de espaço deste modelo, que sofre de um fenómeno que já tinha assistido nos «irmãos» EV6 e EV9: parece muito maior ao vivo do que nas imagens.

Acontece o mesmo com o comprimento e com a largura, muito acentuada pela assinatura luminosa bastante rasgada e puxada para as extremidades. Por fim, e acredito que para surpresa de muitos, tem 1,56 m de altura, que é exatamente o mesmo do que o Volkswagen ID.3, um hatchback.

Quando ultrapassamos a questão das dimensões, há um detalhe que salta à vista: o EV3 parece um mini-EV9. E digo-o como um elogio. Consegue ser ousado e marcante sem ter que enveredar por linhas demasiado futuristas e, por vezes, anónimas.

Espaço de sobra

O habitáculo do Kia EV3 combina tecnologia e praticidade, com um foco evidente na facilidade de utilização diária. A inédita consola central que desliza para a frente, de forma a transformar-se numa mesa de apoio é um excelente exemplo disso.

Depois, há muitos espaços de arrumação existentes, que complementam os 460 litros de capacidade de carga na bagageira e os 25 litros adicionais garantidos pelo frunk.

São números muito interessantes para uma proposta do segmento B e colocam este modelo em clara vantagem perante muitos dos seus rivais, começando pelo Volvo EX30. Uma vantagem que não acaba na bagageira, já que também é evidente na segunda fila de bancos, como podem perceber no vídeo que surge em destaque neste artigo.

Muito bem equipado

No lugar do condutor, temos vista privilegiada para um enorme painel composto por três ecrãs: dois com 12,3’’ (um para a instrumentação e outro para o infoentretenimento) e um terceiro de 5″, entre os outros dois, exclusivo para a climatização.

Gosto desta solução, porque está bem integrada no tabliê, mas não sou o maior adepto dos grafismos do ecrã central, que requerem alguma habituação. A Kia devia rever, no entanto, a posição do ecrã dedicado à climatização, já que grande parte é tapada pelo aro do volante, o que dificulta a leitura. Isto já acontecia com o EV9 e não foi revisto no EV3.

Por outro lado, gosto bastante da pega do volante — que não tem comandos em exagero —, dos acabamentos em tecido do tabliê e dos assentos, que me convencem acima de tudo pelos encostos de cabeça que, apesar do aspeto peculiar, são muito confortáveis.

Contudo, esperava mais qualidade dos plásticos (muitos deles reciclados) que encontramos no topo e na base do tabliê, bem como nas partes superiores das portas.

Um motor, duas baterias

Nesta fase, o Kia EV3 só está disponível com versões de um motor elétrico, montado na dianteira, com 150 kW (204 cv) de potência máxima. Mais tarde, em 2025 ou 2026, o EV3 vai receber versões mais potentes e com dois motores elétricos.

Por outro lado, no que toca às baterias, é possível escolher entre duas capacidades distintas: 58,3 kWh e 81,4 kWh. Ambas contam com uma química NMC (níquel, manganês e cobalto) e permitem, de acordo com a Kia, autonomias máximas (ciclo WLTP) de até 436 km e 605 km, respetivamente.

Este último número, que obviamente baixa caso se opte pelas jantes de maior dimensão (19’’), coloca o Kia EV3 na liderança do segmento no que à autonomia diz respeito. Por si só, é um trunfo fortíssimo.

Apesar de recorrer à mesma plataforma E-GMP que serve de base ao EV6 e EV9, o EV3 utiliza uma arquitetura elétrica de apenas 400 V (ao contrário dos 800 V dos outros dois). Uma decisão que se justifica apenas e só pelos custos.

Por isso mesmo, o EV3 está limitado a velocidades de carregamento — em corrente contínua (DC) — de até 102 kW na bateria de menor capacidade e de até 128 kW na bateria maior. À velocidade máxima, é possível repor 80% da carga em 31 minutos.

Já em corrente alternada (AC) a velocidade máxima de carregamento é de 10,5 kW. Tal como outros modelos elétricos da Kia, nas versões de topo, o EV3 conta com tecnologia de carregamento bidirecional, que permite alimentar outros dispositivos elétricos.

Confortável e refinado

Em estrada, a primeira coisa que notamos é a leveza de todos os comandos, a começar logo pela direção. Gostava que tivesse mais peso e fosse mais comunicativa, mas em cidade esta característica do EV3 deverá ser muito apreciada.

Outro apontamento menos positivo a fazer é relativo ao pedal do travão, que tem sempre um tato algo esponjoso. Por outro lado, aprecio o facto de podermos ajustar a intensidade da travagem regenerativa: podemos fazê-lo através das patilhas atrás do volante.

Mas aquilo que mais me convenceu ao volante do EV3 foi mesmo o pisar refinado e muito mais confortável do que tinha antecipado. Mesmo com jantes de 19’’, o EV3 tem um rolar muito agradável, com a suspensão a filtrar eficazmente as irregularidades do piso.

Este primeiro contacto dinâmico ocorreu pelas estradas do Guincho e de Sintra e para saber como se comportou, vejam o vídeo abaixo:

Preços em Portugal

Já disponível no mercado nacional, o Kia EV3 tem preços a começar nos 39 900 euros. A versão topo de gama, GT Line, que foi precisamente a que tive oportunidade de testar, arranca bem mais acima, nos 47 500 euros.

É certo que este passa diretamente a ser o elétrico mais acessível da Kia — até à chegada do EV2 —, mas confesso que esperava um preço mais competitivo. Nesta faixa de preço, dos 40 mil euros, existem muitas e boas propostas, muitas delas de segmentos superiores: o Tesla Model 3 (ou Model Y) e o Renault Scenic são bons exemplos disso.

Por isso é que digo que apesar de preencher todas as caixas, o Kia EV3 pode não ter uma vida fácil. O «pacote» oferecido é bom, mas o preço coloca-o em paridade com propostas de segmentos acima.

Ainda assim, se restringirmos a nossa análise ao segmento B-SUV, o EV3 é uma proposta mais competitiva e interessante do que o Volvo EX30. E é também mais interessante do que os elétricos equivalentes da Stellantis, tais como o Peugeot E-2008, o Jeep Avenger ou o Alfa Romeo Junior.