Ensaio Pensem duas vezes antes de comprar o Tesla Model 3 Performance

A partir de 57 490 euros

Pensem duas vezes antes de comprar o Tesla Model 3 Performance

A diversão não é uma linha reta e o Tesla Model 3 Performance também concorda. Foi o melhor Tesla que já conduzi, mas não era o que escolhia.

Tesla Model 3

8.5/10

Escolher a versão Performance do Tesla Model 3 não é sensato e está tudo bem.

Prós

  • Afinação do chassis;
  • Aceleração;
  • Preço;

Contras

  • Volante confuso;
  • Perda de autonomia;
  • Tejadilho desprotegido;

Não vale a pena comprar o Tesla Model 3 Performance. Podia ser o título deste artigo, mas não gosto de absolutismos. Preferi a dúvida. Sigam o meu raciocínio nas próximas linhas.

Do ponto de vista meramente racional — ainda para mais sabendo que 90% dos elétricos em Portugal são adquiridos através de empresa —, ficam melhor servidos com o Tesla Model 3 Long Range (LR).

Tesla Model 3 Performance
© Pedro Alves / Razão Automóvel Isto, sempre partindo do pressuposto que a decisão de escolher um Model 3 está tomada. Isso dava outro artigo…

Têm a calculadora à mão? Custa menos sete mil euros — o que deixará o vosso contabilista mais feliz — e vão conseguir ir mais longe com apenas uma carga. Além disso, já têm potência suficiente para obliterar a maioria dos carros em circulação nas nossas estradas. Se não querem mesmo saber da autonomia, então ainda têm a versão de entrada que custa menos 16 mil euros.

Mas como são teimosos — gosto disso… — decidiram continuar a ler este texto à procura de argumentos que me façam engolir as minhas próprias palavras e que justifiquem a opção pela versão Performance. Então vamos a isso… mas primeiro vamos falar do interior.

Até parece uma marca tradicional

Lembram-se do tempo em que a Tesla tinha volantes com poucos botões, haste de piscas, alavanca de mudanças e não inventava soluções absurdas como o Yoke — exceptuando na Cybertruck onde faz todo o sentido —, lembram-se disso?

Então despeçam-se dessa Tesla. Agora temos muitos botões no volante e nenhuma haste para os comandos tradicionais. Mesmo assim, ainda estamos longe do absurdo de botões que encontramos nos volantes da Mercedes…

Tesla Model 3 Performance interior
© Pedro Alves / Razão Automóvel Já passei tempo suficiente ao volante de várias versões do Tesla Model 3 Highland para poder afirmar de forma categórica que esta solução não melhora em nada a experiência de condução.

Talvez seja do avançar dos anos — não sei… —, mas a marca liderada por Elon Musk parece cada vez mais uma marca tradicional. Em que sentido? Está a complicar soluções que eram simples. Por outro lado há também cada vez mais marcas a tentar seguir os passos da Tesla. Para o bom e para mau, estão todas cada vez mais próximas.

Querem mais um exemplo? A Tesla agora também tem versões desportivas mesmo dedicadas, primeiro com o Model S Plaid e agora com este Model 3 Performance ainda mais comprometido com a parte dinâmica: jantes específicas, travões maiores, bancos com maior apoio, chassis mais dinâmico e um visual mais agressivo. Estamos a poucos passos da Tesla lançar uma divisão desportiva. A minha sugestão: X Performance.

Tesla Model 3 Performance traseira
© Pedro Alves / Razão Automóvel Quase dá vontade de colocar um “M Performance” ou um “RS” na traseira deste Model 3. Elon Musk preferiu evocar uma sátira à Guerra das Estrelas. Agora a sério, não façam isso…

Tirando a parte da ausência da haste dos piscas — que não faz sentido nenhum e não podemos ser amigos se não concordarmos nisto — esta mudança de postura tem os seus benefícios. Quais? Vamos falar dos upgrades presentes no interior deste Tesla Model 3 Performance, começando pelo principal ponto de contacto com o carro… o banco.

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Os bancos desta versão oferecem um excelente apoio e não castigam de sobremaneira o conforto. E depois, como manda a tradição, temos um gráfico de «performance» nas costas do banco para nunca nos esquecermos que estamos sentados num Model 3 mais especial que os outros.

Os detalhes a carbono no tabliê fazem o resto do serviço na tentativa de enaltecer o propósito desta versão.

Tesla Model 3 Performance interior bancos
© Pedro Alves / Razão Automóvel Estes bancos são tão bons que podiam equipar toda a gama Model 3 e ninguém ia ficar chateado.

Em tudo o resto (pelo menos estacionado) é um Tesla Model 3 igual a tantos outros: oferece um ótimo espaço interior, uma boa qualidade de montagem (nesta atualização) e um sistema de infoentretenimento intuitivo e prático de usar.

Mas continua a ser «curto» pagar mais 16 mil euros por uns bancos e por umas peças em carbono, quando temos um Model 3 que na versão base anuncia praticamente a mesma autonomia (513 km contra 528 km) e em tudo o resto é quase igual. Só que não é…

O melhor Tesla que já conduzi

Assim que arrancamos percebemos que este Tesla Model 3 Performance é diferente de todos os outros. O tato da direção e a firmeza da suspensão anunciam ao condutor que a experiência de condução vai ser diferente.

Os outros Model 3 não são maus — longe disso —, mas este é ainda melhor. A afinação geral encontrada para o chassis e suspensões (que pela primeira vez são adaptativas) metem esta versão noutro nível.

Tesla Model 3 Performance lateral
© Pedro Alves / Razão Automóvel

Dito de outra forma, já não é apenas um campeão das retas. Agora sabe curvar de forma comprometida as suas duas toneladas de peso, trava bem (várias vezes) e ganha velocidade com a vontade habitual.

Eu sei, eu sei… houve um piloto profissional muito conhecido que o levou para o Nürburgring-Nordschleife e, meia volta depois, os travões já tinham entregue a «alma ao criador» e o sistema elétrico já estava em «serviços mínimos».

Preocupante? Não creio. Se o vosso quotidiano não passar, de vez em quando, por track days ou por umas estradas de montanha ao fim de semana, então não vão dar conta destas falhas.

Mas… — e este “mas” é muito importante! — se não fazem isso, para quê escolherem a versão Performance e despedirem-se de quase 100 km de autonomia… percebem agora onde queria chegar com o título deste texto?

É que o Tesla Model 3 Performance acaba por cair em «terras de ninguém»: apenas faz um pouco melhor aquilo que o Long Range já fazia. E, por outro lado, não é uma derradeira versão desportiva como encontramos noutras marcas. Mas também, por mais sete mil euros não podíamos pedir muito mais…

Por isso, se a decisão de comprar um elétrico está tomada e querem mesmo performance sem asteriscos então vale a pena darem uma vista de olhos no Hyundai IONIQ 5 N.

É que a rapaziada da Hyundai estudou a lição toda e sobredimensionou o sistema de travagem, o arrefecimento dos motores e também das baterias para que o IONIQ 5 N aguentasse «tareias de meia noite» em circuito sem apelo nem agravo. Foram meses e meses de desenvolvimento no «inferno verde».

Modo de pista é obrigatório

Se querem fazer rotundas em modo acrobático, atacar curvas e sentir o bom trabalho operado no chassis e nas suspensões, é obrigatório ligar o novo modo Pista V3 (exclusivo desta versão).

Caso contrário a eletrónica do vosso Tesla Model 3 Performance vai castrar-vos de forma imediata. Devia haver um modo intermédio. É que no modo pista, com tudo desligado, é preciso ter os reflexos em dia.

O Model 3 Performance é sempre muito composto e previsível, mas a velocidade a que tudo se processa requer um nível de condução avançado.

Tesla Model 3 Performance traseira
© Pedro Alves / Razão Automóvel As mudanças estéticas não são muito perceptíveis, mas um «olhar» treinado vai logo notar que esta versão está mais próxima do solo e uma postura diferente.

Não nos podemos esquecer que estamos na presença de carro com quase 500 cv. No website da Tesla está anunciado 460 cv, mas há rumores que o número real é superior. Seja como for é muito rápido: 3,1s dos 0-100 km/h.

É muito rápido, mas é sobretudo divertido. Posso dizer-vos que com o passar do tempo «normalizamos» a capacidade de aceleração — deixa de ter tanta graça —, mas com as curvas isso não acontece.

As curvas são sempre diferentes, desafiam-nos e colocam-nos à prova. E o Tesla Model 3 Performance é um bom companheiro para esses momentos. Com as ajudas desligadas, faz tudo como queremos e quando queremos.

A questão do preço

Nem é uma questão: não há nada por este valor com este nível de performance. E os upgrades que recebemos por mais sete mil euros, face ao Long Range, estão completamente justificados.

Mas querem mesmo despedir-se de 100 km de autonomia? Esta é quanto a mim a questão central. Em condições reais contem com uma autonomia entre os 345 km e os 405 km. Valores que no LR alcançamos com menos esforço. Muito menos.

Tesla Model 3 Performance
© Pedro Alves / Razão Automóvel O consumo médio real durante o nosso teste variou entre os 18 kWh/100 km e os 24,9 kWh/100 km, contando com vias rápidas. Se não saírem da cidade este valor desde de forma substancial.

Partilho convosco a minha experiência. Fui sujeito recentemente ao mesmo tipo de decisão, não com um Tesla, mas com uma marca sueca, e escolhi a autonomia em detrimento da potência.

É que os carros elétricos são fabulosos — em vários aspetos —, mas as suas potências são por vezes inúteis. Principalmente em autoestrada, onde não usufruímos dela sob prejuízo de castrarmos o nosso alcance.

No final do dia sejam honestos e pensem friamente se a performance acima da média e autonomia superior do LR não é uma escolha mais sensata. Já se pensarem com o coração a resposta vai ser seguramente diferente e os sete mil euros a mais vão parecer uma pechincha.

Veredito

Tesla Model 3

8.5/10

O Tesla Model 3 Performance não me fez esquecer o Hyundai IONIQ 5 N enquanto desportivo elétrico. Mas é um excelente produto da Tesla. Não fosse a perda de 100 km de autonomia era a escolha óbvia.

Prós

  • Afinação do chassis;
  • Aceleração;
  • Preço;

Contras

  • Volante confuso;
  • Perda de autonomia;
  • Tejadilho desprotegido;

Especificações técnicas

Versão base:57.490€

Classificação Euro NCAP: 0/5

59.490€

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura: Dois motores elétrico
  • Posição:Dianteiro Transversal / Traseiro Transversal
  • Carregamento: Bateria: 75 kWh (úteis)
  • Potência: 460 cv
  • Binário: n.d.

  • Tracção: Integral
  • Caixa de velocidades:  Automática (1 relação)

  • Comprimento: 4720 mm
  • Largura: 1850 mm
  • Altura: 1431 mm
  • Distância entre os eixos: 2875 mm
  • Bagageira: 425 litros
  • Jantes / Pneus: 235/35 R20
  • Peso: 1914 kg

  • Média de consumo: 16,7 kWh/100 km; Autonomia: 528 km
  • Velocidade máxima: 262 km/h
  • Aceleração máxima: >3,1 segundos

    Tem:

    • Bancos desportivos;
    • Suspensão Adaptável;
    • Jantes forjadas de 20”;
    • Modo de Pista V3.

Pintura Vermelho Ultra: 2000 €.