Primeiro Contacto Mazda foi buscar motor Wankel para resolver o problema do MX-30. Conseguiu?

Chega em novembro

Mazda foi buscar motor Wankel para resolver o problema do MX-30. Conseguiu?

O motor Wankel está de volta para resolver o maior problema do Mazda MX-30, a autonomia. Como se portou o Mazda MX-30 R-EV no primeiro teste?

Mazda MX-30 e-Skyactiv R-EV

Primeiras impressões

7/10

Data de comercialização: Novembro 2023

A Mazda gosta de arriscar e fazer diferente. E o novo MX-30 e-Skyactiv R-EV com motor rotativo é um excelente exemplo disso.

Prós

  • Comportamento dinâmico
  • Versatilidade face ao MX-30 elétrico
  • Suavidade de utilização
  • Tato dos comandos

Contras

  • Motor rotativo é algo ruidoso
  • Esquema de abertura das portas
  • Espaço nos bancos traseiros

Por esta altura já se percebeu que a Mazda não gosta de embarcar em modas, preferindo trilhar o seu próprio caminho. Depois de recusar toda e qualquer conversa sobre downsizing e de desenvolver, de raíz, novos motores com seis cilindros em linha, a marca de Hiroshima recuperou o motor Wankel para criar o Mazda MX-30 e-Skyactiv R-EV.

O nome é longo e algo confuso, mas a premissa que está na sua base é, apesar de tudo, simples, com a marca a identificá-lo como uma espécie de híbrido plug-in.

Assim, quatro anos depois de ter sido lançado, a Mazda parece ter solucionado o maior problema do MX-30 100% elétrico: a sua autonomia muito limitada.

Recordo que o MX-30 elétrico foi lançado em 2019 com uma bateria pequena (35,5 kWh) que dava (e dá) apenas para 200 km de autonomia.

Agora, ao invés de o equipar com uma bateria maior, este extensor de autonomia a combustão permite «esticar» a autonomia para lá dos 600 km, graças ao depósito de 50 l que traz.

Motor rotativo acrescenta versatilidade

Para a função de gerador ou extensor de autonomia, a Mazda decidiu recuperar o motor rotativo Wankel, que tinha sido visto pela última vez em 2012, quando o RX-8 deixou de ser produzido, um modelo que testámos recentemente em vídeo:

A Mazda diz que a adição do motor Wankel estava prevista para o MX-30 desde que começou a ser idealizado.

Antes de passarmos ao funcionamento deste sistema híbrido, importa olhar para o motor rotativo em si, que é o grande protagonista deste modelo. Denominado 8C, este motor rotativo foi criado de raíz e nada tem a ver com o motor rotativo do RX-8. É mais pequeno (tem apenas um rotor), pesa menos 15 kg, é feito em alumínio e tem paredes laterais com um tratamento cerâmico para reduzir os atritos e aumentar a eficiência.

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Tem apenas 830 cm3 e só produz 75 cv e 117 Nm e não está ligado às rodas. Este motor Wankel serve apenas para carregar a bateria de 17,8 kWh (cerca de metade do MX-30 100% elétrico) que surge colocada por baixo do piso do habitáculo.

A bateria, por sua vez, alimenta o motor elétrico com 125 kW (170 cv) de potência e 260 Nm de binário, o único responsável por locomover este Mazda MX-30 — relembro novamente que o motor Wankel não tem qualquer ligação mecânica às rodas.

motor wankel mx-30
© Mazda A Mazda garante que todo o conjunto é 25% mais pequeno que um motor 1.0 a gasolina de três cilindros com uma transmissão convencional

Por isso mesmo, também não há qualquer caixa de velocidades, apenas uma relação fixa de transmissão, como acontece na maioria dos 100% elétricos.

Um híbrido plug-in que é um híbrido em série

Pensem nesta mecânica como um híbrido em série, como acontece com o sistema e-POWER da Nissan, ainda que com várias particularidades. A primeira é, naturalmente, o uso do motor rotativo, algo que mais nenhuma marca está a fazer; a segunda é que apesar do funcionamento ser o de um híbrido em série, este MX-30 R-EV é também um híbrido plug-in, uma vez que admite fontes de carregamento externas.

A bateria pode ser carregada a uma velocidade de até 11 kW em corrente alternada (AC) e de até 36 kW em corrente contínua (DC), sendo que a gestão da energia armazenada pode ser feita de acordo com três modos de condução: EV, Normal e Charge.

comando dos modos de condução do Mazda MX-30
© Mazda Os modos de condução podem ser selecionados a partir de um seletor montado na consola central

No modo EV, tal como o nome sugere, só é usada a energia disponível na bateria, sendo que com uma carga completa é possível percorrer até 85 km «elétricos».

No modo Normal o MX-30 usa a energia da bateria durante grande parte do tempo, sendo que o motor rotativo é chamado a intervir (para carregar a bateria) sempre que carregamos a fundo no pedal do acelerador. Além disso, o motor rotativo também é acionado sempre que a carga da bateria desce dos 45%, sendo que isso até pode acontecer quando estamos parados, no trânsito.

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Já o modo Charge permite carregar a bateria em andamento, com o condutor a poder escolher até que nível da bateria quer carregar.

Motor rotativo algo ruidoso

Durante o percurso nos arredores de Munique (terminou em Augsburgo), foi possível testar o Mazda MX-30 R-EV nestes três modos de condução e numa boa diversidade de cenários, desde autoestrada a cidade, passando por estradas secundárias. Apesar deste primeiro contacto ter sido breve, já deu para tirar algumas conclusões.

motor wankel mx-30
© Mazda O motor Wankel não está ligado às rodas

A primeira coisa que vos posso dizer é que o motor elétrico é muito silencioso e suave: é difícil apontar diferenças para o Mazda MX-30 100% elétrico que já conhecíamos.

Nunca somos brindados com acelerações muito intensas, com o comportamento a ser sempre muito progressivo. Gosto disso, tal como também gosto do tato do pedal do travão, que mesmo com o nível de regeneração máximo é um pedal «normal» e fácil de ler.

motor wankel mx-30
© Mazda O motor elétrico, o gerador e o motor rotativo estão montados em linha

Já quando se acelera a fundo é impossível não reparar no «acordar» do motor rotativo, que mostrou ser algo ruidoso. É certo que não se sentem vibrações no habitáculo, mas o ruído, sobretudo no modo Charge, quando funciona de forma contínua, é impossível de ignorar.

Curiosamente, apesar de poder entrar em funcionamento estacionário, é perceptível que o Wankel sobe/desce de rotação de forma proporcional à posição do acelerador, o que ajuda a tornar a experiência ao volante bastante natural.

mazda_mx-30_r-ev perfil
© Mazda

Além do ruído, a única coisa que tenho a apontar é mesmo a velocidade máxima que, tal como no elétrico, continua limitada aos 140 km/h.

Em Portugal poderá não ser um problema grande, mas durante este primeiro contacto tive oportunidade de fazer um troço ilimitado da autobahn e isso foi uma… limitação. Por outro lado, a suavidade de rolamento e o isolamento acústico surpreenderam.

Parece (quase sempre) um elétrico

Quando há energia na bateria, o Mazda MX-30 R-EV parece um elétrico convencional. Fora da cidade, em estrada aberta e a andar um pouco mais rápido, fiquei surpreendido com a quantidade de vezes que o motor rotativo é chamado a intervir.

mazda_mx-30_r-ev traseira
© Mazda

E isso, naturalmente, afeta os consumos. Neste primeiro contacto, fazendo uma condução despreocupada, cheguei ao final de um percurso que rondava os 100 km com médias de 3,6 l/100 km e 14,7 kWh/100 km.

Fica reservado para quando testarmos este modelo em Portugal um teste de consumos mais extenso e rigoroso.

Continua a ser interessante de conduzir

Se o Mazda MX-30 elétrico sempre se destacou por ser um 100% elétrico muito agradável de conduzir, o seu irmão R-EV vai pelo mesmo caminho. Apesar de focar mais no conforto, mostra-se muito composto e com movimentos controlados, mesmo nas curvas mais rápidas.

Junta a isso uma direção precisa, uma excelente posição de condução e muito boa motricidade. Mas mais importante ainda, os comandos (volante, acelerador e travão) revelam um tato muito bom que nem sempre encontramos neste tipo de propostas.

Interior tem «pedaços» de Portugal

De resto, a bordo do MX-30 e-Skyactiv R-EV vejo que herda os mesmos atributos do MX-30 100% elétrico. O interior é agradável, com acabamentos e materiais macios, entre eles cortiça portuguesa, e uma boa perceção geral de qualidade.

Gosto muito da posição de condução, que não é muito alta; aprecio os bancos, que são confortáveis e têm um bom suporte lateral; e continuo a aceitar com agrado o comando rotativo montado na consola. Porém, reconheço que esta não é uma solução unânime e que são muitos os que gostavam que a Mazda avançasse para outra opção.

O painel de instrumentos (que não é totalmente digital) e o head-up display têm uma boa leitura e merecem elogios, mas o ecrã tátil na base da consola central, reservado à climatização, não faz muito sentido: está demasiado baixo e sempre que o temos de usar somos obrigados a tirar os olhos da estrada durante alguns segundos.

Claro que temos que falar das portas traseiras, de abertura invertida, que continuam a gerar controvérsia, pois só podem ser abertas depois de abrir as da frente.

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É uma solução que impacta do ponto de vista visual, mas algo difícil de justificar quando estacionamos perpendicularmente num lugar mais apertado. A somar a isso, também não facilitam como deviam o acesso aos bancos posteriores por serem estreitas.

mazda_mx-30_r-ev portas abertura suicida
© Mazda

Por falar nos bancos traseiros, importa dizer que são algo acanhados, sobretudo ao nível do espaço para as pernas e para a cabeça.

Também a bagageira é algo pequena: os 350 l que anuncia são 16 l a menos que o Mazda MX-30 100% elétrico.

Quanto custa?

A Mazda olha com muitos bons olhos para esta nova variante do MX-30 e tem bons motivos para isso, uma vez que os SUV híbrido plug-in de segmento C continuam a ter uma boa procura no mercado europeu e, sobretudo, nacional, onde a marca japonesa espera vender 300 exemplares por ano.

Para mais, esta solução permite alargar de forma significativa o leque de utilização do MX-30, que na versão 100% elétrica, com apenas 200 km de autonomia, era limitado.

Nesta nova versão, os 85 km de autonomia elétrica permitem cumprir, para muitos, os percursos diários casa-trabalho-casa. Mas caso seja necessário fazer mais do que isso, os 50 l de combustível e o motor Wankel permitem aumentar a autonomia até aos 680 km.

E esta versatilidade não está pura e simplesmente ao alcance do Mazda MX-30 elétrico. É certo que o R-EV não será para todas as pessoas, mas para quem passa a semana a fazer percursos curtos e não quer estar limitada ao fim de semana ou nas férias, esta parece ser uma boa opção.

© Mazda Versão Edition-R conta com uma pintura bicolor exclusiva e com badges específicos no exterior e no interior

Quanto aos preços, começam nos 40 927 euros para a versão de entrada e podem ir até aos 46 427 da variante Edition-R, que é a mais exclusiva da gama. As primeiras entregas vão acontecer em novembro.

Veredito

Mazda MX-30 e-Skyactiv R-EV

Primeiras impressões

7/10
Os 200 km de autonomia do Mazda MX-30 elétrico continuam a ser muito limitado. Mas essas limitações desaparecem com o MX-30 R-EV, que recupera o motor Wankel e se apresenta como um híbrido plug-in, cuja autonomia máxima ronda os 680 km. Com a vantagem de que os trajetos diários — até 85 km — poderão continuar a ser feitos em modo 100% elétrico.

Data de comercialização: Novembro 2023

Prós

  • Comportamento dinâmico
  • Versatilidade face ao MX-30 elétrico
  • Suavidade de utilização
  • Tato dos comandos

Contras

  • Motor rotativo é algo ruidoso
  • Esquema de abertura das portas
  • Espaço nos bancos traseiros