Testei o XPeng G9 e este SUV chinês deveria preocupar os europeus

O XPeng G9 é um SUV 100% elétrico chinês que não parece ser muito… chinês.

---

Para quem não consegue acompanhar o ritmo de chegada a Portugal de novas marcas de automóveis provenientes da China, a XPeng é uma das que é importada pela Salvador Caetano Auto — tal como a BYD.

A gama é composta por três modelos: o P7, uma berlina executiva: o G6, o SUV médio que já testámos; e este G9, por enquanto o seu SUV de maiores dimensões e ao qual não parece faltar absolutamente nada.

Quando digo grandes dimensões não estou a brincar. O G9 tem um porte marcante desde o primeiro momento em se olha para ele. São 4,9 m de comprimento, 1,94 m de largura e uma altura de 1,67 m. Só a distância entre eixos é de três metros e esta é muito relevante para o espaço no interior.

Em termos de estilo, o XPeng G9 inclui linhas bem conseguidas, mas que não se destacam por aí além, uma vez que parece que a maioria das marcas chinesas agora andam a copiar-se umas às outras. Fica a faltar alguma novidade e identidade, sobrando apenas vários casos de “a tua cara não me é estranha”.

Ainda assim, no caso do XPeng G9, há detalhes que me surpreenderam. Desde a abertura e fecho elétrico da tampa da tomada de carregamento ao número elevado de câmaras que podemos encontrar um pouco por todos os «cantos» da carroçaria.

Viver à grande e à… chinesa

Mesmo antes de aceder ao habitáculo do XPeng G9, uma boa surpresa é a ausência de molduras nas janelas. Não parece fazer grande sentido num SUV deste tamanho, mas pronto, estão lá, e é um detalhe cativante.

Depois, a bordo, relembro que se há coisa que os chineses gostam é de espaço no habitáculo e no maior SUV da XPeng, isso está muito longe de ser um problema.

Voltando aos três metros da distância entre eixos, não só são suficientes para «arrumar» os módulos da bateria de 98 kWh (brutos), mas que também contribuem para um habitáculo bastante amplo.

Tem espaço para cinco pessoas, mas a lotação ideal será sempre de quatro, para que todos possam ir o mais à-vontade possível. Dá para traçar a perna nos lugares traseiros e apreciar a vista pelo enorme tejadilho em vidro. Se for necessário, o quinto lugar não é muito menos desconfortável que os restantes, até porque, na fila traseira, o piso é totalmente plano.

Ainda no capítulo do espaço, é necessário destacar os 660 litros de capacidade da bagageira, que incluem recantos laterais com uma rede e um fundo falso para cabos, por exemplo. Em alternativa, está também disponível um frunk sob o capô dianteiro com 71 litros de capacidade, mas que se abre como um capô igual a todos os outros. Ou seja, não é lá muito prático.

De resto, a escolha de materiais é bastante cuidada e a qualidade de montagem dos mais variados componentes não desilude. Nos assentos traseiros, há alguns ruídos parasitas, mas isso não penaliza o nível de conforto nem o ambiente a bordo.

Nos lugares da frente é a tecnologia que assume o protagonismo, seja pelo cenário criado pela iluminação ambiente, como pela obrigação de usarmos o ecrã central para quase todas as funções e regulações.

Tecnologia acima de q.b.

A quantidade de funções e configurações disponíveis no XPeng G9 parece ser infindável e se estiver a imaginar uma qualquer função neste preciso momento — relacionada com o mundo automóvel —, o mais provável é que esteja incluída no equipamento de série do XPeng G9 Performance.

Por exemplo, por entre as muitas páginas disponíveis, está uma dedicada à forma como o G9 recebe e se despede do condutor. É possível optar por entre três sons diferentes para quando se tranca ou destranca o carro, se são acompanhados de sinais luminosos ou não e até se a suspensão pneumática faz descer todo o conjunto para permitir um melhor acesso ao habitáculo.

Apesar do número elevado de funções, os menus não são dos mais complicados que já naveguei e apenas requerem um pouco de habituação. Mais complicado é o facto de praticamente não existirem comandos físicos e de ser necessário recorrer ao ecrã central para quase tudo.

É através deste que regulamos a coluna da direção em altura e profundidade ou mesmo efetuar um pequeno ajuste nos espelhos retrovisores ou na direção das saídas da ventilação. Quase parece estranho que a abertura e fecho dos vidros elétricos ser feita através de comandos físicos.

A ausência de comandos físicos faz com o que o habitáculo tenha uma imagem minimalista, sem elementos desnecessários ou visualmente confusos. Não faltam detalhes originais, como saídas de ventilação nas placas de indução para que os smartphones não sobreaqueçam.

Em frente ao passageiro dianteiro está um terceiro ecrã com acesso a serviços de streaming e outras aplicações, mas que é invisível para o condutor, ao contrário dos reflexos que o seu ângulo permite.

Mesmo que o conseguíssemos ver, o G9 está permanentemente a ler a nossa expressão facial e emite um alerta quando parecemos mais distraídos.

Elétrico com presença

A designação AWD Performance do XPeng G9 indica que temos um motor por eixo, que oferecem 405 kW (551 cv) de potência máxima combinada e 717 Nm de binário.

Com estes números e uma sofisticada suspensão pneumática, mal me apercebo que tenho «nas mãos» um SUV com quase 2,4 toneladas e que, num arranque, precisa de menos de quatro segundos para chegar aos 100 km/h.

Por outro lado, quando começo a pedir mais do chassis e da suspensão pneumática num traçado mais sinuoso, obrigando a alguma transferência de massas, aí sim, o peso já se torna mais evidente.

Neste tipo de percurso, o melhor mesmo é relaxar um pouco e aproveitar a viagem que, ainda assim, não vai demorar muito tempo e deixar as velocidades mais elevadas para autoestrada. Claro que, quanto maior for a «pressa», mais elevado será o consumo de energia.

Para o G9 AWD Performance, a XPeng anuncia uma autonomia máxima de 520 km (WLTP) e um consumo médio de 21,3 kWh/100 km.

Não é habitual conseguirmos ficar abaixo dos números oficiais, mas acabei este ensaio com uma de 18,3 kWh/100 km. Fiquei perfeitamente convicto que não só iria alcançar facilmente os 500 km, como iria superar o valor oficial.

Ainda assim, o XPeng G9 tem uma outra vantagem. Graças a uma arquitetura elétrica de 800 V, o sistema admite velocidades de carregamento em corrente contínua (DC) de até 300 kW, permitindo que a bateria de 98 kWh passe dos 10% aos 80% em apenas 20 minutos.

Imagem premium. Preço premium?

Sendo o topo de gama da XPeng e a versão mais equipada de todos, não se adivinhava um preço muito simpático. No entanto, o G9 tem preços a começar nos 62 790 euros e a versão Performance que testei começa em 77 690 euros.

No caso da unidade que vê nas imagens, tem de adicionar 1000 euros para a pintura metalizada. Apesar de já ter uma elevada oferta de equipamento de série, ficou ainda a faltar na nossa unidade o Pack Premium, que custa à volta de 4000 euros.

Esse pacote, só para ter uma ideia, inclui um sistema de som da Dynaudio com 22 altifalantes (alguns integrados nos assentos) e uma potência máxima de 2150 W, Dolby Atmos. Além disso, os assentos são forrados em couro Nappa e não se fica por aqui.

Estes passam a incluir um sistema com seis tipos de massagens de 10 zonas e três níveis de intensidade. E incluem ainda um modo de repouso com um apoio melhorado para as pernas. Não posso dizer que não fiquei com curiosidade…