Tesla Model 3
Escolher a versão Performance do Tesla Model 3 não é sensato e está tudo bem.
Prós
- Afinação do chassis;
- Aceleração;
- Preço;
Contras
- Volante confuso;
- Perda de autonomia;
- Tejadilho desprotegido;
Não vale a pena comprar o Tesla Model 3 Performance. Podia ser o título deste artigo, mas não gosto de absolutismos. Preferi a dúvida. Sigam o meu raciocínio nas próximas linhas.
Do ponto de vista meramente racional — ainda para mais sabendo que 90% dos elétricos em Portugal são adquiridos através de empresa —, ficam melhor servidos com o Tesla Model 3 Long Range (LR).
Têm a calculadora à mão? Custa menos sete mil euros — o que deixará o vosso contabilista mais feliz — e vão conseguir ir mais longe com apenas uma carga. Além disso, já têm potência suficiente para obliterar a maioria dos carros em circulação nas nossas estradas. Se não querem mesmo saber da autonomia, então ainda têm a versão de entrada que custa menos 16 mil euros.
Mas como são teimosos — gosto disso… — decidiram continuar a ler este texto à procura de argumentos que me façam engolir as minhas próprias palavras e que justifiquem a opção pela versão Performance. Então vamos a isso… mas primeiro vamos falar do interior.
Até parece uma marca tradicional
Lembram-se do tempo em que a Tesla tinha volantes com poucos botões, haste de piscas, alavanca de mudanças e não inventava soluções absurdas como o Yoke — exceptuando na Cybertruck onde faz todo o sentido —, lembram-se disso?
Então despeçam-se dessa Tesla. Agora temos muitos botões no volante e nenhuma haste para os comandos tradicionais. Mesmo assim, ainda estamos longe do absurdo de botões que encontramos nos volantes da Mercedes…
Talvez seja do avançar dos anos — não sei… —, mas a marca liderada por Elon Musk parece cada vez mais uma marca tradicional. Em que sentido? Está a complicar soluções que eram simples. Por outro lado há também cada vez mais marcas a tentar seguir os passos da Tesla. Para o bom e para mau, estão todas cada vez mais próximas.
Querem mais um exemplo? A Tesla agora também tem versões desportivas mesmo dedicadas, primeiro com o Model S Plaid e agora com este Model 3 Performance ainda mais comprometido com a parte dinâmica: jantes específicas, travões maiores, bancos com maior apoio, chassis mais dinâmico e um visual mais agressivo. Estamos a poucos passos da Tesla lançar uma divisão desportiva. A minha sugestão: X Performance.
Tirando a parte da ausência da haste dos piscas — que não faz sentido nenhum e não podemos ser amigos se não concordarmos nisto — esta mudança de postura tem os seus benefícios. Quais? Vamos falar dos upgrades presentes no interior deste Tesla Model 3 Performance, começando pelo principal ponto de contacto com o carro… o banco.
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Os bancos desta versão oferecem um excelente apoio e não castigam de sobremaneira o conforto. E depois, como manda a tradição, temos um gráfico de «performance» nas costas do banco para nunca nos esquecermos que estamos sentados num Model 3 mais especial que os outros.
Os detalhes a carbono no tabliê fazem o resto do serviço na tentativa de enaltecer o propósito desta versão.
Em tudo o resto (pelo menos estacionado) é um Tesla Model 3 igual a tantos outros: oferece um ótimo espaço interior, uma boa qualidade de montagem (nesta atualização) e um sistema de infoentretenimento intuitivo e prático de usar.
Mas continua a ser «curto» pagar mais 16 mil euros por uns bancos e por umas peças em carbono, quando temos um Model 3 que na versão base anuncia praticamente a mesma autonomia (513 km contra 528 km) e em tudo o resto é quase igual. Só que não é…
O melhor Tesla que já conduzi
Assim que arrancamos percebemos que este Tesla Model 3 Performance é diferente de todos os outros. O tato da direção e a firmeza da suspensão anunciam ao condutor que a experiência de condução vai ser diferente.
Os outros Model 3 não são maus — longe disso —, mas este é ainda melhor. A afinação geral encontrada para o chassis e suspensões (que pela primeira vez são adaptativas) metem esta versão noutro nível.
Dito de outra forma, já não é apenas um campeão das retas. Agora sabe curvar de forma comprometida as suas duas toneladas de peso, trava bem (várias vezes) e ganha velocidade com a vontade habitual.
Eu sei, eu sei… houve um piloto profissional muito conhecido que o levou para o Nürburgring-Nordschleife e, meia volta depois, os travões já tinham entregue a «alma ao criador» e o sistema elétrico já estava em «serviços mínimos».
Preocupante? Não creio. Se o vosso quotidiano não passar, de vez em quando, por track days ou por umas estradas de montanha ao fim de semana, então não vão dar conta destas falhas.
Mas… — e este “mas” é muito importante! — se não fazem isso, para quê escolherem a versão Performance e despedirem-se de quase 100 km de autonomia… percebem agora onde queria chegar com o título deste texto?
É que o Tesla Model 3 Performance acaba por cair em «terras de ninguém»: apenas faz um pouco melhor aquilo que o Long Range já fazia. E, por outro lado, não é uma derradeira versão desportiva como encontramos noutras marcas. Mas também, por mais sete mil euros não podíamos pedir muito mais…
Por isso, se a decisão de comprar um elétrico está tomada e querem mesmo performance sem asteriscos então vale a pena darem uma vista de olhos no Hyundai IONIQ 5 N.
É que a rapaziada da Hyundai estudou a lição toda e sobredimensionou o sistema de travagem, o arrefecimento dos motores e também das baterias para que o IONIQ 5 N aguentasse «tareias de meia noite» em circuito sem apelo nem agravo. Foram meses e meses de desenvolvimento no «inferno verde».
Modo de pista é obrigatório
Se querem fazer rotundas em modo acrobático, atacar curvas e sentir o bom trabalho operado no chassis e nas suspensões, é obrigatório ligar o novo modo Pista V3 (exclusivo desta versão).
Caso contrário a eletrónica do vosso Tesla Model 3 Performance vai castrar-vos de forma imediata. Devia haver um modo intermédio. É que no modo pista, com tudo desligado, é preciso ter os reflexos em dia.
O Model 3 Performance é sempre muito composto e previsível, mas a velocidade a que tudo se processa requer um nível de condução avançado.
Não nos podemos esquecer que estamos na presença de carro com quase 500 cv. No website da Tesla está anunciado 460 cv, mas há rumores que o número real é superior. Seja como for é muito rápido: 3,1s dos 0-100 km/h.
É muito rápido, mas é sobretudo divertido. Posso dizer-vos que com o passar do tempo «normalizamos» a capacidade de aceleração — deixa de ter tanta graça —, mas com as curvas isso não acontece.
As curvas são sempre diferentes, desafiam-nos e colocam-nos à prova. E o Tesla Model 3 Performance é um bom companheiro para esses momentos. Com as ajudas desligadas, faz tudo como queremos e quando queremos.
A questão do preço
Nem é uma questão: não há nada por este valor com este nível de performance. E os upgrades que recebemos por mais sete mil euros, face ao Long Range, estão completamente justificados.
Mas querem mesmo despedir-se de 100 km de autonomia? Esta é quanto a mim a questão central. Em condições reais contem com uma autonomia entre os 345 km e os 405 km. Valores que no LR alcançamos com menos esforço. Muito menos.
Partilho convosco a minha experiência. Fui sujeito recentemente ao mesmo tipo de decisão, não com um Tesla, mas com uma marca sueca, e escolhi a autonomia em detrimento da potência.
É que os carros elétricos são fabulosos — em vários aspetos —, mas as suas potências são por vezes inúteis. Principalmente em autoestrada, onde não usufruímos dela sob prejuízo de castrarmos o nosso alcance.
No final do dia sejam honestos e pensem friamente se a performance acima da média e autonomia superior do LR não é uma escolha mais sensata. Já se pensarem com o coração a resposta vai ser seguramente diferente e os sete mil euros a mais vão parecer uma pechincha.
Veredito
Tesla Model 3
O Tesla Model 3 Performance não me fez esquecer o Hyundai IONIQ 5 N enquanto desportivo elétrico. Mas é um excelente produto da Tesla. Não fosse a perda de 100 km de autonomia era a escolha óbvia.
Prós
- Afinação do chassis;
- Aceleração;
- Preço;
Contras
- Volante confuso;
- Perda de autonomia;
- Tejadilho desprotegido;
Especificações técnicas
Versão base:57.490€
Classificação Euro NCAP:
59.490€
Preço unidade ensaiada
- Arquitectura: Dois motores elétrico
- Posição:Dianteiro Transversal / Traseiro Transversal
- Carregamento: Bateria: 75 kWh (úteis)
- Potência: 460 cv
- Binário: n.d.
- Tracção: Integral
- Caixa de velocidades: Automática (1 relação)
- Comprimento: 4720 mm
- Largura: 1850 mm
- Altura: 1431 mm
- Distância entre os eixos: 2875 mm
- Bagageira: 425 litros
- Jantes / Pneus: 235/35 R20
- Peso: 1914 kg
- Média de consumo: 16,7 kWh/100 km; Autonomia: 528 km
- Velocidade máxima: 262 km/h
- Aceleração máxima: >3,1 segundos
- Bancos desportivos;
- Suspensão Adaptável;
- Jantes forjadas de 20”;
- Modo de Pista V3.
Tem:
Pintura Vermelho Ultra: 2000 €.
2 comentários
Pensem duas vezes antes de comprar o Tesla Model 3 Performance
A diversão não é uma linha reta e o Tesla Model 3 Performance também concorda. Foi o melhor Tesla que já conduzi, mas não era o que escolhia.
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