Primeiro Contacto Silêncio de luxo. Conduzimos o elétrico Rolls-Royce Spectre

Desde 390 000 euros

Silêncio de luxo. Conduzimos o elétrico Rolls-Royce Spectre

Ao luxo insuperável de um Rolls-Royce, a aristocrática marca junta agora um novo ingrediente com o Spectre: o do silêncio (quase) absoluto.

Rolls-Royce Spectre

Primeiras impressões

8/10

O Spectre é o modelo que representa a transição da Rolls-Royce para um mundo 100% elétrico.

Prós

  • Ambiente aristocrático
  • Exclusividade
  • Silêncio e conforto geral a bordo

Contras

  • Preço
  • Sistema de climatização datado
  • Desconforto em maus pisos

A Rolls-Royce testou os seus primeiros motores elétricos há mais de 100 anos, pois Sir Henry Royce era fascinado por tudo o que fosse acionado por baterias. No entanto, foi preciso esperar mais de um século para que o primeiro Rolls-Royce elétrico chegasse ao mercado. Chama-se Spectre e viemos conduzi-lo no coração do estado da Califórnia, tendo o Vale de Napa como cenário.

O nome Spectre não é uma novidade para a Rolls-Royce, tal como os mais aficionados da aristocrática marca britânica e os estudiosos do mundo automóvel podem confirmar. Mas é a primeira vez que este é aplicado num automóvel de produção em série, numa longa tradição de nomes etéreos que captam a essência do movimento quase silencioso dos modelos da Rolls-Royce.

O novo Spectre é também o primeiro Rolls-Royce elétrico, marcando o início de um processo de conversão total (estará concluído até 2030) da marca elitista à locomoção totalmente elétrica.

A dimensão deste passo é explicado pelo CEO da marca, Torsten Müller-Ötvös, ao referir que o dia da apresentação estática do Spectre foi o segundo mais importante na história da empresa, depois do dia da sua fundação, a 4 de maio de 1904.

Rolls-Royce Spectre junta revolução com evolução

Se em termos de propulsão estamos perante uma autêntica revolução — o bloco de 12 cilindros e a enorme caixa de velocidades deram lugar a motores elétricos e a uma grande bateria sob o piso do carro — esteticamente apenas podemos falar de evolução.

Tal como o Wraith, o Rolls-Royce Spectre ostenta de forma confiante uma carroçaria coupé fastback elegantemente traçada, com uma cauda levemente afilada.

Mas mesmo que o design e as proporções tenham evidentes pontos de contacto, os responsáveis da Rolls-Royce não se cansam de enfatizar que o Spectre é um automóvel completamente novo… e claro, de preço proibitivo para qualquer comum mortal.

A característica grelha frontal é mais larga e plana do que o habitual na Rolls-Royce e é emoldurada por um marcante sistema de iluminação em LED.

No entanto, ainda mais interessante é a atualização da estatueta que brilha na ponta do capô de cada Rolls-Royce, a famosa Spirit of Ecstasy — registada como propriedade intelectual em 1911 —, agora redesenhada para a nova era elétrica.

Cifras modestas não estão incluídas

Os números do Rolls-Royce Spectre deixam qualquer um em sentido, seja pelo elevada massa marginalmente abaixo das três toneladas, ou pelas suas dimensões, com um comprimento próximo dos 5,5 m e uma distância entre eixos de 3,21 m. Já para não falar nos 585 cv de potência e o preço a rondar o meio milhão de euros.

Não será muito fácil encontrar cifras modestas como o diâmetro de viragem de apenas 12,7 m (cortesia do eixo traseiro direcional, sempre de série), mesmo que inspecionemos a ficha técnica do Spectre de lupa em riste.

Com estas proporções de carroçaria não é de estranhar que o refinado habitáculo tenha um espaço ultra generoso para quatro pessoas, ao qual se acede por uma das duas portas luxuosas que se abrem «para trás», ao mais puro estilo Rolls-Royce.

No Spectre, o luxo não escolhe filas de poltronas nem lugares: mesmo os ocupantes mais altos e largos dispõem de todo o espaço que necessitam, bem como de regulações independentes de climatização, massagem e áudio.

Tradição e modernidade a bordo

No faustoso interior, respira-se uma bem conseguida fusão entre tradição e modernidade. Por um lado, temos a conservadora placa de metal ao centro da consola central, o relógio analógico e o aparentemente datado sistema de climatização — a Rolls-Royce ainda não se atreveu a alterá-lo porque os seus clientes simplesmente adoram o seu funcionamento.

Por outro lado, sendo certo que já havia ecrãs nos mais recentes Rolls-Royce de motor térmico, agora, todos os instrumentos são digitais e existe um novo monitor tátil que funciona com o sistema operativo “Spirit”.

Não deixa de «cheirar» a Rolls-Royce, com o indicador de “reserva de potência” habitual na marca britânica (mesmo que digital), além da presença de materiais e acabamentos de qualidade superlativa.

Isto, além de níveis de individualização que chegam aos mais impensáveis detalhes. E se no Ghost e no Phantom apenas o teto poderia assumir o aspeto de céu estrelado numa zona do planeta não poluída, aqui a superfície de pontos reluzentes em LED foi alargada até aos painéis das portas, aumentando-os até 4796 «estrelas».

Ao volante do Spectre pelo Napa Valley

Muitos dos futuros proprietários do Rolls-Royce Spectre vivem nos Estados Unidos da América, mais concretamente na rica zona do Vale de Napa, decorado pelas videiras que fazem alguns dos melhores vinhos do país.

Foi neste cenário que o chassis — uma simbiose de molas pneumáticas, amortecedores eletrónicos, barras estabilizadores eletrónicas, quatro rodas direcionais e direção com afinação suave e precisa — nos mostrou a verdadeira proeza de dissimular as dimensões e peso deste Rolls-Royce, enquanto também são bem contidos os movimentos transversais da carroçaria.

© Rolls-Royce

No entanto, a passagem por irregularidades no asfalto, raros por estas bandas, sente-se um pouco mais do que o esperado, muito por culpa das enormes jantes de 23” e pneus de baixo perfil. Esta foi uma «imposição» dos designers de forma a garantir uma harmonia estilística, tendo em conta as dimensões avantajadas deste modelo.

Em contrapartida, tem a vantagem de recordar os passageiros que o Spectre está a andar, tão esmagador é o silêncio que se vive a bordo. Isto assumindo que o som sintetizado de motor V12 fica desligado, em vez de ferir o tranquilo ambiente a bordo com artificialidades dispensáveis…

O sistema de suspensão da marca designado por Planar ganhou ainda mais expressão pelo facto de a rigidez torsional do Rolls-Royce Spectre ser 30% mais elevada. Além disso, em linha reta, este sistema de suspensão pode desacoplar automaticamente as barras estabilizadoras, permitindo que cada roda possa atuar de uma forma independente. Assim que é detetada a chegada a uma curva, estas voltam a ser acopladas, aumentando a firmeza dos amortecedores.

Peso mastodôntico

Mesmo com o seu peso mastodôntico, o Spectre agradece aos 430 kW (585 cv) de potência combinada dos dois motores e aos 900 Nm de binário, pela sua capacidade de acelerar até aos 100 km/h em apenas 4,5s e de alcançar os 250 km/h de velocidade máxima (limitada eletronicamente).

Ou seja, prestações bem enquadradas com as conseguidas pelos sensacionais motores V12 que, ao longo de décadas, foram considerados como autênticas criações de ourives na indústria automóvel.

© Rolls-Royce

A bateria de 102 kWh pesa cerca de 700 kg e está montada sob o piso do habitáculo, fazendo parte da estrutura do Spectre. Graças a isso, é obtida uma estabilidade superior, mais rigidez torcional e um isolamento acústico mais cuidado.

A autonomia elétrica anunciada é de 530 km e o consumo médio situa-se entre os 22,2 kWh/100 km e os 23,6 kWh/100 km, sendo que se trata de números que pouco importarão à quase totalidade dos futuros clientes do Spectre.

Por um lado, porque estes vão acabar por delegar a missão de carregamento da bateria do Spectre a um funcionário de confiança. E depois porque este o irá fazer apenas num ponto de carregamento próprio, seja em casa, na empresa… ou no palácio.

© Rolls-Royce Por baixo desta tampa não reside um V12, mas sim um de dois motores elétricos. É alimentado por uma bateria de 102 kWh que pode ser carregada até 195 kW em corrente contínua (10-80% em 34min) ou até 22 kW em corrente alternada (0-100% em 5,5h)

Teste do champanhe

Nos dias de hoje, o rendimento máximo dos tais 585 cv não surpreende, bem pelo contrário, mas é suficiente para garantir uma resposta geral típica da marca: luxuosa, demarcada e simplesmente espetacular.

© Rolls-Royce

Ainda assim, e tal como explicado pelo diretor de projeto, houve um intencional atraso inicial da resposta ao acelerador, para que a entrega de potência seja linear e progressiva. Ou seja, capaz de oferecer uma sensação de crescendo natural em vez de um disparo balístico.

Desta forma, o Rolls-Royce Spectre pode superar o «teste do champanhe», mesmo em viagem, oferecendo aos seus passageiros a possibilidade de erguer as suas flutes e apreciar o precioso líquido sem o derramar.

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Uma longa lista de espera para o Spectre

A lista de espera para o Rolls-Royce Spectre já é bastante longa, entrando bem dentro de 2025, muito depois das primeiras entregas, previstas para o final deste ano. Isto, apesar de muitos clientes da marca já terem deixado um sinal para a sua reserva, que faz parte de uma conta final que nunca ficará abaixo dos 390 mil euros.

Em países com impostos não abusivos, o Spectre posiciona-se entre os modelos Cullinan e Phantom. Em Portugal, no entanto, o impacto inflacionista dos impostos sobre os automóveis a combustão faz com que este se situe entre o Ghost e o Cullinan (um patamar baixo, portanto). Afinal, por cá, os veículos elétricos ainda não são castigados pela fiscalidade de uma forma tão severa.

O valor de referência rondará meio milhão de euros, ainda que este esteja sujeito a uma ampla variação, definida pelo seu conteúdo em termos de equipamento e as possibilidades quase infinitas em termos de personalização.

Veredito

Rolls-Royce Spectre

Primeiras impressões

8/10
A aristocrática novidade da marca de Goodwood é também o seu primeiro automóvel elétrico e acaba de redefinir o significado de conduzir em silêncio. Com a chegada do Rolls-Royce Spectre, alcançamos o ponto de não retorno — até 2030 deixam de existir Rolls-Royce a combustão com motores de muitos cilindros o todos serão elétricos —, mas que não restem dúvidas: continua a ser um Rolls-Royce.

Prós

  • Ambiente aristocrático
  • Exclusividade
  • Silêncio e conforto geral a bordo

Contras

  • Preço
  • Sistema de climatização datado
  • Desconforto em maus pisos

Especificações técnicas

Rolls-Royce Spectre
Motor
Motor2 motores (um por eixo)
PotênciaMotor 1: 190 kW (258 cv); Motor 2: 360 kW (490 cv);
Potência combinada: 430 kW (585 cv)
BinárioMotor 1: 365 Nm; Motor 2: 710 Nm;
Binário máximo combinado: 900 Nm
Transmissão
Tração4 rodas motrizes
Caixa de velocidadesRelação fixa (uma relação)
Bateria
TipoIões de lítio (NCM)
Capacidade102 kWh
Carregamento
Pot. máxima em DC195 kW
Pot. máxima em AC22 kW
Tempo 10-80% 195 kW (DC)34min
Tempo 0-100% 22 kW (AC)5h30min
Chassis
SuspensãoFR: Independente, pneumática, triângulos sobrepostos;
TR: Independente, pneumática, multibraços
TravõesFR: Discos ventilados; TR: Discos ventilados
DireçãoAssistência elétrica; Eixo traseiro direcional
Dimensões e Capacidades
Comp. x Larg. x Alt.5475 mm x 2017 mm x 1573 mm
Distância entre eixos3210 mm
Capacidade da malan.d.
PneusFR: 255/40 R23; TR: 295/35 R23
Peso2890 kg
Prestações e consumos
Velocidade máxima250 km/h
0-100 km/h4,5s
Consumo combinado22,2-23,6 kWh/100 km
Autonomia530 km