O carro que vai salvar os elétricos? Renault 5 E-Tech testado

O Renault 5 E-Tech é um dos carros mais esperados do ano e tem a pressão de recuperar um nome que todos conhecem e vingar como elétrico. É uma missão demasiado ambiciosa?

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A campanha de lançamento do novo Renault 5 elétrico começou há vários meses e, por esta altura, já quase todos o conhecem. A imagem de inspiração retro não deixa ninguém indiferente e quem gosta, gosta mesmo.

Não sou especialista em marketing, mas olho para isto de duas maneiras distintas: criar tantas expectativas para o lançamento de um automóvel é excelente, do ponto de vista de todo o buzz gerado; mas adiciona-lhe uma carga de pressão extra, que pode não resultar nada bem caso o modelo depois não corresponda.

Pois bem, isso faz com que a chegada do novo Renault 5 E-Tech às estradas seja uma espécie de «prova dos nove». Será que corresponde às expectativas gigantes que está a gerar? Descubram a resposta neste teste em Nice, no sul de França:

Ou se ama ou se odeia

Numa altura em que podemos acusar algumas construtoras de nos darem, ano após ano, propostas algo anónimas, que podiam perfeitamente carregar o símbolo de outra marca qualquer, temos que louvar o caminho escolhido pelos designers da Renault.

Não vou discutir se é mais fácil ou difícil viajar até ao passado e resgatar desenhos de modelos icónicos e trazê-los para a atualidade. É um caminho, como tantos outros. Mas neste caso em concreto, posso dizer-vos uma coisa: bravo, Renault!

Era relativamente fácil exagerar as linhas e as proporções deste modelo, porque hoje em dia essa parece ser a única receita para viralizar no TikTok. Mas a Renault soube encontrar um bom equilíbrio na mistura dos dois ingredientes que estão na base do novo R5: retro e moderno.

O resultado é um modelo com uma imagem divertida, colorida e muito pop. Mas acima de tudo, é um objeto que não deixa ninguém indiferente e que não podia ser outra coisa que não fosse um… Renault 5. Isso, só por si, merece ser aplaudido.

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Para tirar todas as dúvidas, aproveitei a proximidade a Nice para levar o R5 ao Mónaco. E mesmo nas estradas do Principado, onde abundam hiper e supercarros, o pequeno Renault não parou de «virar cabeças» — vejam no vídeo em destaque.

Segredo está nos detalhes

No interior, antes de passarmos às coisas que mais gosto, que são muitas, importa abordar o principal calcanhar de Aquiles deste modelo: o espaço. No entanto, se espaço é aquilo que procuram num modelo de segmento B, então se calhar faz sentido olhar para outros segmentos ou tipo de carros.

Apesar disso, o R5 permite acomodar facilmente dois adultos com cerca de 1,80 m. A bagageira, não sendo grande (277 litros), é ligeiramente maior do que a do Peugeot e-208 e do Mini Cooper E.

Explicada a questão do espaço, faz sentido olhar para os vários detalhes que o R5 esconde, que o tornam diferente e especial. Veja-se, por exemplo, o revestimento do tabliê, o desenho dos bancos (inspirados nos do Renault 5 Turbo original) e a extremidade personalizável da alavanca da transmissão. É notório o esforço que a marca francesa colocou neste pormenores.

Temos os plásticos duros habituais deste tipo de propostas, mas estão bem montados e, acima de tudo, muito bem disfarçados. Gosto especialmente do jogo de cores dos tecidos, dos pespontos e claro, da iluminação ambiente.

Além disso, tenho também de destacar a oferta tecnológica, com o ecrã central multimédia (10,25”) à cabeça: está integrado numa moldura que também engloba o painel de instrumentos digital, que pode ter 8” ou 10”.

Sem surpresa, recorre ao sistema de base Android que conhecemos de outros modelos da marca e isso dá-lhe uma vantagem clara face a outros competidores. É simples de usar e oferece-nos, de forma nativa, aplicações e serviços que todos nós usamos numa base diária, nos nossos smartphones.

E ainda há o Reno, um assistente pessoal virtual (com integração do ChatGPT) que é capaz de responder a cerca de 200 perguntas. Querem vê-lo a funcionar? Vejam isto:

Três níveis de potência

Bastam alguns quilómetros para percebermos que o Renault 5 é muito mais do que uma «cara bonita». Na versão mais potente da gama, com 150 cv, que foi a que conduzi, convence pela agilidade e pelas retomas de velocidade em cidade e pelo bom comportamento dinâmico que exibe quando apanhamos uma estrada mais interessante.

Para terem uma ideia, esta versão cumpre o sprint dos 0 aos 100 km/h em 8s, ao mesmo tempo que passa dos 80 aos 120 km/h em meros 6,1s. São números mais do que suficientes para garantirem um andamento vivaz. Quanto à velocidade máxima, está sempre limitada aos 150 km/h, independentemente da versão.

Existem ainda mais duas versões: uma com 70 kW (95 cv) e outra com 90 kW (122 cv). Ambas estão associadas à bateria mais pequena, com 40 kWh de capacidade bruta, enquanto a versão que testei (150 cv) está disponível com a bateria maior (52 kWh).

E a autonomia?

Quanto aos consumos, ainda que estes primeiros contactos estejam longe de ser o palco ideal para tirar conclusões definitivas, consegui andar em torno dos 14 kWh/100 km em ambientes urbanos, sendo que por estradas secundárias, a ritmos mais altos e com menos oportunidades de recuperar energia nas desacelerações e travagens, este número subiu para lá dos 16,5 kWh/100 km.

A autonomia anunciada varia entre os 312 km e os 410 km, sendo que a bateria pode ser carregada a 11 kW em corrente alternada (AC) em todas as versões ou em corrente contínua (DC) nos dois Renault 5 elétricos mais potentes, a 80 kW ou a 100 kW, respetivamente.

Divertido… também na estrada

Voltando à condução, posso dizer-vos que a direção é direta, precisa e oferece sempre o peso mais adequado para cada situação: no modo Eco é, se calhar, até demasiado leve; no modo Comfort melhora bastante; no modo Sport permite melhores sensações.

Sempre muito bem plantado na estrada, o R5 impressiona pelos andamentos que suporta e, acima de tudo, pela maneira como lida com estradas mais sinuosas. A boa rigidez estrutural dá um excelente contributo para isso, bem como a suspensão independente às quatro rodas.

Mas porventura, o que mais me surpreendeu foi mesmo a qualidade de rolamento, que é bem superior ao que tinha antecipado. A suspensão faz um excelente trabalho a absorver todas as irregularidades do asfalto e garante sempre um bom pisar na estrada. Ao mesmo tempo revela sempre um bom equilíbrio e uma atitude previsível.

Porém, antes de ser divertido de conduzir, o Renault 5 consegue algo que eu procuro em todos os elétricos deste segmento: é descomplicado e muito fácil de conduzir.

O novo Renault 5 E-Tech já pode ser encomendado no mercado português, sendo que, de momento, apenas na versão mais potente e com a maior bateria. Por isso mesmo, arranca nos 33 mil euros no nível de equipamento techno (o mesmo do exemplar no vídeo) e nos 35 mil euros da versão iconic.

As primeiras unidades vão ser entregues aos clientes no próximo mês de janeiro. Mais tarde, em 2025, chegam as versões mais acessíveis, entre elas a tão esperada variante de acesso, que vai ter preços a começar nos 25 mil euros.

Podem não parecer os preços mais competitivos, mas quando olhamos para a concorrência, percebemos que o R5 está muito bem posicionado.

Veja-se, por exemplo, a versão de 156 cv do Peugeot e-208, que tem preços a começar nos 38 260 euros. Por outro lado, o Mini Cooper E, que também tem inspiração retro, arranca pouco acima dos 35 mil euros, mas oferece bem menos autonomia.

Naturalmente, quando chegar a versão de 25 mil euros, vai passar diretamente a ser um dos maiores argumentos do R5. Resta perceber, nessa altura, se o que perdemos em potência, velocidade de carregamento, autonomia e equipamento será um compromisso demasiado grande para se fazer.

Por enquanto, uma coisa é certa: o Renault 5 E-Tech tem tudo para ser um sucesso de vendas. E sinceramente, ficarei surpreendido se o desfecho não for esse.