Primeiro Contacto Fiat 600e. Conduzimos o elétrico que marca o regresso da Fiat ao segmento B

Desde 36 350 euros

Fiat 600e. Conduzimos o elétrico que marca o regresso da Fiat ao segmento B

Conduzimos o Fiat 600e num cenário mítico, no topo da antiga fábrica de Lingotto, antes de o levarmos para as ruas de Turim. Passou o teste?

Fiat 600e

Primeiras impressões

7.5/10

A Fiat recuperou uma designação histórica para voltar a conquistar um segmento que, historicamente, costumava dominar. Será que o 600e vai conseguir?

Prós

  • Eficiente
  • Imagem marcante
  • Espaço

Contras

  • Comandos muito leves
  • Direção muito assistida

Um Fiat 500e com mais autonomia, mais espaço e mais potência. Podia ser este o cartão de visita do novo Fiat 600e, que marca o regresso da marca italiana a um segmento que, historicamente, costumava dominar.

Falamos do segmento B ou dos utilitários, onde a Fiat soma mais de 23 milhões de automóveis vendidos ao longo dos anos, alcançados com modelos verdadeiramente icónicos, como são o 127, o Uno, o Punto e claro, o 600 (o original).

Com o novo 600e a Fiat aponta novamente a este mercado, onde não estava presente desde 2018, depois do fim do Punto. E fá-lo com um modelo que evoca uma designação histórica (600) e que nós já tivemos oportunidade de conduzir, no berço da marca italiana, Turim.

E antes disso pudemos conhecê-lo de perto na La Pista 500, a mítica pista oval que existe no telhado da antiga fábrica de Lingotto da Fiat, cenário de uma das cenas de perseguição mais icónicas do cinema, no filme “The Italian Job“.

Estilo que não passa despercebido

Basta olhar para o novo 600e para perceber que há muito em comum com o Fiat 500 100% elétrico, que tem sido um autêntico caso de sucesso: é líder entre os elétricos do segmento A e já soma mais de 160 000 unidades vendidas.

As semelhanças entre estes dois modelos manifestam-se logo na forma arredondada da carroçaria e ficam evidentes na dianteira, sobretudo ao nível dos faróis arredondados. Já na traseira o 600e reserva algumas novidades, tais como o padrão no interior dos farolins ou o desenho do para-choques, que na versão La Prima (a mais equipada) surge decorado com uma pequena bandeira italiana.

É um detalhe, é certo, mas é precisamente essa atenção ao estilo que torna o 600e diferente. E não há outra forma de o dizer: apesar de não ter linhas muito expressivas, o design deste Fiat tem personalidade e não passa despercebido.

Para reforçar isso, este passa também a ser o primeiro automóvel a adotar a nova filosofia da Fiat, que anunciou que não vai voltar a produzir carros cinzentos. Esta é uma decisão que arranca com o 600e mas que será transversal a toda a gama da marca transalpina.

Moderno mas de olhos postos no passado

Pode um desenho ser moderno mas ao mesmo tempo nostálgico? Claro que sim. O interior deste 600e é a prova perfeita disso.

Muito parecido ao que já conhecíamos do Fiat 500e, este interior junta elementos mais sofisticados (como o ecrã central de 10,25” ou a consola central com uma tampa magnética) com traços inspirados no passado, como vemos, por exemplo, no volante, no monóculo da instrumentação ou no tabliê horizontal.

Fiat 600e volante
© Fiat

Há muito pouco a apontar ao estilo. O volante está no sítio certo, o ecrã multimédia tem o tamanho ideal para um modelo com estas características e os comandos da climatização continuam a ser físicos e a estar «mesmo à mão».

E ainda falta falar dos bancos, que apesar de não oferecerem grande suporte lateral, são muito confortáveis. Na versão mais equipada (La Prima) o banco do condutor conta com ajustes elétricos e com programas de massagens.

Mas porque nem tudo são rosas, os plásticos do interior (seja na parte superior do tabliê, nas portas ou na consola central) são duros e com um toque não muito suave. Mas este primeiro contacto foi suficiente para perceber que estão bem montados e que não se ouvem ruídos parasitas a bordo.

As semelhanças com o 500e acabam no espaço

Se até aqui vimos que muito do 600e foi inspirado no seu «irmão» mais pequeno, o 500e, isso muda quando passamos para os lugares traseiros. Isto porque no caderno de encargos deste modelo estavam duas necessidades que o 500 não tem que preencher: espaço e versatilidade.

O 600e terá, necessariamente, que servir pequenas famílias, pelo que tem que oferecer mais espaço. E fá-lo de forma inequívoca: os 54 cm de diferença que existem entre estes dois modelos fazem notar-se nos lugares traseiros e na bagageira, como podem ver no vídeo que surge em destaque neste artigo.

Elétrico e não só

O Fiat foi lançado com duas versões distintas: uma 100% elétrica, denominada 600e, e outra eletrificada, chamada 600 Hybrid.

O foco da marca italiana estará, sem qualquer margem para dúvidas, na versão totalmente elétrica, que foi aquela que eu tive oportunidade de testar neste primeiro contacto e é aquela que vai fazer a estreia do modelo no mercado português, no primeiro trimestre de 2024.

A NÃO PERDER: Apenas elétrico? Ainda não. Fiat 600 vai ter uma versão híbrida

Mas porque a transição para a mobilidade elétrica não decorre à mesma velocidade em todos os países, a Fiat aproveitou o facto de ter uma plataforma multi-energias (a plataforma e-CMP2 da Stellantis) para lançar o 600 com uma mecânica híbrida em alguns países (Portugal está incluído), um pouco à imagem do que a Jeep fez com o Avenger.

Nessa versão, o Fiat 600 Hybrid vai combinar um motor a gasolina (turbo) de três cilindros e 1.2 litros com um motor/gerador elétrico — integrado na caixa de velocidades — com 21 kW (28 cv) e com um sistema mild-hybrid de 48V, para uma potência máxima de 100 cv.

Mais de 400 quilómetros de autonomia

Voltando à versão elétrica 600e, recorre à mesma solução mecânica que encontramos nos «primos» Jeep Avenger e Peugeot e-2008. Por outras palavras, tem um motor elétrico de nova geração com 115 kW (156 cv) e 260 Nm, montado na dianteira, e uma bateria com 54 kWh (dos quais 50,8 kWh úteis) de capacidade, que lhe permite anunciar pouco mais de 400 quilómetros (406, para ser exato) de autonomia no ciclo combinado WLTP.

Durante este breve primeiro contacto não consegui perceber se os números de autonomia reais se aproximam dos valores anunciados pela marca italiana, mas cheguei ao final do percurso com um consumo médio de 12,9 kWh/100 km, pelo que, se usarmos como referência os 50,8 kWh de capacidade útil da bateria, percebemos que a este ritmo iríamos conseguir percorrer cerca de 393 km com uma só carga.

Fiat 600e La Prima carregamento
© Fiat O Fiat 600e suporta carregamentos de até 11 kW em corrente alternada e de até 100 kW em corrente contínua

Comandos muito leves

Ao volante do Fiat 600e, a primeira coisa que reparei é que a posição de condução não é mais alta do que aquela que temos no 500e. Depois, destaca-se o acerto mais firme da suspensão, sobretudo quando comparado com o Avenger da Jeep.

Naturalmente, isso afeta o conforto de rolamento, sobretudo em estradas em pior estado e quando equipamos jantes de 18”, tal como acontece na versão La Prima. Mas dá outra compostura a este elétrico, que se mostra sempre muito equilibrado e com a traseira bem presa ao asfalto.

Fiat 600e La Prima traseira
© Fiat

Mesmo assim, e sendo esta uma proposta sem ambições desportivas, o que mais convence acaba por ser a suavidade e a progressividade com que tudo acontece. Mas é impossível não reparar na extrema leveza dos comandos, seja ao nível da direção (é demasiado assistida) ou do pedal do travão, que tem um curso inicial demasiado leve e que obriga a alguma habituação.

Outro ponto a destacar é o facto da função B de máxima regeneração de travagem não ser forte o suficiente para imobilizar o carro, ao contrário do que acontece com outras propostas 100% elétricas, a começar logo pelo 500e.

Quanto custa?

As primeiras unidades do Fiat 600e só vão chegar a Portugal no primeiro trimestre de 2024, mas os preços já são conhecidos: desde 36 350 euros para a versão RED e desde 41 350 euros para a topo de gama La Prima.

Se olharmos para o Jeep Avenger, percebemos que ele começa apenas nos 39 700 euros, cerca de 3350 euros mais do que o modelo da Fiat. Já para o Peugeot e-2008 equivalente (com o mesmo motor elétrico e com a mesma bateria) a diferença ronda os 2500 euros.

Mais importante do que olhar para o preço é olhar para aquilo que a Stellantis conseguiu fazer com estes três modelos, que apesar de partilharem a «espinha dorsal», têm estilos e personalidades muito diferentes.

Quanto ao Fiat 600 Hybrid, chega um pouco mais tarde, no segundo semestre de 2024, mas ainda não tem preços definidos.

Fiat 600e La Prima frente
© Fiat

Em jeito de resumo, acredito que o 600e não vai ter uma carreira comercial tão simples quanto a do 500e, porque vai entrar num segmento muito mais concorrido. Mas não tenho grandes dúvidas de que ele tem argumentos suficientes para passar a ser, de imediato, uma proposta relevante na Europa.

Veredito

Fiat 600e

Primeiras impressões

7.5/10
O Fiat 600e vai ter uma missão bem mais complexa do que o 500e, que tem surpreendido tudo e todos. Isto porque vai entrar num segmento onde a concorrência abunda, quer em quantidade quer em qualidade. Mas é o segmento em maior crescimento na Europa e eu acredito que o 600e tem argumentos para dar cartas. Porque não só tem vários atributos que evocam a racionalidade (a versatilidade, a eficiência e o equipamento) como tem um estilo que não passa despercebido.

Prós

  • Eficiente
  • Imagem marcante
  • Espaço

Contras

  • Comandos muito leves
  • Direção muito assistida