Primeiro Contacto Black Badge Ghost. Conduzimos o «lado negro» da Rolls-Royce

Chega em 2022

Black Badge Ghost. Conduzimos o «lado negro» da Rolls-Royce

Quando nem o dinheiro chega para marcar diferenças, a audácia passa a ter um papel importante. É como a Rolls-Royce explica a forte aposta na linha de modelos Black Badge onde o negro impera, além de umas gotinhas de «tabasco» nas performances e dinâmica.

Rolls-Royce Black Badge Ghost

O dia não se antevia fácil, com o já corriqueiro voo das seis da manhã para Munique, uma sessão de fotos e entrevista com engenheiros da Volkswagen, seguida de um voo à tarde para Londres e transfer para não muito longe do circuito de Silverstone, hora e meia a noroeste de Londres. Tudo para uma sessão de condução (num aeródromo e em estradas públicas) do novo Rolls-Royce Black Badge Ghost.

Sessão de condução… noturna, para a expressão escurecida da limusina não ser detetada por ninguém, mas também a condizer com a estirpe Black Badge: “não é uma submarca, é uma segunda pele, uma espécie de tela para os nossos clientes especiais darem expressão à sua individualidade”, explica Torsten Mueller Otvos, o diretor executivo da marca inglesa nas mãos da BMW.

Certo. Tal como o é o facto de quase 1/3 das encomendas hoje em dia serem já desta linha que faz da sublevação o seu ingrediente realmente especial e que a marca britânica diz vir dos seus próprios fundadores: Sir Henry Royce e C. S. Rolls.

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Rolls-Royce Black Badge Ghost

Sir Henry Royce nasceu no seio de uma família humilde e tornou-se num dos mais consagrados engenheiros mecânicos do seu tempo. C. S. Rolls veio ao mundo já aristocrata, mas ficou conhecido como “Dirty Rolls” por participar em importantes eventos na sua universidade de Cambridge com a sua gravata branca decorada com enormes manchas de óleo…

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Disruptores antes do tempo

O não conformismo e a recusa em aceitar aderir a convenções bem estabelecidas definem a personalidade destes dois homens que, se vivessem hoje, seriam forçosamente chamados “disruptores”. Um neologismo que não tinha sido inventado na sua época, mas que hoje é indissociável de outras mentes tão brilhantes como inquietas dos nossos dias, como as de Elon Musk, Mark Zuckerberg ou Richard Branson, por exemplo.

E que, em certa medida, têm a vida facilitada porque em pleno séc. XXI existe mais tolerância e espaço para as vias alternativas do que em algum momento na história da humanidade.

Rolls-Royce Black Badge Ghost

O renascimento da marca, em 2003 pela mão da BMW, materializou-se com o Phantom, mas depressa a Rolls-Royce percebeu que havia um novo tipo de cliente, para quem o luxo e a qualidade importam, mas com menos ostentação e mais personalização.

Assim nasceu o Ghost, em 2009, que depressa subiu à posição de mais vendido Rolls-Royce da história, mesmo como o lançamento posterior do Grand Tourer Wraith, do descapotável Dawn e do SUV Cullinan, que ainda não o conseguiram destronar.

Tudo começou com um tuning

Black Badge é, por isso, uma gama permanente de modelos personalizados e tudo começou com um encontro fortuito entre o CEO da Rolls-Royce e um cliente.

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Esse cliente pegou no seu Wraith e fê-lo passar uma «temporada» na garagem de uma empresa de tuning, de onde saiu com a Spirit of Ecstasy, as jantes e mais algumas peças e acabamentos interiores tingidos de negro.

E como não era um desejo singular de um único cliente, a Rolls fez o que muitos achavam impensável, passando a estudar versões “tenebrosas” para cada novo modelo, acompanhando movimentos paralelos na moda com Varvatos, McQueen, entre outros; na arquitetura com a casa negra do O´More College; ou até no design de acessórios como a icónica mala negra da Rimowa ou a bolsa Cassette negra da Bottega Veneta.

Em 2016 nascia, então, a linhagem Black Badge que seduz a crescente vaga de clientes menos conservadores e mais jovens, tanto nos Estados Unidos, como na China, Rússia e até no resto da Europa, ao ponto de ser possível que, com o lançamento deste Black Badge Ghost, metade da produção total da marca passe a ser “escurecida de fábrica”.

rolls-royce black badge ghost

Mas com acentos coloridos no meio dos interiores marcados por materiais técnicos e monocromáticos, à medida que os designers da Rolls-Royce procuram subverter o significado de luxo associado ao negro. Como se vê bem no Black Badge Ghost, a que finalmente chegamos.

Um negro brilhante

É apresentado como o mais puro, o mais minimalista e o mais pós-opulento dos Black Badge até à data, destinado a clientes que não usam fato para reuniões de trabalho, substituíram os bancos pelo blockchain e mudam o mundo analógico com as suas iniciativas digitais.

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Este Ghost pode ser tingido numa das 44 000 tonalidades que a Rolls-Royce disponibiliza para o seu longo manto, mas é certo e sabido que uma esmagadora maioria dos clientes que o estão a encomendar o querem bem… negro.

Rolls-Royce Black Badge Ghost

Não será exatamente como Henry Ford afirmava em 1909 na preparação do seu Ford Model T — “pode ser de qualquer cor, desde que seja negro” — mas quase…

45 quilos da mais negra tinta é atomizada e aplicada numa carroçaria com carga electroestática antes de secar num forno e de receber depois mais duas camadas de tinta e de ser polida à mão por quatro artesãos da Rolls-Royce, durante cerca de quatro horas (algo totalmente desconhecido na produção em massa nesta indústria), para chegar a um negro que brilha.

Na grelha e na Spirit of Ecstasy o tratamento é diferente, sendo introduzido um eletrólito de crómio (com a espessura de um micrómetro, cerca de 1/100 da largura de um cabelo humano) no processo tradicional de galvanização, para o desejado efeito de escurecimento. As jantes de 21” recebem 44 camadas de fibra de carbono, o cubo de roda é em alumínio forjado e agarrado à jante com fixações de titânio.

No painel de bordo foi embutido um padrão de diamante feito de fibras de carbono e metálicas por cima de camadas múltiplas de madeira comprimida e curada a 100 ºC durante mais de uma hora.

Tabliê Ghost Black Badge

Se o cliente tiver pedido, a secção de fibra técnica “Cascata”, nas poltronas traseiras individuais, recebe o símbolo matemático da família Black Badge que representa o infinito potencial conhecido como lemniscata, desenhado em alumínio aeroespacial na tampa do arrefecedor de champanhe do Black Badge Ghost. É aplicado entre a terceira e a quarta de seis camadas de laca subtilmente tingidas, criando a ilusão de que o símbolo flutua acima do verniz de fibra técnica.

As saídas de ar no painel dianteiro e na parte traseira são escurecidas usando deposição física de vapor, um dos poucos métodos de coloração de metal que garante que as peças não descoloram ou mancham com o tempo ou uso repetido.

Estrelas cadentes

O mais pequeno relógio Black Badge de sempre é ladeado por uma inovação mundial estreada no Ghost: o painel iluminado (com 152 LED), que exibe uma lemniscata brilhante etérea, rodeada por mais de 850 estrelas. Tanto a constelação como o símbolo (no lado do passageiro dianteiro) são invisíveis quando as luzes internas não estão ligadas.

Para garantir que a iluminação é uniforme, é usada uma guia de luz de 2 mm de espessura, apresentando 850 estrelas que se juntam aos mais de 90 000 pontos gravados a laser em toda a superfície do teto.

Sendo de noite, o efeito de céu estrelado deste teto é ainda mais impressionante, especialmente quando passa uma ou outra estrela cadente que deve ser celebrada com mais um insinuante gole de um refinado espumante francês (a função pode ser ligada/desligada).

Teto estrelado

Já sentado no lugar por vezes cedido ao motorista (mas cada vez menos, segundo os marketeers da Rolls) noto que não há patilhas para passagens de caixa atrás do volante mas subsiste, é claro, o tradicional indicador “reserva de potência” no quadro de instrumentos digital, “vestido” para parecer analógico.

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Antes do percurso de aceleração, a fundo e em zig-zag por meio de cones na pista do aeródromo, vale a pena recordar que o Ghost é feito numa estrutura de alumínio e uma plataforma específica (ao contrário da primeira geração, que usava a base do BMW Série 7 da altura) e que abriu caminho para um centro de gravidade mais baixo e o facto de o motor ter sido empurrado para trás do eixo dianteiro foi fundamental para gerar uma distribuição de peso 50/50 (dianteira/traseira).

O último motor V12 da Rolls-Royce?

O V12 biturbo de 6,75 l é, em si, uma peça de excelência de engenharia e com “valor histórico” agregado, já que é provável que seja o último motor de combustão interna do Ghost — a Rolls-Royce já anunciou que será uma marca totalmente elétrica depois de 2030 e como cada geração do Ghost não dura menos de oito anos… bem, é fácil fazer as contas…

Motor V12 6.75

Pena que não tenha sido possível dotar o Black Badge Ghost de uma motorização híbrida plug-in, porque seria uma boa forma de fazer a ponte para o futuro 100% elétrico da marca, além de que combinaria bem com o silêncio que se vive a bordo de qualquer Rolls e o tornaria mais “compatível” com os espaços urbanos e alinhado com a mente de muitos dos seus clientes disruptivos.

O motor V12 é acoplado à conhecida transmissão automática (de conversor de binário) de oito velocidades, que extrai dados do GPS do carro para pré-selecionar a mudança ideal para cada ocasião.

Para esta aplicação no Black Badge recebeu um aditivo: mais 29 cv e mais 50 Nm, totalizando, respetivamente, 600 cv e 900 Nm, devidamente celebrados com um som de escape mais solene, cortesia de um novo ressoador de escape e hardware específico.

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Contribuindo para uma dinâmica ainda mais forte, podemos selecionar o modo Low na haste fixa no volante (Sport não seria aceitável num Rolls…), que provoca uma resposta mais rápida do acelerador e permite passagens de caixa 50% mais rápidas a 90% do curso do pedal da direita.

Motorista também se diverte

Mesmo sendo uma experiência de condução noturna, este tempo ao volante do Black Badge Ghost até foi mais elucidativo do que no trajeto em estradas públicas, porque o facto de ser um trajeto fechado e seguro permitiu alguns abusos que, por sua vez, revelaram os méritos da suspensão “Planar” (em homenagem a um avião geométrico que é completamente plano e nivelado), que usa câmaras estéreo para «ver» a estrada à frente e ajustar a suspensão de forma proativa (em vez de reactivamente).

rolls-royce black badge ghost

E a verdade é que deu para sentir mais variação de comportamento neste Rolls-Royce (que não tem modos de condução selecionáveis por quem guia) do que em grande parte dos carros (alguns até desportivos) que me passam pelas mãos com meia-dúzia de programas diferentes de suspensão, motor e direção.

A suspensão endurece (até porque nesta versão as molas pneumáticas ganharam volume para limitar mais o rolamento do enorme corpo de 5,5 m do Ghost), os dois eixos direcionais tornam-se mais incisivos e o motor/caixa mais instantâneos na resposta acima dos 100 km/h, batendo certo com o propósito de tornar o Black Badge Ghost mais desport…, perdão, dinâmico — mesmo mantendo o disparo até 100 km/h em 4,8 segundos e a velocidade de ponta limitada a 250 km/h — do que os Ghost com alma menos tenebrosa.

Em asfaltos públicos o sistema de amortecedor sobre amortecedor (há um amortecedor do triângulo superior acima do conjunto da suspensão dianteira) continua a funcionar a preceito e a engolir quase tudo o que não for plano na estrada. Como deve ser num Rolls-Royce, mais escuro ou menos escuro.

Especificações técnicas

Rolls-Royce Ghost Black Badge
Motor
Posição Dianteiro longitudinal
Arquitetura 12 cilindros em V
Capacidade 6750 cm3
Distribuição 4 válv. por cilindro (48 válv.)
Alimentação Inj. direta, bi-turbo, intercooler
Potência 600 cv às 5000 rpm
Binário 900 Nm entre 1700-4000 rpm
Transmissão
Tração 4 Rodas
Caixa de velocidades Automática (conversor de binário) de 8 velocidades
Chassis
Suspensão FR: Independente de duplos triângulos sobrepostos com sistema Planar; TR: Independente multibraços; FR
Travões FR: Discos ventilados; TR: Discos Ventilados;
Direção/Diâmetro de viragem Assistência eletro-hidráulica/N.D.
Dimensões e Capacidades
Comp. x Larg. x Alt. 5546 mm x 2148 mm x 1571 mm
Distância entre eixos 3295 mm
Capacidade da caixa de carga 500 l
Rodas FR: 255/40 R21; TR: 285/35 R21
Peso 2565 kg (EU)
Prestações e consumos
Velocidade máxima 250 km/h
0-100 km/h 4,8s
Consumo combinado 15,8 l/100 km
Emissões CO2 359 g/km

Nota: O preço publicado é uma estimativa.

Black Badge Ghost. Conduzimos o «lado negro» da Rolls-Royce

Primeiras impressões

8/10
A filosofia do Rolls-Royce Ghost passa muito por dar menos «nas vistas», mas na declinação Black Badge, o mais vendido dos modelos da aristocrática marca inglesa volta a chamar mais a atenção. Estatueta-símbolo no capô, grelha e jantes são as mais visíveis marcas exteriores da “alma tenebrosa” que vive também no interior deste Ghost. Onde tudo pode ser definido à vontade do freguês. Normal, se considerarmos que ele irá pagar perto de 400 000 euros por esta peça de ourives sobre rodas… O V12 de 6.75 l recebeu mais uns “pozinhos pirilimpimpim”, a suspensão foi ligeiramente endurecida e há um modo que acelera o tempo de reação deste colosso de 2,5 toneladas e 5,5 m de comprimento ao mais leve pisar do acelerador.

Data de comercialização: Janeiro 2022

Prós

  • Possibilidades de personalização
  • Habitáculo ultraluxuoso
  • Comportamento equilibrado confortável/ágil
  • Excelência do motor V12

Contras

  • Preço
  • Compatibilidade ambiental
  • Sem versão híbrida plug-in