Testámos o Audi Q8 e-tron. Muito competente exceto num ponto

O Audi e-tron recebeu um novo nome e oferece maior autonomia. Evoluiu o suficiente?

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O Audi e-tron renovou-se e agora passou a chamar-se Q8 e-tron, de maneira a respeitar o alinhamento da restante gama 100% elétrica marca dos quatro anéis.

Os nossos caminhos já se tinham cruzado no início do ano, em Lanzarote, onde o conduzimos pela primeira vez. Mas agora voltamos a encontrar-nos, desta vez por estradas portuguesas e durante quase uma semana.

https://youtu.be/NW8X0YdARKg?si=6iEgZFuAw4COWJ22

Esse tempo extra permitiu confirmar praticamente tudo aquilo que tinha achado da primeira vez que o conduzi. E tirou as dúvidas que restavam de que esta mudança vai muito além do nome.

Não vou perder muito tempo a descrever o que mudou por fora e por dentro, precisamente porque já o fiz: podem ver o ensaio em vídeo (acima) com o SQ8 Sportback e-tron ou ler o primeiro contacto. A escolha é vossa.

Para os que quiserem uma resposta mais rápida, posso dizer-vos que a maior alteração exterior aconteceu na dianteira, ao nível da grelha, e que o interior praticamente não sofreu modificações.

Contudo, tal como já tive oportunidade de dizer (e mostrar), o facto da Audi não ter mexido no habitáculo está longe de ser um problema, uma vez que esse sempre foi um dos pontos fortes deste SUV 100% elétrico.

Dos materiais usados aos acabamentos, o interior do Audi Q8 e-tron — aqui como Sportback, de aspeto mais desportivo — continua a ser um lugar muito bom para se estar.

Vamos ao que interessa?

Os dois principais focos da Audi para este «renascimento» do e-tron foram a autonomia e o tempo de carregamento, dois elementos fundamentais em qualquer carro elétrico.

No caso da bateria, estão disponíveis duas capacidades, maiores do que antes: uma de 93 kWh (89 kWh úteis) para o Q8 50 e-tron e outra de 114 kWh (106 kWh úteis) para o Q8 55 e-tron e para o SQ8 e-tron. A unidade deste teste era uma Sportback 55 e-tron, que anuncia 560 km de autonomia (S Line).

Além da maior autonomia, o novo Q8 e-tron (nas versões 55 e SQ8) passou a ser capaz de carregar a 170 kW (antes suportava apenas 150 kW), o que permite carregar dos 10% aos 80% em apenas 31 minutos. Numa wallbox de 11 kW é necessário esperar 11h30min para uma carga completa.

Bateria gigante disfarça consumos altos

No chamado «mundo real», é difícil não reparar no porte avantajado deste SUV, afinal estamos perante uma proposta com cerca de 2,6 toneladas e quase cinco metros de comprimento.

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Isso faz-se sentir nas manobras em espaços mais apertados, onde os espelhos retrovisores laterais inteligentes não são uma ajuda, e claro, nos consumos, que continua a não ser baixos.

É certo que a Audi fez alterações de pormenor de maneira a melhorar a eficiência aerodinâmica, a começar nas cortinas ativas da grelha dianteira. Mas não há milagres: o Q8 e-tron é grande e pesado — como de resto são todos os SUV elétricos deste segmento —, e isso tem um impacto direto nos consumos.

Neste ensaio percorri cerca de 400 km e acabei com uma média de consumo de 24,3 kWh/100 km. Mas mais importante do que isso é o facto de raramente ter conseguido andar abaixo dos 21 kWh/100 km, nem mesmo em cidade, recorrendo frequentemente ao modo efficiency. Abaixo deste ainda há o modo range, que desliga tudo o que não é essencial.

Usando esse valor de 21 kWh/100 km como referência, podemos apontar para uma autonomia total em torno dos 505 km. Se olharmos para a minha média total de 24,3 kWh/100 km — muito influenciada por vários quilómetros feitos em autoestrada —, percebemos que a este ritmo é impossível ir além dos 436 km.

Recordo que o Q8 Sportback 55 e-tron anuncia 560 km em ciclo combinado.

Se fizerem percursos mistos ou com maior pendência para ambientes urbanos, podem contar com mais de 470 km de autonomia entre cargas. O que não deixa de ser um valor satisfatório para o segmento.

Mas fica sempre evidente que estes registos são conseguidos pelo simples facto de estarmos perante uma bateria gigantesca e não pelos consumos, que continuam a não impressionar.

Um tapete sobre rodas

Além de mexer nas baterias (têm maior densidade, apesar de ocuparem o mesmo espaço do que antes), a Audi também fez alterações ao nível da direção e da suspensão e isso fez com que o Q8 e-tron ficasse ainda mais competente em estrada.

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Sendo um S Line, conta de série com suspensão pneumática adaptativa, que funciona particularmente bem nos pisos mais estragados, ao mesmo tempo que aumenta a estabilidade a velocidades mais elevadas e em autoestrada.

O conforto sentido é acompanhado por um isolamento acústico muito eficaz e por uma qualidade de rolamento que coloca este Q8 e-tron entre as referências do segmento.

Também gosta de estradas mais reviradas

Apesar do peso e do tamanho, o Audi Q8 Sportback e-tron não esconde uma atitude mais desportiva, sobretudo nas versões de topo, como esta testada. E nesse capítulo, acaba por surpreender. Não é um desportivo, muito longe disso, mas é extremamente competente.

Os travões são fáceis de «ler», a direção é muito linear e precisa e a suspensão mantém tudo sob controlo. Tudo isto faz com que o Q8 e-tron seja muito simples de entender, até porque revela sempre uma atitude progressiva e nunca nos surpreende com movimentos mais bruscos.

Para isso também muito contribui o sistema quattro da marca germânica, que aqui é alcançado através de dois motores elétricos, um por cada eixo, que conseguem sempre colocar todo o binário no asfalto de forma bastante eficaz.

E uma vez que estamos a revisitar os números deste SUV elétrico, posso dizer-vos que mesmo não sendo a versão SQ8 com três motores elétricos, as performances permitidas pelos 300 kW (408 cv) e 664 Nm não desiludem: 5,6s dos 0 aos 100 km/h e 200 km/h de velocidade máxima.

Não restam dúvidas de que com esta atualização (profunda, diga-se) a Audi deixou o Q8 e-tron mais capaz de fazer frente aos rivais, que são cada vez mais e… melhores. Basta olhar para o BMW iX e para o Mercedes-Benz EQE SUV, sem esquecer nunca o Tesla Model X.

O comportamento dinâmico, o refinamento a bordo e as boas prestações continuam a ser argumentos de peso. Mas a meu ver são o reforço da autonomia e o aumento da velocidade de carga que colocam este SUV elétrico da Audi novamente entre os melhores modelos do segmento.

Mas nem tudo são rosas. Os consumos são elevados, os grafismos dos ecrãs interiores já começam a pedir algo novo e o preço está longe de ser competitivo. O Q8 Sportback e-tron começa nos 82 511 euros mas a unidade testava superava os 127 000 euros. A lista de opcionais é longa e… cara.

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Porém, a esse nível tudo depende de vocês. É certo que existem muitos opcionais que deviam ser de série (portanto faz sentido comprá-los), mas existem outros totalmente dispensáveis, a começar logo nos espelhos retrovisores laterais inteligentes.

Já tinha «embirrado» com eles em contactos dinâmicos anteriores, e agora, neste ensaio em Portugal, voltei a confirmá-lo: oferecem uma pior experiência do que os espelhos retrovisores laterais convencionais, sobretudo à noite.

Mas isso não belisca a lista de atributos deste SUV, que é, mais do que nunca, uma aposta muito sólida. Tem uma mecânica muito competente, acabamentos de topo e, acima de tudo, uma imagem exterior que não «grita»: “olhem para mim, sou um elétrico do futuro”. E isso, tenho de admitir que é refrescante.