Testes TT RS Coupé iconic edition. Ao volante do «presente de despedida» da Audi para o TT

Apenas 100 unidades

TT RS Coupé iconic edition. Ao volante do «presente de despedida» da Audi para o TT

Depois de 25 anos o Audi TT despede-se para não mais voltar. A “edição icónica” do TT RS só terá 100 unidades e é o presente de despedida para este momento solene.

Um quarto de século e três gerações mais tarde, a Audi prepara a despedida do TT com esta série limitada do TT RS a 100 unidades, oficialmente designada de TT RS Coupé iconic edition, todas em Cinzento Nardo.

Os sinais de influência do desporto automóvel notam-se no lábio dianteiro, lâminas nas entradas de ar laterais dianteiras e, claro, o proeminente aileron traseiro fixo, em fibra de carbono, cujo impacto visual está em sintonia com as grandes ponteiras de escape ovais.

O mesmo tom escuro domina o interior, desde os bancos de dois tons e materiais (pele cinza nas laterais e Alcantara negra ao centro, neste caso com costuras em amarelo calêndula, o mesmo da faixa vertical ao centro da parte superior do aro do volante) e as palavras “iconic edition” gravadas em relevo ao centro, à altura dos ombros.

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A nota final de exclusividade é dada pela numeração de cada veículo, mesmo na face do punho do seletor da caixa e com os números 001 a 100.

Os ingredientes «não-secretos»

Mesmo sem alterações técnicas face ao que conhecemos do TT RS lançado há quatro anos, vale a pena rever o que há debaixo da «pele».

O motor em alumínio dispõe de cambota oca, medidas para redução da fricção interna, cárter superior em magnésio e êmbolos com canais para arrefecer o óleo. O sistema de injeção de gasolina é duplo, direta ou indireta (neste caso em cargas parciais de acelerador com o objetivo de melhorar a resposta e de diminuir o tamanho das partículas emitidas pelos escapes).

A sofisticação desta unidade penta-cilíndrica é corroborada pela distribuição variável responsável pelo controlo individual das duas válvulas de escape por cilindro e o turbo de grandes dimensões pressiona a um máximo de 1.35 bar o ar da admissão para dentro das câmaras de combustão.

Uma das particularidades deste motor é a sua ordem de «disparo» dos cilindros — 1-2-4-5-3 — a cada 144º, sequência que leva a que a ignição vá alternando diretamente entre cilindros adjacentes e distantes uns dos outros.

E o que é que isso interessa ao comum do mortais? Interessa aos amantes de condução desportiva porque daqui resulta uma sonoridade com frequências inimitáveis deste motor de 400 cv e 480 Nm, impressionando também o longo planalto em que este último fica disponível — logo a partir das 1700 rpm e assim se conservando até às 5850 rpm.

Interior Audi TT RS Coupe iconic edition

Em cargas elevadas de acelerador, as válvulas de escape abrem para preencher por completo os tímpanos de quem está fora e dentro do desportivo. Essas notas acústicas mais graves e audíveis podem ser «provocadas» pelo condutor, bastando escolher o modo mais desportivo no sistema Audi drive select.

A partir daí, qualquer passagem de caixa em condução desportiva e, sobretudo, qualquer redução, gera um delicioso conjunto de rateres, como se os escapes estivessem a sugar pedras do asfalto à sua passagem.

A única opção de transmissão é a conhecida caixa automática de dupla embraiagem de sete velocidades (S-Tronic), que tem relações mais curtas nas mudanças iniciais, para favorecer as acelerações, apresentando uma sétima mais longa para suavizar os consumos a velocidades de cruzeiro.

Consola central com manípulo caixa S tronic

Como habitualmente, é possível deixar as passagens serem geridas pelo processador — que retarda as passagens para cima e antecipa a as reduções no modo S — ou efetuar o serviço manualmente, seja com a alavanca do seletor, seja pelas patilhas de passagem montadas no volante.

RS é quattro, claro

Outro elemento habitual nos Audi mais desportivos é a tração integral permanente às quatro rodas. Não utiliza diferencial central e deixa a ligação entre as rodas dianteiras e traseiras a cargo de uma embraiagem multidisco (Haldex), montada entre o cardã e o diferencial do eixo traseiro, e feita de materiais com maior resistência do que os modelos menos potentes da família TT.

Audi TT RS Coupe iconic edition na estrada

O sistema quattro está integrado no Drive Select de acordo com os programas habituais, Comfort, Auto, Dynamic e Individual (que também fazem variar a resposta de outros elementos decisivos na condução, como o motor, a transmissão, a direção, o amortecimento e o escape).

A suspensão usa amortecedores que contêm um fluido de hidrocarboneto com microscópicas películas que, através da ação de um campo magnético, fazem variar as leis de amortecimento de acordo com o programa de condução selecionado.

Por entre as jantes de 20” vemos as pinças de travão de oito pistões com os logótipos RS a morder os discos ventilados e perfurados à frente, enquanto atrás são usados discos maciços.

Volante do Audi TT RS iconic edition
Muito útil no desportivo, que muitas vezes vai requerer uma ação criteriosa por parte de todos os 10 dedos e palmas das mãos, é a inclusão de dois comandos satélite no volante — ignição e outro para modos de condução — além, claro, das patilhas de passagem de caixa. A instrumentação digital — monitor de 12,3” com menu específico RS que mostra dados como as forças “g”, a pressão dos pneus, monitor de passagem de caixa, etc — e a concentração de comando de funções no interface MMI ajudam a conferir ao painel de bordo um aspeto «limpo».

Especial de corrida

O leve pulsar do botão vermelho “Engine” acorda o motor que, mesmo com o escape em modo menos ruidoso, protesta com um ronco rabujento.

Antes mesmo das voltas ao circuito de Monteblanco (Sevilha) fazemos uma experiência com o sistema de arranque do tipo “espera-aí-que-o-meu-cérebro-ficou-lá-atrás” — em inglês, Launch control —; há que escolher o modo Sport do controlo de estabilidade (podemos desligá-lo por completo), premir o botão que liga o sistema, pé esquerdo no travão, pé direito a fundo e o ponteiro do conta-rotações detém-se nas 3500 rpm.

Solta-se o pedal do travão e… ahhhhhhhh… arranque explosivo, potenciado pela tração às quatro rodas, que rezamos para que não nos faça perder os sentidos— é assim tão explosivo.

Audi TT iconic RS em circuito

Mesmo sem launch control a aceleração é estonteante, principalmente após as 2200 rpm e até às 7000 rpm quando a injeção é cortada. O motor com os flaps em posição «queremos sangue» gera uma parafernália de sons graves e guturais de deixar qualquer um em sentido (dentro e fora do TT RS), o equilíbrio do carro chega a ser desconcertante pela precisão com que se inscreve em curva, a forma «limpa» como a negoceia e a imperturbável estabilidade da carroçaria.

Até com o controlo de estabilidade em posição mais permissiva (Sport) raras vezes sentimos a eletrónica a «endireitar» o coupé por perdas de motricidade, também porque o sistema quattro é mais eficaz e funciona de acordo com o programa de condução selecionado: em Dynamic é enviado mais binário para trás e o comportamento desportivo brilha em eficácia (em Comfort são as rodas dianteiras que recebem mais binário).

Audi TT RS Coupe iconic edition em estrada

O controlo seletivo do binário (uma função do controlo de estabilidade) pode, por outro lado, travar ligeiramente as rodas interiores à curva quando o TT RS ameaça perder motricidade, o que tem o efeito prático de puxar a frente do desportivo para dentro da mesma. Mesmo sem diferencial traseiro ativo o sistema merece o nosso aplauso.

Terminadas as fichas para o carrossel, hora de sair para as estradas públicas. Na passagem por várias pacatas vilas a opção foi a de guiar com o motor no modo menos barulhento e a verdade é que, se formos cuidadosos com o pedal da direita, não chamamos a atenção de ninguém.

E é também mais fácil viver com o RS no dia a dia que nem sempre é feito de asfaltos lisos como uma mesa de snooker. Não é que a suspensão se possa rotular de confortável nesse programa, mas também não sacode excessivamente os ocupantes.

joaquim oliveira ao volante do TT RS coupé iconic edition

A caixa S-Tronic volta a convencer plenamente pela rapidez e suavidade e o único senão com que regressámos nesta experiência ao volante — excelente, emprestado pelo Audi R8 — foi o da resistência dos travões (os de aço que são de série) à fadiga. Num trajeto com muitos zigs e zags, o curso do pedal foi ficando cada vez longo e o momento em que as mandíbulas mordiam os discos parecia nunca mais chegar.

Quanto custa?

Infelizmente, nenhuma das 100 unidades desta série limitada vai chegar a Portugal. Para termos uma ideia do seu preço, na Alemanha o TT RS «normal» custa 72 500 euros (em Portugal, o último preço, antes de deixar de ser comercializado, rondava os 100 000 euros) e o TT RS Coupé iconic edition vai orçar em… 113 050 euros(!).

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Um preço só para os fãs mais acérrimos e de bolsos fundos do TT, um modelo que já garantiu um lugar na história do automóvel e em 2023 deixará de ser fabricado. O Audi TT RS Coupé iconic edition é a devida vénia aos seus 25 anos e é, sem dúvida, uma forma especial da marca dos quatro anéis se despedir de tão icónico modelo.

Especificações técnicas

Audi TT RS Coupé iconic edition
Motor
Arquitetura 5 cilindros em linha
Posicionamento Dianteiro transversal
Capacidade 2480 cm3
Distribuição 2 a.c.c., 4 válv./cil., 20 válvulas
Alimentação Inj. mista direta/indireta, turbo, intercooler
Potência 400 cv entre 5850-7000 rpm
Binário 480 Nm entre 1700-5850 rpm
Transmissão
Tração Quatro rodas
Caixa de Velocidades Automática (dupla embraiagem) de 7 vel. (s tronic)
Chassis
Suspensão FR: Independente MacPherson; TR: Independente com multibraços (4); Amortecimento adaptativo
Travões FR: Discos ventilados (carbo-cerâmicos opcionais); TR: Discos maciços
Direção / Voltas ao volante Assistência elétrica/2,3
Diâmetro de viragem 10,96 m
Dimensões e Capacidades
Comp. x Larg. x Alt. 4,201 m x 1,832 m x 1,344 m
Entre eixos 2,505 m
Bagageira 305 l
Depósito 55 l
Massa 1550 kg (EU)
Rodas FR: 255/30 R20; TR: 255/30 R20
Prestações, Consumos, Emissões
Velocidade máxima 280 km/h
0-100 km/h 3,7s
Consumo misto 9,1 l/100 km (estimado)
Emissões CO2 207 g/km