Este é o melhor Renault Clio de sempre por dois motivos

Maduro e mais poupado. O Clio está cada vez melhor.

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O início de um ensaio a um Renault Clio é um momento misto de expectativa e previsibilidade. Isto porque estou sempre à espera de encontrar novidades num modelo cuja primeira impressão é sempre muito familiar — já conheço o Clio há muitos anos e tenho-o visto «crescer» de geração em geração.

Esta atualização da quinta geração — quanto a mim, a melhor de sempre e já vou explicar porquê — acaba por cimentar o amadurecimento de uma extensa lista de qualidades que fizeram deste utilitário francês um verdadeiro caso de sucesso.

E este amadurecimento é o primeiro dos dois motivos de que falo no título. O Clio está mais maduro que nunca e isso sente-se ao volante. O segundo motivo está relacionado com a versão escolhida para este ensaio.

Em vez de optarmos pela versão híbrida E-Tech que o Guilherme já teve oportunidade de conduzir na Bélgica, escolhemos a versão movida a gás de petróleo liquefeito (GPL). Na minha opinião, a tecnologia certa na altura certa.

O futuro promete ser totalmente elétrico mas não está com pressa de chegar à garagem de todos os portugueses, por isso o GPL tem demonstrado ser uma das melhores alternativas para o presente, especialmente no nosso mercado. Mas já lá vamos…

Uma nova imagem de família

Quando chegou ao mercado, há quatro anos, a quinta geração do Renault Clio representou uma considerável evolução face à anterior geração em diversos níveis, exceto no estilo que se pautou por uma evolução algo tímida.

Esta aposta na continuidade foi seguramente do agrado de muitos proprietários. É que assim o valor residual do Clio mantém-se por mais tempo. E para esta atualização a estratégia mudou pouco.

O passo mais arrojado que faltava aconteceu apenas agora, com esta atualização, sobretudo à frente. Foram adicionados para-choques de visual mais desportivo e grupos óticos dianteiros mais angulares e de aspeto mais sofisticado, que estreiam a nova identidade da Renault.

Aposta nos materiais e na qualidade

Ao aceder ao habitáculo, regresso à parte previsível do momento de que falava há pouco. Isto porque quase não existem diferenças a bordo deste «novo» Renault Clio.

Ainda assim, na versão Techno com que passei uns dias, o painel de instrumentos já é totalmente digital e o acesso ao smartphone — através de Android Auto ou Apple CarPlay — dispensou a utilização de cabos. Finalmente!

Uma das maiores novidades no habitáculo do Renault Clio, no entanto, é daquelas que quase passa despercebida.

Para esta atualização, a marca francesa escolheu materiais de origem mais sustentável, dando origem, por exemplo, à faixa horizontal em tecido que vemos no tabliê. É uma decoração mais sofisticada que também descobrimos nos painéis das portas. No entanto, apenas nas da frente, pois as traseiras não tiveram essa sorte.

A montagem provou ser robusta, sem ruídos parasita, exceto um que me andou a provocar ao longo dos primeiros quilómetros deste ensaio. Não descansei enquanto não encontrei a origem: bastou arrumar o adaptador para o abastecimento de GPL (uma peça metálica) noutro recanto para o eliminar.

Ao volante, a posição de condução é correta e inclui regulações com uma boa amplitude. E apesar de ser um utilitário, a verdade é que o Renault Clio tem bastante espaço a bordo e uma bagageira com quase 400 litros de capacidade.

Gasolina ou GPL?

Bem, depois destes dias, acho que a resposta certa é: os dois. Tal como referi há pouco, esta parece ser mesmo a tecnologia certa na altura certa. E a sua versatilidade de utilização conta com diversos benefícios, que me levam a associá-la ao segundo motivo apontado no título: o GPL ajuda muito a este ser o melhor Clio de sempre.

Começo pelo tema dos consumos. Aqui, o Renault Clio revela ser um pouco mais «guloso» na utilização de GPL do que na de gasolina — tendência observada em outros veículos bi-fuel. Neste ensaio, a média registada foi de 8,8 l/100 km a GPL e de 7,0 l/100 km a gasolina, com muita cidade pelo meio.

A maior diferença, no entanto, não está no consumo dos dois combustíveis, mas sim no seu preço. À data da realização deste ensaio, o litro de GPL estava em torno dos 92 cêntimos, enquanto o da gasolina encontrava-se ligeiramente acima dos 1,81 euros.

Ou seja, com estes preços, para atestar o depósito de GPL de 32 litros bastam 30 euros (e ainda sobram uns trocos), mas para colocar a mesma quantidade de gasolina 95 precisamos de praticamente o dobro: 58 euros. Mas há mais.

Com os dois depósitos atestados — 32 litros de GPL mais 39 litros de gasolina, o que dá cerca de 100 euros —, a Renault afirma que o Clio consegue percorrer mais de 1000 km sem ter de parar para abastecer. E isso traduz-se em menos de 10 cêntimos por cada quilómetro percorrido. Não me parece um mau negócio.

Mas o melhor é andar sempre a GPL. Reduzimos a fatura com combustível em cerca de 40%. É muito e nossa carteira agradece.

Dinâmica sempre envolvente

Em termos de rendimento, o motor 1.0 turbo de três cilindros quase não apresenta diferenças entre os dois combustíveis numa utilização convencional. Sendo que isso permite explorar o chassis do Renault Clio, que continua a ser uma boa surpresa.

Mesmo em estradas menos movimentadas e de traçado mais sinuoso, os 100 cv já permitem alguma dose de diversão e agora, até a direção parece estar um pouco mais direta que antes.

Usando o GPL como combustível parece haver um pouco mais de «fôlego», até porque é com este combustível que temos acesso aos 100 cv de potência e a 170 Nm de binário. Se optarmos pela gasolina, estão disponíveis os mesmos 90 cv e 160 Nm dos outros Clio só a gasolina.

Seja em estrada ou em cidade e a qualquer velocidade, é preciso estar com muita atenção para se notar a transição entre os dois modos de funcionamento. No entanto, quando a transição acontece também há uma mudança de informações no computador de bordo e deixa iluminada a sigla LPG na instrumentação.

GPL é seguro?

A segurança e a fiabilidade destes sistemas ainda são das questões que suscitam mais dúvidas. No entanto, também aqui não existem motivos para preocupações.

Primeiro porque o sistema bi-fuel que faz parte da versão do Renault Clio vem de fábrica. E depois, porque este motor foi otimizado para fazer uso deste sistema.

Entre outras coisas, este 1.0 TCe inclui uma unidade de comando específica e alguns componentes reforçados, como as válvulas, por exemplo. Assim, os problemas de desgaste mecânico associados a esta tecnologia não acontecem no Clio.

O tr(i)unfo dos custos

Assim que o tema fica mais relacionado com a conta bancária, o tom da conversa também começa a ficar mais sério. No entanto, este é um dos Renault Clio que ainda trata este assunto de uma forma muito ligeira.

Para começar, o preço. A versão Techno ensaiada, mais recheada de equipamento e visual mais cuidado, tem preços a começar nos 22 300 euros. Mas há uma versão Evolution, mais acessível, com um valor de entrada de 20 300 euros.

No entanto, o «nosso» Renault Clio GPL apresenta um preço final acima da fasquia dos 25 mil euros. Tudo devido aos 3000 euros de pacotes adicionais de equipamento que deixam este Clio muito mais apetecível.

Muitos dos opcionais adicionados são mesmo uma mais valia, mas o principal trunfo do Renault Clio GPL são os custos de utilização que permite. Um trunfo adicional para aquele que ainda é um dos melhores utilitários disponíveis no mercado.