Desde 35 000 euros

Parece um Tesla mas troca baterias em três minutos. Conduzimos o Onvo L60

A ambição deste Onvo L60 é clara: destronar o Tesla Model Y. Uma «guerra comercial» que vai ter o seu primeiro capítulo na China, mas que vai chegar à Europa.

28.02.2025, 16:41

Guangzhou, China

Joaquim Oliveira

Texto

Onvo L60

Primeiras impressões

8/10

Data de comercialização: Janeiro 2026

Não é o nome mais inspirado, mas decorem: Onvo L60. Um modelo que tem na troca de baterias um dos seus destaques.

Prós

Autonomia
Interior espaçoso
Preço
Prestações

Contras

Ausência de comandos físicos
Capacidade da bagageira
Chegada tardia à Europa (2026)
Direção demasiado leve
Suspensão bamboleante

Quando se trata de estabelecer uma nova marca, o reconhecimento é dos passos mais importantes. E, neste aspeto, a Onvo — que pertence à chinesa NIO — fez um excelente trabalho com o L60, que imediatamente consegue criar empatia em termos de design exterior.

Ainda assim, não deixa de ter algumas semelhanças com a Tesla quando o vemos de perfil, ou com a Polestar quando olhamos para as óticas dianteiras em forma de boomerang. Podemos continuar com as comparações… a configuração geral traseira recorda o BMW X4.

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Dejá vu

Por dentro também pode existir alguma sensação de dejá vu — cada vez mais comum nos painéis de bordo minimalistas da era digital. Temos um volante achatado e apenas dois botões rotativos de cada lado. Onde é que já vimos isto…

É pouco prático e menos seguro — do que com comandos físicos diretos — ter de controlar tudo através do ecrã, mas se tivesse um logótipo da Tesla algures por aqui, passava perfeitamente como tal.

Onvo L60 - interior — © Onvo O interior do Onvo L60.

O ecrã central de infoentretenimento do Onvo L60 tem uma dimensão de 17,2”. O head-up display (de 13”) é de série, tal como o impressionante sistema áudio Dolby Atmos 7.1.4 com 18 altifalantes e 1000 W de potência. Este é combinado com um sistema de iluminação ambiente de 16 milhões de cores, criando um ambiente especial de entretenimento a bordo do Onvo L60.

Qualidade e espaço convincentes

A impressão de qualidade atinge o patamar da NIO — que é bastante elevado —, especialmente do novo ET9, que impressiona nesse campo. Mas não deixa de apresentar materiais suaves ao toque e muito agradáveis. A construção parece robusta, em qualquer dos casos melhor do que conhecemos no habitáculo do Tesla Model Y.

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Além disso, com uma distância entre eixos de 2,95 m (e um comprimento de 4,82 m), o L60 é muito generoso na oferta de espaço na frente e, especialmente, na segunda fila de três bancos, mesmo para passageiros acima de 1,80 m de altura. Em compensação, os 495 litros da bagageira significam que é uma das mais pequenas do segmento.

Depois, este interior está preparado para se transformar rapidamente em diferentes espaços imersivos e personalizáveis, algo que agrada bastante aos clientes asiáticos (com um toque num botão, o habitáculo ajusta-se segundo os programas Sestas, Oásis, Acampamento, Conforto e Animais de estimação). Na segunda fila há ainda um ecrã central de 8”.

A necessária diferença entre o Onvo L60 e os NIO também é evidente nos sistemas de assistência à condução. O L60 está equipado com 30 sensores, incluindo um radar de imagem 4D, que permite a deteção, mapeamento e seguimento simultâneos de vários objetos em movimento, em alta-definição.

Não deixa de ser um arsenal tecnológico respeitável, mas menos avançado do que um dispendioso LiDAR, capaz de detetar obstáculos mesmo em condições de pouca iluminação e a uma distância maior, que está nos modelos da NIO.

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Por essa razão, a função de piloto automático de Nível 2++ provavelmente não funcionará com a mesma precisão em condução à chuva ou com baixa visibilidade como num NIO. Mas, como estava um dia de muito sol em Guangzhou, na China (onde fizemos esta experiência ao volante), as condições eram perfeitas e o desafio não foi tão exigente.

Condução em estrada

O L60 é rápido em estrada como todos os elétricos são nas acelerações intermédias, mas também no arranque de 0 a 100 km/h, que pode completar em apenas 4,6s. A velocidade máxima de 203 km/h dificilmente irá gerar reclamações, mesmo por parte dos clientes alemães, habituados à permissibilidade de velocidade de muitos troços de autoestrada no seu país.

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No trânsito bastante congestionado da metrópole cantonesa, o binário instantâneo do crossover elétrico ajuda-o a escapar à anarquia local de forma descontraída. Ainda assim, usámos o modo Comfort a maior parte do tempo e, com isso, sem fazer uso dos últimos kW de potência em modo Sport.

Condutores com o pé mais leve e/ou menos pressa poderão querer usar o modo de poupança de energia, que dá uma autonomia extra de até 80 km, sem que seja necessário desligar o ar condicionado. Ou então definir as suas próprias preferências no programa “Individual”.

Onvo L60 - vista lateral — © Onvo Este primeiro contacto aconteceu nas imediações de Guangzhou, China. A cidade berço da NIO e da Onvo.

A suspensão «pisa» de forma muito confortável os asfaltos bem cuidados sobre os quais rolámos. Talvez mais até do que o condutor europeu médio poderá apreciar, podendo ser necessário fazer um acerto um pouco mais desportivo/seco no departamento de I&D da NIO, no Reino Unido, a bem da estabilidade. Se o fizerem, será bom aproveitar a ocasião para dar à direção uma resposta um pouco mais direta e mais peso.

Com o nível de recuperação na posição mais fraca (existem três à escolha do condutor, mas não há função one pedal drive) e com uma boa extensão de condução em autoestrada, o consumo final indicado pelo computador de bordo foi de 17,9 kWh/100 km — uma média aceitável, mas bem acima dos anunciados 14,8 kWh/100 km.

Três opções de bateria

Neste início de carreira, o Onvo L60 pode ser equipado com dois tamanhos de bateria: 60 kWh e 85 kWh. A bateria de 100 kWh complementará a oferta mais tarde e promete uma autonomia superior a 1000 km por carga completa (segundo o ciclo CLTC). No entanto, no mais realista ciclo WLTP, esta deverá situar-se entre 750-800 km.

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O nosso Onvo tinha baterias LFP de 60 kWh (da subsidiária da BYD, a FinDreams) e uma potência de 340 kW (462 cv): 100 kW (136 cv) à frente e 240 kW (326 cv) atrás. Logo, com tração às quatro rodas.

No início do nosso teste, o sistema apresentava um nível de carga da bateria de 86% e uma autonomia de 451 km, não muito distante da autonomia anunciada para uma carga completa de bateria, que é de 555 km.

A pequena bateria tem um bom desempenho de carregamento (150 kW), mas não mais do que isso. É capaz de elevar a carga de 10% a 80% em 25 minutos. Esperava-se melhor, tendo em conta que o L60 recorre a um sistema elétrico de 900 V.

Destaque para o desempenho de carregamento em temperaturas negativas, de que os chineses se orgulham particularmente, anunciando que a bateria do Onvo L60 consegue passar dos 10% aos 80% em 52 minutos, quase metade do tempo necessitado pelo Tesla Model Y (95 minutos) para o mesmo efeito.

Há também uma bomba de calor no equipamento de série e a funcionalidade de carga bidirecional, o que permite usar o Onvo para carregar dispositivos externos até 3,3 kW.

Onvo L60 - troca de baterias — © Onvo A troca de baterias numa estação da NIO demora cerca de três minutos.

Em alternativa, os utilizadores chineses podem conduzir até um posto de troca de baterias de quarta geração da Nio e receber uma bateria a transbordar de energia em apenas três minutos, tal como tivemos oportunidade de experimentar. O carro conduz-se autonomamente para dentro da estação de troca e a operação decorre com rapidez e simplicidade.

Preços e impacto no mercado europeu

O preço do L60 começa em cerca de 27 000 euros (206 900 yuan)… na China ou em perto de 20 000 euros caso o cliente opte por alugar a bateria em vez de a comprar.

Na unidade que tivemos oportunidade de ensaiar, com quatro rodas motrizes, o preço base aumenta cerca de 20 000 yuan, deixando o valor total marginalmente abaixo dos 30 000 euros.

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Com a bateria de 85 kWh, o preço sobe mais 29 000 yuan (uns 3900 euros, para cerca de 33 500 euros), mas a Onvo oferece um desconto de quase 7500 euros se o cliente optar por alugar a bateria, o que irá fazer com que o mesmo incorra em um encargo mensal de 79 euros.

No mercado doméstico o impacto está a ser grande, com mais de 20 000 unidades do Onvo L60 a serem comercializadas nos primeiros 100 dias da sua carreira comercial.

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Porém, na Europa (onde a Onvo só deverá chegar em 2026), as tarifas impostas aos fabricantes de automóveis chineses vão inflacionar os preços para valores sempre acima dos 35 000 euros para os L60 mais acessíveis (cerca de 39 mil euros para a unidade ensaiada) e já com a bateria incluída.

A solução de aluguer da bateria ainda poderá não ter grande expressão no mercado europeu. O número de estações de troca de baterias ronda apenas a meia centena nos países da Europa em que a NIO já está presente.